A greve dos entregadores de aplicativo e as terras indígenas na COP30
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🔸 O número de trabalhadores que atuam em plataformas digitais no Brasil cresceu quase 50% entre 2021 e 2024. São 2,3 milhões de pessoas, segundo estudo da Universidade Federal do Paraná (UFPR). A maior parte trabalha para o iFood, que detém quase 90% do mercado de entregas. Ontem, os entregadores organizaram uma paralisação nacional, batizada de Breque Nacional dos Apps 2025. A Agência Pública explica que eles pedem o aumento da remuneração para R$ 2,50 por km rodado, taxa mínima de R$ 10 por corrida e um limite de um raio de três quilômetros para entregas feitas em bicicleta. A mobilização, que deve durar até hoje às 22h, está confirmada em 200 cidades do país. Em São Paulo, o ponto de encontro dos protestos é a sede do iFood, em Osasco. “Nossa luta não é por remuneração, é por dignidade do trabalho. Quem trabalha 12 horas porque quer enriquecer? Até quando vamos morrer para sobreviver de maneira minimamente digna”, afirma Alexandre Santos, um dos líderes da organização nacional.
🔸 “O trabalhador está tão no limite que a gente não pode esperar ou exigir da categoria uma paralisação que vá durar um mês.” Nicolas Souza Santos é entregador em Juiz de Fora (MG) e liderança da Aliança Nacional dos Entregadores por Aplicativo (Anea). Ele defende que o objetivo da paralisação atual é atingir a imagem do iFood, além, é claro, de pressionar por reajustes nas taxas, depois de três anos sem aumento. Em entrevista ao Intercept Brasil, ele avalia os “breques” anteriores, desde 2020, e afirma que existiram avanços, embora a luta seja desigual: “É um Tupi de Juiz de Fora jogando contra o Real Madrid, e a gente tem plena consciência disso”. Ele critica a falta de ação do governo Lula, que prometeu regulamentar o trabalho por apps, mas conduziu um “fracasso retumbante” no grupo de trabalho, sem avanços concretos para os entregadores.
🔸 A Amazônia Legal perdeu o equivalente a 425 campos de futebol só em fevereiro deste ano, segundo Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), do Imazon. Roraima, Mato Grosso e Pará responderam por 82% da destruição. A degradação florestal por queimadas e extração de madeira também disparou, afetando 211 km² – maior marca histórica para o mês. A revista Cenarium destaca que o aumento do desmatamento em fevereiro acende um alerta antes da chegada do período de seca, que começa entre maio e junho. Especialistas temem que, se não houver medidas imediatas, o cenário piore nos próximos meses, com queimadas ainda mais críticas do que nos últimos dois anos. “Não seria bom para o Brasil fechar este calendário com números em alta em um ano tão decisivo como o da COP30”, afirma Carlos Souza Jr., coordenador do Programa de Monitoramento da Amazônia do Imazon.
🔸 Enquanto isso… O primeiro leilão de concessão para reflorestamento na Amazônia teve baixa adesão e recebeu apenas duas propostas, informa o Reset. O modelo inédito realizado pelo governo do Pará acende um sinal amarelo sobre a demanda para futuras concessões. O governo federal também está desenhando um edital para recuperar a Floresta do Bom Futuro, perto de Porto Velho (RO), e o próprio governo paraense planeja novos leilões ainda em 2025. “Não foi atrativo. O desenvolvedor precisa conseguir financiamento e entrar com a expertise, além de lidar com o alto custo burocrático e ter o compromisso com o Estado de um negócio ainda muito novo”, afirmou o executivo de uma empresa que desenvolve projetos (sob condição de anonimato). A expectativa é que as áreas sob jurisdição federal possam atrair mais interessados devido a condições logísticas mais favoráveis.
📮 Outras histórias
Primeira escola de agricultura urbana voltada para mulheres da periferia do Recife, a Escola Marias tem transformado a vida de suas alunas por meio da agroecologia. Criada pelo Centro Sabiá em parceria com o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e a Universidade Federal Rural de Pernambuco, a iniciativa oferece formação prática e teórica em hortas comunitárias de cinco territórios da Região Metropolitana da capital pernambucana. A Marco Zero explica que o curso tem quatro turmas previstas até 2026, com 25 alunas cada. Em dois módulos, as alunas aprendem sobre a produção e a transformação dos alimentos. “Você se sente bem quando começa a entender o verde. Então é isso, a minha vida mudou muito […] E a gente não só tem comida, como a gente tem uma farmácia viva aqui”, diz Aldenize Maria da Silva, de 51 anos.
