O fundo para florestas tropicais e a retomada da mineração em Brumadinho
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
🔸 Na abertura da Cúpula dos Líderes, em Belém, o presidente Lula cobrou urgência na transição energética e destacou o papel da floresta amazônica diante das mudanças climáticas. “Apesar das nossas dificuldades e contradições, precisamos de mapas do caminho para, de forma justa e planejada, reverter o desmatamento, superar a dependência dos combustíveis fósseis e mobilizar os recursos necessários para esses objetivos”, completou. A Carta Amazônia destrincha o discurso do presidente na abertura da Cúpula dos Líderes, evento que reúne líderes de 153 delegações e antecede a conferência climática da ONU, a COP30, em Belém. Lula exaltou a sede na capital paraense (“Pela primeira vez na história, uma COP do Clima terá lugar no coração da Amazônia”), lembrou o simbolismo da floresta globalmente (“No imaginário global, não há símbolo maior da causa ambiental do que a floresta amazônica”) e afirmou que “a COP30 será a COP da verdade”.
🔸 “Foi um discurso forte. O desafio agora é transformar essas palavras em ação, sob a liderança do Brasil. Seguir insistindo em explorar petróleo na Foz do Amazonas ou atrasar a demarcação de territórios indígenas que aguardam há décadas por essa garantia expõe contradições que não cabem em um momento tão importante.” A avaliação é da diretora executiva do Greenpeace Brasil, Carolina Pasquali. Em cobertura ao vivo do evento, a Sumaúma conta que instituições em defesa da conservação da natureza diante da emergência climática aprovaram a fala do presidente sobre a necessidade de um mapa do caminho para o fim do uso dos combustíveis fósseis – mas esperam ações concretas.
🔸 Na cúpula, Lula apresentou a aposta do Brasil para a COP30: o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (o TFFF, na sigla em inglês), com aporte inicial do Brasil de US$ 1 bilhão e metade captação de US$ 10 bilhões. A Cenarium explica que o mecanismo pretende remunerar cerca de 73 países por manterem suas florestas em pé e destina 20% para atender diretamente os povos indígenas e comunidades locais. Há resistência de organizações sociais e ambientais em apoiar a proposta do governo brasileiro. Num abaixo-assinado contra o instrumento, mais de cem instituições apontam problemas, como o risco de “privatização” do financiamento florestal, e consideram que “o TFFF funcionará como qualquer banco comercial”, obtendo empréstimos com juros de 4% e emprestando esse dinheiro com juros de 7%. “O colapso ecológico causado pelo capitalismo não será resolvido com mais capitalismo”, dizem as organizações no documento.
🔸 Em tempo: a Noruega prometeu que fará um aporte de US$ 3 bilhões ao fundo, ao longo de dez anos. O Reset informa ainda que a França anunciou que repassará 500 milhões de euros, e a Indonésia confirmou US$ 1 bilhão, igual ao valor aportado pelo Brasil. O Reino Unido, que era esperado como patrocinador, não anunciou aporte imediato, citando questões de política fiscal e doméstica. A Alemanha, por sua vez, indicou que deve anunciar um aporte nos próximos dias. No modelo do TFFF, o objetivo total é captar US$ 125 bilhões.
🔸 Enquanto o país se prepara para o início oficial da COP30, na segunda, senadores desinformam e usam dados enganosos para defender a exploração de petróleo na foz do Amazonas. São eles: Randolfe Rodrigues (PT-AP), Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), Lucas Barreto (PSD-AP) e Márcio Bittar (PL-AC). O Aos Fatos detalha as desinformações que os parlamentares contam. Alcolumbre, por exemplo, diz que as reservas de petróleo brasileiras devem acabar até 2032. Na verdade, o plano da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) projeta um pico em 2030. Já Randolfe Rodrigues erra ao afirmar que “nenhum país” abandonou a pesquisa para explorar petróleo. Belize, Irlanda, Dinamarca, Espanha e Irlanda do Norte têm proibições ou cronogramas de fim.
📮 Outras histórias
“Tudo começou com o arroz. O manejo agroecológico mudou nossa vida, nos deu consciência e renda, foi a libertação do nosso povo.” A afirmação de Enéas Rosa, liderança quilombola na Resina, mostra como, no quilombo Brejão dos Negros (SE), o arroz é um dos principais motores de uma revolução com a agroecologia – e motivo de comemoração. A Mangue conta que a comunidade colheu mais de 250 toneladas do arroz agroecológico Velho Chico, cultivado em 40 hectares bem próximo à foz do Rio Francisco. A maior parte do arroz abastece a Conab e a Secretaria de Assistência Social do estado, chegando a entidades que atendem pessoas em vulnerabilidade. O resultado se apoia em duas décadas de organização comunitária e parcerias com a Cáritas e a Universidade Federal da Bahia. O território da colheita abundante aguarda a titulação há vinte anos.
