O gasto com deputados afastados e a 'ecoansiedade' nos jovens da Amazônia
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🔸 No contexto da tensão entre Legislativo e Executivo nos últimos dias, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), cancelou a sabatina do advogado-geral da União, Jorge Messias, indicado por Lula (PT) para o Supremo Tribunal Federal (STF). O rito estava marcado para a próxima semana na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), seguida de votação em plenário. O Jota informa que o cronograma foi interrompido pela falta de envio de uma mensagem presidencial oficializando a indicação de Messias. Sem o documento, a CCJ não pode ler o parecer, abrir prazo para vista coletiva nem realizar a sabatina. Relator da indicação na CCJ, o senador Weverton Rocha (PDT-MA) considerou que o cancelamento do calendário “dá as condições para trabalhar na relatoria e fazer a construção da possibilidade de Jorge Messias de ser aprovado na sua sabatina”. Segundo o parlamentar, Lula irá procurar Alcolumbre para que possam dialogar e estabelecer um novo calendário e entregará a mensagem de indicação em mãos.
🔸 Sem uma ministra negra no STF, o debate racial no Judiciário fica desequilibrado, aponta o diretor de Litigância estratégica do Instituto de Defesa da População Negra, Djeff Amadeus. Na semana passada, a Corte formou maioria para reconhecer o racismo estrutural na sociedade brasileira e para adotar medidas estatais para o combate à prática. No entanto, não houve consenso quanto ao reconhecimento do estado de coisas institucionais – quando há uma violação sistemática de direitos fundamentais como resultado do racismo –, que era a principal demanda da ação, explica a Alma Preta. “Estamos diante de um sistema judicial que apresenta grande dificuldade em se tornar mais diverso e que, consequentemente, possui limitações consideráveis para identificar e reconhecer as manifestações do racismo presentes no país”, afirma Thales Vieira, antropólogo e diretor do Observatório da Branquitude.
🔸 A Câmara dos Deputados gastou R$ 398,4 mil em outubro apenas com a manutenção dos gabinetes de Alexandre Ramagem (PL-RJ), Carla Zambelli (PL-SP) e Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Afastados do mandato e fora do país, os três parlamentares já estavam impedidos de exercer o cargo por decisões do ministro Alexandre de Moraes, do STF. Em outubro, nenhum dos três recebeu salário. Ramagem teve remuneração até setembro; Zambelli e Eduardo Bolsonaro já estavam sem salário desde junho e julho, respectivamente. As cotas parlamentares também estão bloqueadas. O Congresso em Foco destaca que, apesar de não receberem salário, as estruturas de gabinete seguiram funcionando normalmente. No mês citado, o gabinete de Ramagem tinha 17 servidores ativos, o de Zambelli, 12, e o de Eduardo Bolsonaro, nove.
🔸 A propósito: a Câmara adiou a decisão sobre a cassação de Zambelli, depois de um pedido de vista de deputados do PT e da oposição. A bancada petista deve apresentar um parecer alternativo ao do relator, Diego Garcia (Republicanos-PR), que alegou não ter identificado “elementos conclusivos” sobre a participação direta da deputada no ataque hacker e, por isso, defendeu que não fosse cassada. A CartaCapital lembra que Zambelli está presa em Roma, na Itália, desde julho. Embora o STF tenha determinado a perda do mandato sem necessidade de votação, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), decidiu enviar o caso à Comissão de Constituição e Justiça. Após o colegiado aprovar um relatório, o caso deve ser levado a plenário, onde são necessários ao menos 257 votos para cassá-la.
📮 Outras histórias
Com origem colonial que remonta ao ciclo do ouro, o município de Sabará (MG), a menos de uma hora de Belo Horizonte, tem um patrimônio histórico e cultural que transformou a cidade em um grande destino para o turismo religioso. Entre fachadas históricas, estilo barroco e altares de ouro, as visitas revelam como a fé ajudou a construir um dos conjuntos arquitetônicos mais antigos de Minas Gerais. O BHAZ reúne as principais igrejas do município e suas características. A Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição, por exemplo, começou a ser construída em 1750 e é considerada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como uma das igrejas mais ricas do estado pela exuberância da talha dourada que reveste seu interior. Sua arquitetura mostra diferentes fases do barroco mineiro e possui elementos decorativos com influência oriental, conhecidos como “chinesices”.
