Os gastos do governo com o TikTok e o maior devastador da Amazônia
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🔸 Desde o início do mandato, o governo Lula gastou mais em campanhas no TikTok do que nos últimos dois anos somados. É a segunda rede social com mais gastos diretos feitos pela gestão neste ano, atrás apenas da Meta (Facebook e Instagram). O Núcleo analisa os dados, considerados um termômetro das redes preferenciais do governo. Em relação aos anos de Jair Bolsonaro (PL), o que se vê é uma mudança estratégica, já que a gestão anterior gastava mais com Twitter e Google. Ao todo, o governo Lula despendeu diretamente mais de R$1,7 milhão com redes sociais de janeiro até agora. O órgão que mais fez anúncios foi o Ministério da Saúde.
🔸 Num intervalo de oito dias, ameaças de estupro chegaram a parlamentares lésbicas de diferentes estados do Brasil. Entre elas, estão a deputada federal Daiana Santos (PCdoB-RS), a deputada estadual Rosa Amorim (PT-PE) e a vereadora Monica Benício (PSOL-RJ). Por e-mail, foram alvo de textos de teor violento entre os dias 8 e 15 de agosto – mês em que se comemora a visibilidade lésbica. O Nexo traz uma cronologia das ameaças e das medidas tomadas pelas parlamentares, conversa com especialistas sobre os casos e lembra que ofensas contra pessoas LGBTQIA+ foram reconhecidas pelo Supremo Tribunal Federal como crimes de racismo e injúria racial. “Quando a mulher se coloca em uma posição de estar em um espaço normalmente masculino, como a política, ela é vista com estranheza. O fato de ser uma mulher lésbica é ainda mais audacioso na cabeça dos homens que comandam a política, que têm medo de perder espaço e poder”, afirma a cientista política Larissa Peixoto Gomes, pesquisadora do Wales Governance Centre, da Universidade de Cardiff, no País de Gales.
🔸 As denúncias de assédio sexual e moral em órgãos do governo federal atingiram recorde neste ano, segundo a Controladoria-Geral da União (CGU). De janeiro até a semana passada, foram 4.162 registros, número mais alto desde o início da série histórica, em 2017. O Metrópoles apurou que são cerca de 17 queixas por dia, e a maior parte dos casos é de assédio moral. Quanto aos órgãos onde ocorrem as denúncias, a própria CGU lidera a lista, seguida pelo Ministério da Saúde. Segundo Vânia Vieira, secretária-executiva da CGU, os altos registros se devem a uma política de incentivo a denúncias. Antes, ela afirma, o assunto não era sequer abordado internamente.
🔸 “Vocês pediram tanto e falaram tanto de joias que, em breve, teremos lançamento Mijoias pra vocês. Vou fazer uma limonada docinha desse limão”, disse Michelle Bolsonaro em evento do PL Mulher, em Pernambuco. A ex-primeira-dama é investigada no caso das joias recebidas da Arábia Saudita e foi mencionada em mensagens encontradas no celular de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Michelle tenta emplacar a teoria de que as apurações vêm sendo usadas para tirar o foco da CPI dos atos de 8 de janeiro. A CartaCapital lembra que as duas investigações, porém, estão perto de se cruzar: parlamentares suspeitam que o dinheiro da venda das joias pode ter sido usado para financiar os atos golpistas.
📮 Outras histórias
João Victor, de 23 anos, é mototaxista no Piscinão de Ramos, no Rio de Janeiro. Diz que se encontrou trabalhando sobre duas rodas: “Gosto muito de andar de moto, então acabei achando meu lugar. Sou muito feliz nessa profissão, não me vejo fazendo outra coisa”. O serviço de mototáxi é fundamental nas favelas, como narram ao Maré de Notícias trabalhadores e usuários do transporte no Complexo da Maré, que abrange 16 comunidades no Rio. Moradora da Nova Holanda, Leda Conceição, de 50 anos, recorre ao serviço para levar o neto à escola todos os dias: “Não consigo viver sem, virou meu principal meio de transporte e do meu neto também”. Os mototaxistas, por sua vez, relatam os desafios da profissão, dos acidentes aos valores cada vez menores das corridas.
📌 Investigação
Apontado pela PF como o “maior devastador da Amazônia”, o pecuarista Bruno Heller forneceu gado para o frigorífico Frialto, que atende o Carrefour. Ele e a família acumulam R$ 27 milhões em multas ambientais. No início do mês, a Polícia Federal prendeu Heller por realizar “lavagem de gado”, esquema que consiste no repasse de bois criados em locais irregulares para áreas consideradas “ficha limpa” e, posteriormente, vendidos para grandes frigoríficos. A Repórter Brasil revela que as fazendas do clã foram multadas por desmatamento ilegal e suspeita de grilagem e, entre 2021 e 2022, venderam animais para o frigorífico Vale Grande, do grupo Frialto. O abatedouro forneceu carne ao Carrefour em 2021 e 2023, segundo o aplicativo “Do Pasto ao Prato”. Desde 1990, Bruno Heller e parentes acumulam 43 autuações ambientais do Ibama.
