A goleada do Brasil, o choro de Bolsonaro e a semana de Lula
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
🔸 Quatro gols em 36 minutos. Vini Jr., Neymar, Richarlison e Lucas Paquetá marcaram logo no início da partida e deram ao Brasil a vitória de 4 a 1 contra a Coreia do Sul, na Copa do Mundo do Catar. A Seleção não só garantiu vaga nas quartas de final do Mundial, como fez um primeiro tempo avassalador, como define o Esporte News Mundo. Nos outros 45 minutos da disputa, porém, o time tirou o pé do acelerador, o jogo esfriou, e a Coreia marcou seu único gol na partida. O próximo confronto do Brasil será na sexta-feira, contra a Croácia.
🔸 Vini Jr. dançou, sim. O jogador abriu o placar aos dez minutos e foi acompanhado dos colegas numa dancinha. Não era só comemoração, mas também resistência. A Alma Preta lembra que, no Real Madrid, o jogador foi alvo de ataques racistas depois de comemorar um gol dançando, em setembro passado. Um comentarista esportivo então afirmou que o atleta precisava deixar de “fazer macaquices” e “respeitar” os colegas de profissão.
🔸 Em Brasília, briga de golpistas: o blogueiro bolsonarista Oswaldo Eustáquio acusa lideranças do acampamento antidemocrático em frente ao quartel do Exército na capital federal de cometer estelionato e desvio de R$ 1,9 milhão. Segundo ele, o esquema de desvio de recursos é liderado por Ana Priscila Azevedo, outra blogueira bolsonarista. Recebendo em PIX e em dinheiro, ela usaria as verbas que recolhe com os apoiadores dos atos para enriquecimento próprio, e não para bancar a estrutura do acampamento, como o aluguel de banheiros químicos. A CartaCapital detalha o imbróglio.
🔸 Jair Bolsonaro (PL) apareceu – e chorou. Recluso desde a derrota nas urnas, ele participou ontem de evento das Forças Armadas, e uma câmera registrou seus olhos cheios d’água depois de cumprimentar um casal na cerimônia. O presidente não discursou. A última vez em que falou à imprensa foi em 1º de novembro. De lá para cá, aliás, ele trabalhou apenas 36,5 horas, segundo a agenda oficial do Palácio do Planalto. O Sul21 traz um gráfico com a repercussão do choro nas redes sociais. Grupos bolsonaristas foram os que mais comentaram, quase sempre em tom apiedado. Já as reações do outro campo lembraram falas do presidente em meio às milhares de mortes durante a pandemia. Em março de 2021, por exemplo, ele disse: “Chega de frescura, de mimimi. Vão ficar chorando até quando?”.
🔸 O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), por sua vez, terá uma semana de intensa articulação política em Brasília. Além de trabalhar pela PEC da Transição, que deve ser votada até sexta-feira no Senado, o petista terá um encontro com o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, para tratar da reunião com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, prevista ainda para este mês. O Congresso em Foco informa ainda que Lula vai concentrar forças no desenho de seus ministérios, em conversas com partidos políticos que busca atrair para sua base de apoio parlamentar.
🔸 Um prejuízo para a fiscalização da corrupção no país: o PL do Lobby foi aprovado a toque de caixa na Câmara, depois de um processo marcado por manobras e atropelos. Pouco antes do fim da votação, o deputado federal Lafayette de Andrada (Republicanos - MG) incluiu um parecer que impede o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) de fiscalizar parentes e “estreitos colaboradores” de pessoas expostas politicamente, como companheiros, filhos, pais, enteados, sócios e assessores. Além de detalhar o projeto, a Agência Pública dimensiona o risco: se já estivesse em vigor, a lei que regulamenta o lobby impediria, por exemplo, a descoberta de casos como o das “rachadinhas” no gabinete de Flávio Bolsonaro (PL-RJ) na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
📮 Outras histórias
A Estátua de Mãe Stella de Oxóssi, em Salvador, foi incendiada na madrugada de domingo. Inaugurada em abril de 2019, a peça foi instalada em homenagem à Mãe Stella, que morreu aos 93 anos, em dezembro de 2018. O portal Todos Negros do Mundo lembra que ela foi uma das principais yalorixás do país, sacerdotisa e grande conhecedora das tradições do Candomblé. Segundo o Notícia Preta, a prefeitura confirmou que a origem do incêndio foi criminosa, e o prefeito Bruno Reis apontou o ato como fruto de intolerância religiosa. A escultura foi retirada do local e será restaurada.
Conhecida como Dona Celma, Maria Lucelma de Lima, de 62 anos, dedicou mais da metade de sua vida à luta pela regularização e urbanização da comunidade da Serrinha, em Florianópolis (SC). Moradora do local desde 1985, Dona Celma é uma das lideranças que conversou com oficiais de justiça e policiais, que, em 2012, chegaram à favela com as mãos no gatilho. Deixaram o local depois do compromisso dos moradores na busca pela regularização de Serrinha, frequentemente estigmatizada e criminalizada pelo alto escalão da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), vizinha da comunidade. O Portal Catarinas narra a trajetória de Dona Celma.
