Os grupos extremistas nas redes e o trabalho doméstico no país
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
🔸 Sem lei que regule as redes sociais, grupos extremistas seguem disseminando discurso de ódio nas redes, sem qualquer tipo de moderação por parte das plataformas. É o que indica um mapeamento do Global Project Against Hate and Extremism (Projeto Global Contra o Ódio e o Extremismo) ao qual a Agência Pública teve acesso. Segundo o levantamento, existem mais de 20 organizações, muitas delas ativas no Facebook ou no X. Coordenadora do estudo, Heidi Beirich afirma que houve uma “escalada de grupos extremistas no Brasil à medida que as mídias sociais passaram a ser usadas mais por grupos e indivíduos para espalhar medo, desinformação e conteúdo desumanizante”. A maior parte dos grupos mapeados está em São Paulo. Rio de Janeiro e Santa Catarina aparecem em seguida. A reportagem lista quais são os grupos e mostra quem é seu principal alvo: a população LGBTQIA+.
🔸 Também seguem no Facebook fakes sobre eleições que já foram derrubadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Apesar de uma ordem judicial ter ordenado a remoção de links em redes como Twitter, Facebook e Instagram, entre outras, o mesmo conteúdo foi postado, à época, em outras publicações do Facebook, disponíveis ainda hoje. A Lupa apurou que ao menos quatro posts virais com dados inverídicos sobre fraudes no pleito de 2022 seguem no ar – e somam mais de 274 mil visualizações.
🔸 O número de brasileiros que não gostam de receber ligações inesperadas no celular está aumentando. Entre novembro de 2023 e março deste ano, passou de 26% para 30% o grupo que prefere sempre ser avisado antes por meio de mensagem de texto. A informação é da nova pesquisa realizada pela Mobile Time e Opinion Box. O incômodo implica numa mudança de comportamento na hora de fazer ligações: 25% dizem que sempre perguntam antes por mensagem se podem ligar, mesmo que seja para pessoas próximas. As ligações indesejadas de telemarketing ou feitas por robôs ajudam a engrossar a mudança de hábito.
🔸 “Se fosse uma profissão de mulheres brancas, nós já tínhamos avançado muito. Há um retrocesso gigantesco dessa abolição não conclusa. Quem eram os escravizados domésticos hoje são as trabalhadoras domésticas com o mesmo requinte de crueldade.” A afirmação é de Preta Rara, ex-empregada doméstica e autora do livro “Eu, Empregada Doméstica”. A revista Afirmativa conversa com ela e com a coordenadora da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas, Luiza Batista, sobre esse trabalho no Brasil. Em 2023, o país tinha mais de 6 milhões de pessoas exercendo esse tipo de serviço – 91,1% são mulheres, e a maioria delas (65%), negras. Entre os muitos desafios, está a fiscalização: como é exercido em domicílio, as inspeções só podem ser feitas a partir de denúncias ou com autorização do dono. “Essas casas são de pessoas que moram em bairros ‘bons’, nobres, que têm uma boa conta bancária, a pele clara, família tradicional. Na periferia, a permissão é meter o pé na porta, infelizmente”, diz Luiza Batista.
🔸 Começou ontem a primeira Conferência Internacional das Favelas-20, que reúne representantes de comunidades de diversos países no Complexo da Penha, no Rio de Janeiro. A proposta é debater desafios e soluções para esses territórios, em preparação para a cúpula do G20, marcada para novembro, também no Rio. Segundo a Alma Preta, o encontro é uma oportunidade para que as favelas se organizem e pautem a cúpula sobre temas caros às comunidades, como sustentabilidade, direitos humanos e redução da desigualdade.
📮 Outras histórias
A nomeação de um indicado de Arthur Lira (PP-AL) para o Incra em Alagoas motivou protestos de integrantes de movimentos pela reforma agrária. Eles ocuparam a sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária em Maceió. Depois da demissão de Wilson Cesar Lira, primo de Lira, para o cargo de superintendente, a expectativa era pela escolha do servidor de carreira da autarquia, José Ubiratan. Ele chegou a ser nomeado como substituto, mas, uma semana depois, foi demitido, informa a Mídia Caeté. O novo escolhido, Junior Rodrigues do Nascimento, é visto com desconfiança. “Um superintendente que tem ligação direta de contrato na construção de casas, inclusive com problemas nessa construção”, aponta o coordenador da Comissão Pastoral da Terra, Carlos Lima.