📌 Investigação
Com R$ 1,3 milhão arrecadado para o Fundo de Defesa da Aviação Agrícola, o Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag) tem atuado em casas legislativas de todo o país para reverter leis que proíbem a pulverização aérea de agrotóxicos, inclusive de votações já concluídas. Levantamento d’O Joio e O Trigo revela que as empresas associadas ao Sindag e seus sócios acumulam R$ 34,6 milhões em multas do Ibama. Entre 1996 e 2023, foram 123 autuações ambientais. As infrações mais frequentes foram relacionadas à poluição ambiental, uso de pesticidas em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou regulamentos, funcionamento de atividade potencialmente poluidora sem licença dos órgãos ambientais competentes e armazenamento ou descarte irregular de embalagens de agrotóxicos.
🍂 Meio ambiente
A demarcação de terras indígenas como uma das metas da política climática do Brasil é um dos principais objetivos dos povos originários para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que acontece em novembro, em Belém (PA). A Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), que representa 180 povos dos nove estados da Amazônia Legal, tem se articulado para defender essa estratégia. Segundo a InfoAmazonia, a entidade vai compor o Círculo de Liderança Indígena, grupo de representantes técnicos que vão aconselhar os negociadores durante a conferência. “Está comprovado que as terras indígenas são os territórios que menos desmataram e que conseguem aprisionar uma grande quantidade de carbono, impedindo sua liberação na atmosfera. Então, se as terras indígenas têm tudo isso a oferecer, por que não torná-las parte da política climática, uma política pública dos países?”, questiona Toya Manchineri, coordenador executivo da Coiab.
📙 Cultura
Conhecido por sua efervescência cultural, Pernambuco é o estado do Nordeste com mais bens imateriais registrados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), além de outros preservados pelo próprio estado. A Cajueira reúne alguns dos patrimônios culturais imateriais bem conhecidos na identidade pernambucana, como o frevo, o maracatu de baque solto e o bolo de rolo. O estado também a produção artesanal de um bolo de noiva registrado: adaptação de bolo de frutas britânico, a receita pernambucana tem uma massa escura que leva ameixa, frutas cristalizadas e vinho, coberta por glacê e uma camada de marzipā.
🎧 Podcast
“Para mim, é muito pouco resumir Oswald de Andrade a 22 e ao próprio modernismo. Oswald de Andrade é muito maior do que isso”, afirma o escritor e jornalista Lira Neto, que lançou recentemente a biografia “Oswald de Andrade: Mau Selvagem”. Por mais de três anos, o autor mergulhou na vida e nas contradições de um dos líderes do movimento modernista, que revolucionou a literatura e as artes plásticas brasileiras a partir da Semana de Arte Moderna de 1922. No “451 MHz”, produção da Quatro Cinco Um, Neto analisa as camadas de Oswald e sua herança para a cultura brasileira: “O que é, no fundo, o grande legado de Oswald de Andrade? É eliminar essas fronteiras entre uma série de interditos e interdições, seja entre o erudito e o popular, entre a cultura de massa e a cultura dita clássica, entre o nacional e o universal, entre o bom gosto e o mau gosto. Isso é antropofagia”.
👩🏽🏫 Educação
A construção de um espaço saudável de convivência escolar e social é uma saída contra a escalada de violência nas escolas nos últimos anos. Esse cenário explica o sucesso de “Adolescência”, série lançada recentemente pela Netflix, em que são abordados temas como discursos de ódio, machismo, racismo e bullying, a partir de um menino que assassina seu colega. O Porvir destaca a função da escola na prevenção da violência. “Embora a família tenha um papel importante na formação moral e no desenvolvimento social, por ser um espaço de socialização primário, oferece às crianças convivências que são limitadas no seu próprio universo. Enquanto isso, a escola é o laboratório social mais potente pelo qual a gente transita”, afirma a advogada Cléo Garcia, que dedicou seu mestrado a entender esses ataques e pensar em caminhos para a evitá-los. Práticas colaborativas e inclusivas e o investimento em esportes e artes são algumas das sugestões da pesquisadora.