O depoimento do hacker sobre Bolsonaro e o legado de Chico Mendes
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🔸 O ministro Alexandre de Moraes determinou ontem à noite a quebra dos sigilos fiscal e bancário de Jair Bolsonaro (PL) e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. O pedido foi feito pela Polícia Federal, que apura indícios de que os recursos obtidos com a venda das joias sauditas teriam sido repassados ao ex-presidente em dinheiro vivo. A CartaCapital informa ainda que o ex-ajudante de ordens Mauro Cid vai afirmar que negociou as joias nos Estados Unidos a mando de Bolsonaro. A informação foi repassada pelo advogado de Cid, Cezar Bittencourt, ontem à noite para a revista Veja. As joias foram recebidas pelo ex-presidente em viagem oficial, e a PF entende que a tentativa de venda dos itens está diretamente ligada ao uso da estrutura do Estado para obtenção de vantagens.
🔸 Fecha-se cada vez mais o cerco contra Bolsonaro. O hacker Walter Delgatti, em depoimento à CPMI dos Atos Golpistas, fez uma série de afirmações que comprometem o ex-presidente. “Sim, eu sabia [que estava fazendo coisas erradas]. Lembrando que era ordem de um presidente da República”, disse. Segundo ele, Bolsonaro havia lhe prometido indulto caso assumisse a autoria de um suposto grampo telefônico com “conversas comprometedoras”, como o perdão que concedeu a Daniel Silveira, preso após fazer uma ameaça ao ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF). O Congresso em Foco lista as sete afirmações do hacker à CPMI.
🔸 Em vídeo: “Quem pediu para o senhor assumir a autoria do suposto grampo contra o ministro Alexandre de Moraes? Quem te disse que, se o senhor cometesse um ilícito, seria perdoado e receberia um indulto? Quem te deu carta branca para agir até mesmo na ilegalidade?” Para todas as perguntas anteriores, feitas pelo deputado Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ), Delgatti respondeu: “presidente Bolsonaro”. O Metrópoles mostra o momento das perguntas e as respostas do Hacker.
🔸 Em áudio: qual o peso das palavras de Delgatti e como elas podem ser usadas pelas autoridades na condução de um processo criminal? No “Durma com Essa”, podcast do Nexo, Conrado Corsalette e Letícia Arcoverde exploram as versões do hacker e explicam como Delgatti, que revelou os conluios da Operação Lava Jato em 2019, foi agora parar na trama que tentou deslegitimar a segurança das urnas eletrônicas brasileiras. Lá atrás, o hacker foi preso pela Operação Spoofing, da Polícia Federal, e deixou a cadeia sob medidas restritivas. Então, foi contratado pela deputada Carla Zambelli (PL-SP) e, depois, preso de novo neste ano por descumprir as medidas. Segundo a parlamentar, ela o contratou para cuidar de seu site e suas redes sociais. A versão dele, porém, é outra e envolve diretamente o ex-presidente.
📮 Outras histórias
As crianças negras da região Norte do Brasil são as mais afetadas pela má alimentação. Segundo estudo feito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com cerca de 15 mil crianças do Brasil menores de 5 anos, o desenvolvimento delas é prejudicado pela falta de alimentação ou pela alimentação adequada. Numa escala de avaliação em que o 1 é o ideal, o país possui um quociente de desenvolvimento de 0,93. O Notícia Preta destaca que, com mães com baixa escolaridade e com renda domiciliar de até meio salário mínimo, as crianças negras do Norte têm índice de desenvolvimento ainda mais baixo, de 0,88.
📌 Investigação
O Programa Abrace o Marajó é alvo de investigações pela Controladoria Geral da União (CGU). Criado durante a gestão de Damares Alves no Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, o projeto rendeu prejuízos aos cofres públicos estimados em R$ 2,5 milhões. A iniciativa deveria combater a vulnerabilidade social em municípios do Arquipélago do Marajó, no estado do Pará, mas a CGU identificou irregularidades e ações que não foram concluídas. A Agência Pública apurou que, entre os 12 dos 133 projetos, ações e iniciativas do Abrace o Marajó, apenas três foram implementados. Dos demais, um foi parcialmente realizado; sete não foram cumpridos e um teve irregularidades na execução. Divergências entre os orçamentos apresentados e os valores indicados como custos efetivos também estão sob investigação.