📌 Investigação
Pelo quinto ano seguido, a violência de gênero lidera os projetos de lei relacionados a mulheres, meninas e pessoas LGBTQIA+. O “Elas no Congresso”, projeto da Revista AzMina, analisou 812 proposições apresentadas por parlamentares entre janeiro de 2024 e julho de 2025 sobre essa população e revela que o tema ocupa quase 40% do total. A maioria dos projetos, no entanto, não trabalha a prevenção da violência de gênero, focando em ações como endurecer penas, facilitar acesso de armas às mulheres vítimas de violência e promover auxílios pós-violência, incluindo casos de feminicídio – iniciativas pensadas sempre depois que o crime já ocorreu. Além de pouco eficientes, 20% das propostas analisadas foram desfavoráveis aos direitos de meninas, mulheres e pessoas LGBTQIA+.
🍂 Meio ambiente
Seis anos depois do rompimento da barragem de Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), a Itaminas arrendou da Vale o direito de explorar a Mina da Jangada, contígua a onde ocorreu o colapso. “Depois do rompimento da barragem, nós esperávamos que houvesse um outro olhar sobre as mineradoras. Mas nada mudou. As 272 vidas foram em vão. Essa mina não poderia ter sido reaberta”, diz a professora Cátia Cruz Maia, moradora de Jangada. A operação iniciou em agosto, com o temor da comunidade, que capta água de nascentes próximas à cava, tem medo de que a retomada da atividade reduza o lençol freático e contamine o abastecimento das residências. A Repórter Brasil mostra o posicionamento da população local, que relembra a realidade do desastre de 2019. “A única medida de reparação que a gente quer é que as mineradoras deixem definitivamente o Complexo Paraopeba. Parem toda exploração desse lugar”, afirma Carolina de Moura, ex-presidente da associação de moradores.
📙 Cultura
Arte misturada com negócio e criatividade agregada à matemática, a profissão de estilista vai além do que é visto em passarelas e envolve pesquisa de tendências, estudo de materiais, desenvolvimento de modelagem, análise de público-alvo, gestão de produção e sustentabilidade. O Juicy Santos ressalta o papel da moda, sua história e a importância do ofício de pensar vestimentas, com compreensão de volumes e sensibilidade para cores e texturas. Na Baixada Santista, em São Paulo, a moda tem uma identidade própria influenciada pelo estilo de vida praiano e pela cultura caiçara. Santos, por exemplo, concentra profissionais que atuam desde a criação de joias até estilos específicos da moda praia, streetwear e slow fashion, como a estilista Beatriz Santos, que propõe peças versáteis e modulares para se adaptar às mudanças do corpo feminino.
🎧 Podcast
Apesar de ser considerado uma ferramenta de preservação, o mercado de carbono é criticado por acarretar problemas socioambientais e apresentar falhas estruturais, sobretudo no mercado voluntário. São comuns os casos de projetos de créditos que foram calculados sem existirem, de financiamento a iniciativas sem comprometimento ambiental e de conflitos com comunidades tradicionais. O “Ciência Suja”, produção da NAV Reportagens, mergulha no funcionamento e na história dos créditos de carbono, do Protocolo de Kyoto, em 1997, até chegar à COP30. O episódio revela a necessidade de políticas de regulação mais estritas, transparentes e participativas para que esse mercado possa ter algum benefício concreto.
💆🏽♀️ Para ler no fim de semana
No fim de outubro, a TV brasileira presenciou o fim de uma era, com a saída de William Bonner do “Jornal Nacional”, principal telejornal do país. Ele foi o apresentador mais longevo a ocupar a cadeira, desde abril de 1996, quando assumiu o posto ao lado de Lillian Witte Fibe. A edição de despedida dedicou 22 minutos à passagem de bastão de Bonner para seu sucessor, César Tralli. Em coluna na Escotilha, a jornalista Maura Martins analisa como a Globo transformou sua saída da bancada do jornal em um grande evento como estratégia diante da mudança no consumo de informação, relacionado à personalização. “Bonner falou que tudo o que queria era encerrar aquela noite, descer da bancada e ganhar o abraço de sua esposa. E foi isso o que ocorreu: diante de uma redação lotada, Bonner, Tralli e Renata saíram de seus postos e, pela primeira vez no ‘Jornal Nacional’, assistimos aos três mediadores centrais das notícias brasileiras irem em direção aos seus parentes, perante os olhos do público.”