📌 Investigação
Sócio de uma empresa de gerenciamento de resíduos sólidos, Rafael Belas Silva foi consultor político do vereador de Aracaju Breno Garibalde (Rede) até fevereiro deste ano. A empresa de Belas, porém, foi multada em R$ 1,5 milhão pela Administração Estadual do Meio Ambiente de Sergipe em 2023 por supostas operações ilegais de descarte de lixo em Área de Preservação Permanente. A Mangue obteve, via Lei de Acesso à Informação (LAI), o auto de infração e mostrou que a companhia tinha autorização para gerir resíduos sólidos da construção civil, mas recebia também resíduos sólidos urbanos e dispunha ambos a céu aberto em área que extrapolaria a determinada por licença ambiental. A atividade, segundo a avaliação técnica, teria gerado impactos no Rio Cotinguiba. Além de atuar no setor privado, Belas passou os últimos anos como funcionário no Legislativo Municipal de Aracaju, com salário bruto mensal de R$ 8 mil e só foi exonerado após firmar um contrato de R$ 3,1 milhões com a prefeitura da capital sergipana.
🍂 Meio ambiente
Jovens da Amazônia Legal apresentam sintomas de ecoansiedade gerados por crimes ambientais como desmatamento, garimpo ilegal e grilagem de terras, associadas aos impactos visíveis da crise climática no cotidiano das comunidades. É o que revela a pesquisa “Amazônia Jovem 2025”, produzida pela Cooperação da Juventude Amazônida para o Desenvolvimento Sustentável. O Eco destaca que, a partir de dados ambientais e dos depoimentos de 667 jovens dos nove estados da região, o estudo indicou que 78% dos entrevistados vivem em contextos de conflitos socioambientais e que 80% deles têm sintomas de ansiedade em relação ao futuro dos seus territórios. Apesar do cenário adverso, houve também o crescimento do sentimento de pertencimento da juventude: em dois anos de investigação, o número de jovens que se reconhecem como amazônidas subiu de 50% para 80%. “Quando o jovem se reconhece como parte da Amazônia, ele passa a agir e se engajar nas soluções”, diz o coordenador da pesquisa, Pedro Mota.
📙 Cultura
“A mulher nunca deixou de estar no samba. Nunca existiu samba sem uma presença feminina, fosse ela cantando ou fosse ela arrumando espaço para que a roda acontecesse, para que o samba acontecesse”, afirma a gestora cultural Maitê Freitas. Ela fundou o Samba Sampa há mais de uma década para documentar e reconstruir a história do samba paulista. O projeto se expandiu até chegar ao Massembas de Ialodês, roda que reúne mulheres negras para afirmar oralidade, memória e pensamento político dentro do samba. À Periferia em Movimento Freitas fala sobre o apagamento dessa cultura em São Paulo e o protagonismo das mulheres negras no resgate cultural. “A história social do samba e a forma como foi se constituindo essa história acabou criando muitos apagamentos. Hoje em dia o que a gente vê são mulheres, em especial as mulheres negras, retomando essas memórias, essas trajetórias e reocupando esse espaço na roda, muito imbuídas e muito nutridas desse reconhecimento da ancestralidade.”
🎧 Podcast
Diante da crise do multilateralismo comercial, marcado por tensões geopolíticas, disputas comerciais e falta de consenso global, o atual modelo da Organização Mundial do Comércio (OMC) é insustentável e precisa ser reinventado. É o que afirma Roberto Azevêdo, ex-diretor geral do órgão. No “Conversas com a Inteligência”, produção do Meio, ele aborda o cenário atual da organização e explica que, ao contrário do que é difundido, a OMC não é um órgão autônomo e depende do consenso dos seus países-membros. A perda da relevância da entidade ocorreu devido ao enfraquecimento de seu pilar de solução de controvérsias, sobretudo depois de os Estados Unidos paralisarem o órgão de apelação por discordar das interpretações jurídicas e acusá-lo como “ativismo judicial”.
✊🏾 Direitos humanos
“Ser livre não é fazer o que eu quero do jeito que eu quero – isso é individualismo. No meu caso, ser livre é conseguir construir internamente uma libertação de todos os valores capitalistas que nos escravizam”, diz a atriz paulistana Rojda Dandara, que vive desde 2022 em Rojava. Oficialmente, o território chama Administração Autônoma do Norte e Leste da Síria e é habitado pelos curdos, um grupo étnico milenar que não possui um Estado reconhecido. Em entrevista à Emerge Mag, ela conta como é viver em uma área autônoma e anticapitalista entre a Síria e a Turquia. “Economicamente, se organiza em cooperativas, onde a terra não é de ninguém, mas de todos. Produzem juntos, e a autoadministração compra tudo para garantir a dignidade da população”, explica. “A auto-organização e não dependência de um Estado Nação possui um tripé: a ecologia, a democracia participativa, em que todas as etnias têm representatividade nos processos decisórios, e a força da mulher.”




