A fumaça em Manaus e o uso de IA nos corais da costa brasileira
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🔸 A fumaça que cobriu Manaus desde outubro tem suas raízes na destruição da floresta por agropecuaristas na região metropolitana da capital, de acordo com o Ibama. O Intercept Brasil revela nomes de desmatadores responsáveis pelo fumaceiro com destaque para o município de Autazes, a 112 km de Manaus: dos 506 focos de incêndio no mês passado outubro 258 ocorreram em Autazes, indicando queimadas em áreas de pecuária. O município perdeu 580 hectares de floresta desde 2005, substituídos por pastos alimentando 96 mil animais. Entre os desmatadores, está Elmar Cavalcante Tupinambá, que acumula R$ 1,2 milhão em multas ambientais e, sozinho, foi responsável por 42% do desmatamento registrado no município nas duas últimas décadas. Em tempo: Tupinambá é avô de Agenor Tupinambá, o “tiktoker da capivara”, conhecido por aparecer nas redes tratando do animal silvestre como se fosse um pet.
🔸 No mês passado todo, Manaus teve apenas um dia de ar considerado bom. No dia 12 de outubro, a cidade atingiu o terceiro pior nível de qualidade do ar no mundo. Ao todo, oito dias do mês foram classificados como “insalubres” ou “muito insalubres”. A Agência Pública conversa com pesquisadores sobre a fumaça, resultado de dois fatores principais: as queimadas na região metropolitana da capital e a seca severa no Amazonas. “Essas queimadas ainda são um resultado das ações do desgoverno anterior, mas também das condições secas e quentes anômalas do El Niño deste ano”, explica Gabriel de Oliveira, pesquisador da Universidade do Sul do Alabama.
🔸 O ano letivo foi encerrado mais cedo, os rios secos impediram a navegação, comunidades ficaram isoladas, e moradores passaram a sentir falta de ar e tontura, entre outros sintomas. O Eco detalha os impactos da seca, das queimadas e da fumaça para quem vive no Amazonas. “Nosso meio de transporte são canoa e barco. Uma das dificuldades foram para algumas pessoas que moram em casas flutuantes e tiveram que ficar com seus flutuantes encalhados”, conta o indígena Tuniel Mura, morador a aldeia Murutinga, do povo Mura, no município de Autazes.
🔸 O Senado vota hoje o texto reforma tributária. A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) sobre o tema foi aprovada ontem pela Comissão de Constituição e Justiça da Casa. Entre os pontos aprovados, está aquele que prevê a devolução de parte do imposto pago na compra de gás de cozinha para famílias de baixa renda. O Metrópoles lista as categorias de produtos que devem ter impostos mais baixos. Medicamentos e produtos de cuidados da saúde menstrual, por exemplo, têm possibilidade de alíquota zero.
📮 Outras histórias
Banhada pelo Rio Amazonas, a orla de Parintins (AM) já sofreu uma série de deslizamentos de terra. Parte do muro de contenção de erosão fluvial já desabou. O Amazonas Atual conta que, agora, a Justiça do Amazonas determinou que o governo federal assine e execute o convênio para a construção do muro na orla da cidade, localizada a 369 quilômetros de Manaus. Ao assinar a decisão, a juíza Jaiza Fraxe lembrou que Parintins passa pela maior estiagem registrada desde 1902 e afirmou que a construção é urgente.
📌 Investigação
Jovens negros das periferias são duplamente vítimas de violência, a policial e a desinformação nas redes sociais – que tentam relacioná-los sem provas à criminalidade. Um exemplo é o caso de Thiago Menezes, 13 anos, morador da Cidade de Deus, zona oeste do Rio de Janeiro. Ele foi alvejado pelo Batalhão de Choque da Polícia Militar no dia 8 de agosto. Sem tempo para lamentar o luto, a família precisou iniciar a luta pela imagem do adolescente. A Agência Lupa reúne outros casos semelhantes ao de Thiago e mostra como conteúdos desinformativos são instrumentos para “justificar” violências contra a juventude negra no país.
🍂 Meio ambiente
A maioria dos estados da Amazônia Legal não compartilha com as suas secretarias de meio ambiente informações do cadastro de pecuaristas e de movimentação do rebanho bovino, mesmo que esses dados sejam estaduais. Rondônia é o único estado em que os dados gerados pelo Idaron (Agência de Defesa Sanitária Agrosilvopastoril do Estado de Rondônia) são fornecidos integralmente. No Pará e Mato Grosso, o acesso é parcial. A Repórter Brasil lembra que a pecuária é o principal vetor do desmatamento na Amazônia e o compartilhamento dessas informações poderia ajudar na fiscalização ambiental e no combate à ilegalidades.
📙 Cultura
Longa que retrata a vida do único trapalhão negro, “Mussum, O Filmis” tem a maior estreia do cinema nacional em 2023. A produção narra a história de Antônio Carlos Bernardes Gomes, o Mussum, em um equilíbrio entre o humor e a emoção. Protagonizado por Ailton Graça e dirigido por Silvio Guindane, o filme chegou às telas na última quinta-feira e arrecadou cerca de R$ 640 mil apenas no primeiro dia de exibição em 400 salas de cinema do país, segundo os dados do Comscore Movies. A Alma Preta destaca que a cinebiografia de Mussum traz, além dos bastidores de “Os Trapalhões”, a forte relação do artista com a Mangueira e sua participação na formação d’Os Originais do Samba, um dos mais tradicionais grupos de “samba raiz” formado na década de 1960.
🎧 Podcast
O pastor evangélico Arison Farias de Aguiar, responsável pelo projeto Resgatando Cativos, tem lucrado com a exposição de dependentes químicos nas redes sociais. A organização tem o objetivo de resgatar e recuperar usuários de drogas, mas não oferece tratamento especializado. Na nova série “O Pastor”, a “Rádio Escafandro”, produção da Rádio Guarda-Chuva, revela que o cotidiano dos internos é transmitido ao vivo pelo Facebook parecido com um reality show. A página na plataforma tem 820 mil inscritos, e os vídeos costumam ultrapassar as 100 mil visualizações. Além da monetização, os espectadores doam dinheiro nas lives, que mostram situações abusivas.
👩🏽💻 Tecnologia
O uso de inteligência artificial (IA) pode ajudar a monitorar a conservação de corais na costa brasileira. É o que mostra uma pesquisa das universidades federais do Rio Grande do Norte (UFRN) e do Paraná (UFPR) publicada na revista científica “Peer J”. Segundo a Agência Bori, os pesquisadores exploraram o potencial das redes neurais da IA que processam dados em modelo inspirado no cérebro humano para que elas reconheçam imagens e saibam identificar as texturas, formas e cores dos corais. As fotografias utilizadas foram fornecidas por cidadãos e foram publicadas no Instagram com a hashtag “DeOlhoNosCorais”.