📌 Investigação
A saúde de Lula está no centro de uma teoria conspiratória que tem ganhado proporções cada vez maiores. A fake news de que o presidente eleito morreu circula desde antes do segundo turno, mas ganhou força após sua eleição, no dia 30 de outubro. O Aos Fatos revela que a teoria furou a bolha de grupos bolsonaristas no Telegram e tem sido amplamente difundida com apoio dos influenciadores nas redes sociais, chegando a ter um pico de buscas no Google. Nas comunidades da extrema-direita que não acreditam que o petista tenha sido substituído por um sósia, borbulham desconfianças de algo estar errado com sua saúde.
🍂 Meio ambiente
Enquanto promete reconstruir a política ambiental do país, Lula oferece apoio a Arthur Lira (PP-AL) para sua reeleição à Presidência da Câmara. O deputado estava à frente da Casa nos dois últimos anos da gestão Bolsonaro, quando projetos de interesse da bancada ruralista avançaram. O Eco apurou que a aproximação do PT com o líder do centrão é vista como um desafio para a pauta ambiental no novo governo. “Lira é o herdeiro da política de deixar a boiada passar, implementada pelo governo Jair Bolsonaro e seu ex-ministro do Meio Ambiente, o agora deputado federal eleito Ricardo Salles (PL-SP)”, afirma uma fonte em condição de anonimato. “Ele é a eleição de uma motosserra sentada na cadeira da presidência da Câmara”, completa.
A COP15, ou Conferência da Biodiversidade, começa amanhã, em Montreal, no Canadá, cercada de expectativas. Articuladores do Acordo de Paris já divulgaram, no mês passado, durante a COP27, um documento que soa como um alerta sobre a urgência de “intensificar suas ações para enfrentar a perda acelerada da natureza”. As populações de vertebrados, por exemplo, tiveram uma queda de 69% em média desde 1970. O Projeto Colabora explica que a COP da biodiversidade ocorre a cada dois anos e lembra que esta edição vai repassar os Objetivos de Biodiversidade de Aichi (Japão), adotados em 2010. À época, os governos se comprometeram a cumprir 20 metas, como a redução pela metade da perda de habitats naturais. Spoiler: segundo a ONU, nenhuma delas foi cumprida.
📙 Cultura
Matriarca do samba em São Mateus, na zona leste de São Paulo, Maria Aparecida da Silva Carlos, conhecida como Tia Cida dos Terreiros, começou a cantar desde cedo. Quando chegou no então pequeno bairro da periferia, nos anos 1970, a região não tinha asfalto e saneamento básico. Ela movimentou a organização em torno da busca por melhorias, em plena ditadura militar. As reuniões da associação de bairro eram feitas às escondidas. O samba, que ela tanto cantava, era considerado vadiagem. A Agência Mural apresenta a história dos 92 anos de Tia Cida.
“O patriarcado me formou em um assediador / (...) / Ancestrais, diáspora de África nos ensinam que Ubuntu é amor. / Homem preto diga não aos hábitos do colonizador.” Esse é um pequeno trecho do “Poema Afro centrado”, de Jefferson Bernardo, que trabalha há mais de dez anos como porteiro e segurança patrimonial. Como escritor, Bernardo é um dos autores convidados pela Editora Copperlite para colaborar com a antologia de poesia “Slammer: Afronta - O melhor do Slam”. Ao Desenrola E Não Me Enrola, o escritor conta como passou a se aprofundar nas questões de raça e gênero.
🎧 Podcast
Era o final do ano de 2015 quando Cecília Olliveira, jornalista especialista em segurança pública e violência armada, percebeu que o Rio de Janeiro não coletava nem divulgava dados sobre as balas perdidas desde 2012. “Alguém tomou a decisão de não produzir isso mais”, afirma ela, que, então, empenhou-se em sistematizar tais informações. “Sobre chacinas e milícias” é o tema de mais um episódio da Rádio Escafandro, produção da Rádio Guarda-Chuva.
🙋🏾♀️ Raça e gênero
Mulher negra, periférica e lésbica, Luana Barbosa foi assassinada em abril de 2016, em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, por três policiais que a espancaram na frente de seu filho de 14 anos. Quando foi abordada pela polícia, Luana requisitou seu direito de ser revistada por uma agente mulher, o que lhe foi negado. Ela foi espancada com socos, chutes e pontapés, teve o rosto esfregado no chão, foi amarrada e jogada morta na viatura. O Le Monde Diplomatique Brasil analisa os marcadores de raça, gênero e sexualidade que atravessam todo o processo da morte de Luana.