O ataque a um hospital em Gaza e os agrotóxicos na água dos brasileiros
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🔸 Um ataque a um hospital na Cidade de Gaza, a mais populosa do território, deixou ao menos 500 pessoas mortas na tarde de ontem. Depois da explosão, os dois lados do conflito trocaram acusações, informa o Nexo. Segundo autoridades palestinas, o episódio, tido como o mais letal da guerra até então, foi causado por um ataque aéreo israelense. Porta-voz das Forças de Defesa de Israel, Jonathan Conricus respondeu: “Não bombardeamos [o hospital], e as informações de inteligência que temos sugerem que foi um lançamento fracassado de um foguete da Jihad Islâmica”. O grupo armado palestino, por sua vez, nega: “A ocupação [israelense] tenta encobrir os horríveis crimes e massacres que cometeram contra civis”, afirma Daoud Shehab, porta-voz da Jihad Islâmica.
🔸 Na presidência do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU), o Brasil tenta costurar uma resolução em meio ao conflito entre Israel e Hamas. A proposta de autoria do Itamaraty, segundo o Metrópoles, é acompanhada de perto pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O governo brasileiro dialoga com os demais países do conselho, sobretudo os que têm poder de veto – Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido e França. A versão proposta pelo Brasil condena o ataque do Hamas em 7 de outubro e, sem mencionar Israel, pede a revogação da ordem para que civis deixem o norte da Faixa de Gaza.
🔸 Os ataques a Israel ativam “uma cobertura jornalística exaustiva da mídia comercial brasileira sobre o conflito israelo-palestino”, escreve Igor Ojeda, jornalista e tradutor, em artigo no Le Monde Diplomatique Brasil. Ele pondera que a magnitude dos ataques do Hamas justificam a repercussão, mas aponta uma desproporção entre a cobertura dos atos do grupo palestino e as ações de Israel, estas apresentadas com menor destaque. “O foco desproporcional na natureza do Hamas escamoteia o verdadeiro debate que a maioria dos profissionais dos meios de comunicação se recusa a fazer: quais as causas do estopim de mais esse ciclo de violência? Buscar entender as condições conjunturais e estruturais que levam a essa situação não exclui a condenação das atrocidades cometidas pelo grupo islâmico palestino. Não compreendê-las, por outro lado, necessariamente contribui para a perpetuação do ciclo de violência”, afirma.
🔸 O Rio Negro atingiu ontem o nível mais baixo em 121 anos, desde que teve início a medição realizada pelo Porto de Manaus, em 1902. Na segunda-feira, o nível baixo já era considerado recorde, mas, em 24 horas, baixou mais 10 centímetros. A revista Cenarium conta que o estado do Amazonas tem 557 mil pessoas afetadas até o momento pela seca severa e explica que o problema tem relação com o fenômeno El Niño e o aquecimento do Atlântico Norte.
📮 Outras histórias
Em Pernambuco, um festival criou cotas para negros trabalharem de graça. O REC’n’Play, que começa hoje em Recife, abriu vagas de voluntariado voltadas a “pessoas pretas, periféricas, com deficiência e LGBTs”. Tão logo fez o anúncio, o evento, que conta com 20 patrocinadores, foi alvo de críticas. A Marco Zero reúne a repercussão e a tentativa (fracassada) de um pedido de desculpas da organização. O festival alegou que os postos voluntários são disputados e tentou garantir “a inclusão e a diversidade na ação”. Em resposta ao post do festival, Gleybson de Souza escreveu: “Vou te explicar o por quê de preto trabalhar ‘de graça’ ser tão ofensivo não. Se tu não entendeu até hoje, não vai ser eu que vou fazer tu entender”.
📌 Investigação
Milhões de reais em títulos “verdes” dos bancos europeus UBS e Santander foram destinados direta ou indiretamente para agricultores e pecuaristas acusados de abusos ambientais e violações de direitos humanos no Brasil. O Joio e O Trigo revela alguns dos nomes da lista, como o de Antônio Galvan, agricultor de grande porte e presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), acusado de envolvimento nos atos golpistas de 8 de janeiro. Galvan também já foi multado por desmatamento ilegal e por vender soja ilegalmente.
🍂 Meio ambiente
Uma mistura de 27 agrotóxicos está presente na água de 210 cidades brasileiras, como São Paulo, Fortaleza e Campinas. A Repórter Brasil cruzou informações do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua), do Ministério da Saúde, com testes feitos em 2022. A concentração de cada substância de forma isolada está dentro do limite previsto pelo Ministério da Saúde, mas a pasta não leva em consideração os riscos da interação entre os diferentes tipos de pesticidas. Segundo Cassiana Montagner, pesquisadora da Unicamp, as estações de tratamento não conseguem retirar os agrotóxicos da água na concentração encontrada no Brasil. A solução, portanto, seria evitar a contaminação – um desafio ante o uso excessivo de agrotóxicos no país.
Alvo de lobby pró-bombeiros, o projeto de lei para a criação da Política Nacional Integrado do Fogo tem sua tramitação prolongada. Essencial para prevenir e combater incêndios florestais, a proposta, considerada prioridade pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, teve 13 emendas adicionadas. Segundo a Agência Pública, o novo texto busca ampliar as atribuições dos corpos de bombeiros dos estados e do Distrito Federal na gestão da política nacional. Isso significa, na maioria dos casos, restringir o poder do Ibama e do ICMBio, órgãos que hoje implementam o Manejo Integrado do Fogo – uma técnica que alia o conhecimento científico e os saberes ancestrais de populações indígenas e tradicionais.
📙 Cultura
“Escrever é um modo de sangrar.” A escritora Conceição Evaristo esteve, ao lado do autor quilombola Nêgo Bispo, na Feira Literária das Periferias do Rio de Janeiro (Flup) para a mesa “Confluência e Escrevivência, muito mais que rimas” no último domingo. O Nonada descreve como a conversa traçou a importância dos saberes ancestrais para a construção da intelectualidade negra e indígena no país. Os escritores também destacaram o poder da oralidade nesse contexto e contaram sobre seus processos de escrita. “Eu não escrevo, eu fotografo a fala. Tiro foto da minha palavra”, afirmou Nêgo Bispo.
🎧 Podcast
O tráfico de africanos escravizados foi lucrativo para diversas famílias brancas pelo mundo e deu origem a grandes patrimônios. Três brasileiras contrataram dois historiadores para descobrir a origem da herança do tataravô: Domingos Custódio Guimarães, o Visconde do Rio Preto, um dos escravistas mais ricos da História do Brasil. O “Rádio Novelo Apresenta”, produção da Rádio Novelo, narra os esqueletos no armário da família e como elas decidiram iniciar a busca histórica, além de recuperar, a partir de um livro administrativo centenário, os nomes e rostos de centenas de seres humanos que, em vida, não foram tratados desse modo.
🏃🏾♂️ Esporte
O personal trainer Jhony Douglas iniciou um projeto que oferece treinamento gratuito para lutas e aulas de boxe em Itaquera, na zona leste de São Paulo. O Bronx Boxe Clube foi criado por ele em 2015 no Parque Linear do Córrego do Rio Verde, após o local não ter um cuidado contínuo do poder público. Segundo a Agência Mural, ao longo dos oito anos da iniciativa, mais de mil alunos já participaram de pelo menos uma aula de boxe. Jhony conta que, além de ocupar o espaço e oferecer uma opção de esporte para a comunidade, a atividade também proporciona momentos de descontração e conexão entre as famílias.