📌 Investigação
O megaprojeto do Terminal Portuário de Alcântara, na Ilha do Cajual, no Maranhão, está 87% sobreposto ao Território Quilombola Vila Nova, com linhas férreas, subestações de energia e galpões. A comunidade onde vivem 51 famílias não teve acesso à consulta prévia, livre e informada como prevê a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho, da qual o Brasil é signatário. O Intercept Brasil revela que os quilombolas estão prestes a assistir ao início das obras, com investimento bilionário e duas autorizações federais outorgadas. O projeto foi pensado para escoar soja e outras commodities do agronegócio, além do minério de ferro, extraído pela Vale da Serra dos Carajás, no Pará. No dia 2 de janeiro, a empresa responsável pela obra, a Grão-Pará Maranhão (GPM), não havia entregue todos os documentos sobre os impactos socioambientais da construção.
🍂 Meio ambiente
Até outubro de 2023, apenas cinco dos 27 portos em operação no rio Tapajós, nas cidades de Santarém, Itaituba e Rurópolis, no oeste do Pará, possuem documentação completa do processo de licenciamento ambiental. É o que mostra o estudo “Portos e Licenciamento Ambiental no Tapajós: irregularidades e violação de direitos”, feito pela organização Terra de Direitos. Segundo O Eco, o dossiê levou em conta portos públicos e privados com análises a partir do site da Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (Semas) e da Lei de Acesso à Informação (LAI). Além disso, 16 possuem Licença de Operação sem apresentar Licença Prévia ou Licença de Instalação.
📙 Cultura
“O documentário nasce para combater a ideia de que nós, pessoas com deficiência, não temos desejos e nem podemos ser desejados”, afirma Daniel Gonçalves, diretor do filme “Assexybilidade”. A produção ouve os relatos de 15 pessoas com deficiência sobre suas histórias de flerte, namoro, masturbação, sexo e capacitismo. Em entrevista à Emerge Mag, o cineasta fala sobre o estigma da sexualidade de pessoas com deficiência e sobre a recepção do público. “Os festivais de filmes LGBT são mais abertos à pauta PCD, mas isso não significa que PCDs não sofram preconceito dessa outra comunidade. Um cadeirante personagem do filme conta que, após se assumir publicamente gay, sentiu que aumentaram os sentimentos de condescendência e pena por parte das pessoas do seu entorno. Foi como se ele não pudesse ser parte de dois grupos minorizados ao mesmo tempo”, conta.
🎧 Podcast
Os transportes representam cerca de 9% das emissões de gases do efeito estufa do Brasil. Segundo a professora do Instituto de Química da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Amanda Gondim, a parcela mais fácil de descarbonizar nesse setor já foi feita, a partir do uso de etanol e biodiesel. A mais complexa e mais cara ainda é um desafio. Trata-se do transporte aéreo e marítimo, cujas frotas só são alteradas a cada 25 anos. No “Economia do Futuro”, produção Rádio Guarda-Chuva, Gondim detalha a atual fase de desenvolvimento tecnológico de novos combustíveis para esses segmentos e as propostas do Projeto de Lei dos Combustíveis do Futuro, aprovado na Câmara e atualmente em tramitação no Senado.
🧑🏽🏫 Educação
Voltada a educadores, a publicação “Caminhos para pensar o Brasil com Lenira Carvalho” foi lançada no último sábado (27), Dia Nacional das Trabalhadoras Domésticas, e reúne roteiros para abordar em sala de aula questões como escravidão, racismo e direitos trabalhistas. O Catarinas conta que a publicação se baseia no legado da sindicalista Lenira Carvalho (1932-2021), figura crucial na luta pelos direitos das trabalhadoras domésticas. Além de abordar a vida da ativista, o material destaca a importância dessas trabalhadoras para o Brasil, colocando suas ideias em diálogo com outras fontes, como notícias de jornal, dados estatísticos, vídeos e fotografias.