🍂 Meio ambiente
A Reserva Extrativista Chico Mendes tenta manter vivo o legado do seringueiro. A área, localizada no Acre, foi idealizada para a população local viver da extração da borracha e de outros produtos que não exijam o desmatamento. No entanto, tem crescido o número de propriedades rurais focadas na pecuária nos arredores. Segundo dados de agosto de 2021 a julho de 2022 do Prodes, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a Resex Chico Mendes já perdeu quase 5% de suas matas. O InfoAmazonia destrincha os obstáculos dos moradores da região para manter os limites territoriais da reserva. Angela Mendes, filha de Chico Mendes e ativista ambiental, afirma que esta não é uma luta apenas dos moradores locais: “Quem compra carne, quem compra madeira, soja, qual é a responsabilidade com essa comercialização, com a origem desses produtos? Pode estar tendo origem em conflito, em violência e violação de direitos humanos”.
A conservação e o uso sustentável dos recursos naturais do Pantanal é tema de um fórum em Campo Grande (MS) nesta semana. Com uma extensa programação, o evento discute a identidade pantaneira no mundo atual, a restauração e a agroecologia, a sociobiodiversidade, entre outros temas. O Fauna News conta que o encontro reúne pecuaristas, líderes comunitários, povos indígenas, acadêmicos, ONGs e até mesmo investidores e agentes de turismo. Com o tema “Pontes Pantaneiras: Conectando Pessoas, Cultura, Biodiversidade e Sustentabilidade”, o objetivo da iniciativa é aumentar a visibilidade do Pantanal, tanto nacionalmente quanto internacionalmente, e discutir soluções a partir do desenvolvimento sustentável. O evento é gratuito e ainda recebe inscrições para o dia de hoje.
📙 Cultura
A memória, os corpos e a crueldade são temas que atravessam a obra de Yoko Ogawa, escritora da literatura japonesa contemporânea. Em seu último lançamento, ela reúne em um único livro três novelas: “Diário de Gravidez”, “A Piscina” e “Dormitório”, que foram escritas aos 20 anos de idade. A Quatro Cinco Um entrevista a autora e conversa sobre a produção que recebeu o Akutagawa, prêmio literário japonês. Yoko fala sobre o lado obscuro de sua escrita e sobre como tenta romper as barreiras linguísticas e culturais entre o oriente e o ocidente: “Escrevo na esperança de que a imaginação do leitor revele paisagens que eu mesma não previ”.
Como nas comédias românticas, “Vermelho, Branco e Sangue Azul” suspende a descrença no amor. “A novidade é que se trata de um filme LGBTQIA+”, escreve Paulo Camargo em crítica para a Escotilha. Disponível na Amazon Prime Video, a narrativa é baseada no best-seller de Casey McQuiston. O desfecho faz dele uma obra política. Camargo explica que, “ao contrário de outras love stories cinematográficas gays, como ‘O Segredo de Brokeback Mountain’ e ‘Me Chame pelo Seu Nome’, ‘Vermelho, Branco e Sangue Azul’, não tem um desfecho triste, sombrio, pessimista”. Ele completa: “São a alegria e a esperança que impulsionam os personagens e o próprio filme, como nos melhores contos de fada”. Na ficção, Alex, filho da presidente dos Estados Unidos, e o príncipe Henry, quarto na linha de sucessão ao trono britânico, descobrem-se bissexual e homossexual, respectivamente.
🎧 Podcast
A energia renovável abre espaço para o hidrogênio verde. Philipp Hauser, do E+ Transição Energética, explica as formas de utilizar esta alternativa na indústria no “Economia do Futuro”, produção da Rádio Guarda-Chuva. Melina Costa conversa com o especialista sobre como realizar as mudanças energéticas na prática. “Quase 20 países já apresentaram planos de longo prazo para o investimento na cadeia do hidrogênio verde. E o Brasil, com mais de 80% da sua matriz elétrica baseada em fontes limpas, condições naturais favoráveis para novas usinas solares e eólicas, e infraestrutura portuária para exportação, é um candidato natural a protagonista nessa nova economia”, explica Hauser.
💆🏽♀️ Para ler no fim de semana
Fugindo de governos autoritários, Ruy Guerra, cineasta luso-brasileiro, passou por Moçambique, Portugal e Brasil. Nascido em 1931, vivenciou o Salazarismo, movimento do ditador que governou Portugal e os territórios portugueses entre 1933 e 1975. Na época, como diz, Portugal era o reduto do fascismo. Mas, ao buscar o Brasil como refúgio, deparou-se com a realidade da ditadura, entre 1964 e 1985. O cineasta começou a enfrentar o regime autoritário a partir da produção de obras cinematográficas. “Os Fuzis”, por exemplo, simboliza o Cinema Novo, abordando questões como fome, militarismo e a desigualdade social. A Ponte conta como o documentário “Tempo Ruy” retrata a vida do diretor a partir de seu contato com a cultura brasileira, suas produções artísticas e também do combate aos governos autoritários.