🍂 Meio ambiente
Agricultores afetados por mudanças climáticas terão regras mais flexíveis para conseguir crédito rural. O Conselho Monetário Nacional aprovou a medida, que reduz exigências para lavouras em áreas de risco, até o primeiro semestre de 2024. A Agência Nossa explica que o colegiado também anunciou a elevação de duas para três vezes a possibilidade de renegociação de cada operação de crédito rural de investimento com recursos do BNDES. Uma resolução que reestrutura as condições de financiamento via Fundo Nacional sobre Mudança do Clima também foi aprovada. O objetivo é que as medidas assegurem recursos para o apoio de projetos e empreendedores em prol da mitigação das mudanças climáticas.
Um dos peixes mais vistos na costa brasileira, o “sargentinho” (Abudefduf saxatilis) ganhou esse apelido por ter listras pretas, prateadas e um toque de amarelo ao longo do corpo. Para entender sua abundância no litoral do país, pesquisadores das universidades federais de Santa Catarina (UFSC) e Fluminense (UFF) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) estudaram pela primeira vez o comportamento alimentar natural da espécie. A Agência Bori conta o que concluíram os cientistas, que tiveram o estudo publicado na revista Neotropical Ichthyology, na semana passada. Spoiler: o segredo do sargentinho está na alimentação.
📙 Cultura
Pernambuco abriu inscrições para os editais culturais pela Lei Paulo Gustavo. O investimento abrange projetos de até R$ 70 mil. A Revista O Grito! informa que as inscrições, abertas na última sexta, vão até 8 de setembro, e o governo do estado tem até 31 de dezembro para executar todo o cronograma financeiro dos trabalhos selecionados. Para os profissionais do setor, o prazo para o envio dos projetos (12 dias) é curto. Em postagens nas redes sociais e em organizações de classe, a queixa é frequente. “O ponto comum é a falta de diálogo e o pouco tempo para leitura e inscrição, quando [o governo estadual] teve os recursos depositados em conta por mais de 30 dias”, escreveu um artista nas redes.
As questões atemporais e da contemporaneidade abordadas por Santiago Nazarian já são a marca da escrita do autor. Com 13 livros publicados, sua mais recente obra, “Veado Assassino”, cria uma fantasia a partir de um jovem não-binário que assassina um presidente de extrema-direita. Em entrevista à Escotilha, o autor reflete sobre a forma como os jovens compreendem as relações e conta como retratou isso na nova obra. “Eu queria me basear mais nesse formato contemporâneo da comunicação de redes sociais. E repare que é um livro só de diálogos com um protagonista que não quer contar sua história, muitas vezes é monossilábico. Queria exercitar outro talento como escritor, não da eloquência, mas do naturalismo e da construção de personagem”, afirma.
🎧 Podcast
Um streaming de cinema autoral, cult e independente. É como se define a plataforma Filmicca, cujo catálogo reúne obras de autores indicados a festivais de cinema. Produção da Rádio Guarda-Chuva, o “Sessão Cine Garimpo” lista três curta-metragens disponíveis no serviço de streaming: “Pegue e corra”, “Parvaneh” e “Sem Céu”. Os títulos abordam a realidade de mulheres no Quirguistão, na Suíça e no México, respectivamente. A jornalista Suzana Vidigal, apresentadora do programa, descreve as três obras e explica como as diretoras retratam a segurança, a vida financeira e a liberdade das mulheres nesses territórios.
✊🏽 Direitos humanos
“As religiões sempre fizeram parte do mundo do crime. O próprio nome de Jesus já foi usado há muito tempo em contextos de violência”, explica a pesquisadora Viviane Costa, autora do livro “Traficantes Evangélicos: Quem São e a Quem Servem os Novos Bandidos de Deus”. Em entrevista à Ponte, ela conta que, no início da pesquisa para a obra, pretendia mostrar que os “traficantes evangélicos” – como os que dominaram a região de Parada de Lucas, no Rio de Janeiro, e fundaram o “Complexo de Israel”, comandado pelo pastor e traficante Álvaro Malaquias Santarosa, o Peixão – buscavam uma associação impossível de Jesus Cristo com a violência. Mas logo passou a compreender “como o imaginário desse novo Jesus, guerreiro, valente, vitorioso, com características do Deus do Antigo Testamento” aparece nas ruas das favelas. Para a autora, a teologia entre criminosos não é muito diferente da “teologia perigosa, intolerante, de cerceamento de direitos e de liberdades” de grupos que formam as “bancadas da Bíblia” nos parlamentos.