A Força Nacional no Rio de Janeiro e o Comando Vermelho no Pará
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🔸 No quinto dia de operação policial no Complexo da Maré, uma pessoa foi morta e mais de 13 mil estudantes ficaram sem aula. Ontem, desde 5h30, moradores já escutavam tiros e viam a circulação de blindados na favela, que abrange 16 comunidades na zona norte do Rio de Janeiro. Batizada de Operação Maré, a ação é comandada pelo governo do estado e teve início na semana passada. Desde então, mais de 17 mil alunos não puderam estudar. O Maré de Notícias calcula que os estudantes da favela já perderam 20 dias de aula neste ano e destaca que nos cinco dias de operação foram identificados policiais sem câmeras nos uniformes e não houve perícia e preservação dos locais das mortes para investigações posteriores.
🔸 A propósito: agentes da Força Nacional chegaram ontem ao Rio e devem engrossar o contingente de policiais nas operações, inicialmente na Maré, e depois, em outras comunidades. Ao Congresso em Foco especialistas criticam a tentativa de enfrentar a criminalidade apenas por meio do aumento das ações policiais. O combate ao crime organizado no Rio requer políticas públicas multissetoriais de longo prazo, como afirma o professor José Claudio Souza Alves, da Universidade Federal Fluminense (UFF). “Uma das direções, talvez a mais importante, é a manutenção dos jovens em escolas à noite e nos fins de semana. Não com conteúdo, mas com atividades socioculturais: deve-se modificar a forma para a população ver o mundo e ver a si mesma”, diz. O ex-capitão do Bope Rodrigo Pimentel acrescenta: “O que o governo federal está tentando fazer agora é repetir estratégias já fracassadas: ocupação da Maré e megaoperações. Tudo que o governo está oferecendo já foi feito em algum momento nos últimos 20 anos”.
🔸 Nas comunidades cariocas, 50% dos moradores ganham menos de um salário mínimo, 41% estão desempregados e 38% afirmam não ter acesso a cultura e lazer. Estudo da Secretaria Municipal da Juventude do Rio de Janeiro, em parceria com a Unesco, ouviu mais de 400 jovens em favelas da zona oeste e da zona norte da capital fluminense. Os entrevistados apontam como principais problemas a falta de emprego, o esgoto a céu aberto, a ausência de coleta de lixo, de água e de luz. O Voz das Comunidades sintetiza os principais achados da pesquisa e traz o link completo para o trabalho.
🔸 Está perto do fim o estoque de água e comida de que dispõem os brasileiros abrigados em Rafah e Khan Younes, na Faixa de Gaza. “Crise humanitária se aproxima”, disse o embaixador do Brasil na Palestina, Alessandro Candeas, ao colunista Guilherme Amado, do Metrópoles. O Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas, a agência alimentar de emergência da ONU, já havia feito esse alerta ao pedir para que Israel retire o bloqueio imposto à Faixa de Gaza. O país afirma que só devolverá o fornecimento de energia, água e alimentos para Gaza quando o grupo terrorista Hamas liberar os reféns.
🔸 E a ONU? Qual é o papel da Organização das Nações Unidas no conflito? A última reunião do Conselho de Segurança da entidade terminou sem consenso, mas os principais objetivos são um cessar-fogo e a criação de um corredor humanitário para as pessoas da Faixa de Gaza. O Nexo explica como funciona a atuação da ONU – politicamente, com soluções a serem pensadas no Conselho de Segurança, e em campo, com braços como a Acnur, agência para refugiados. A partir de entrevistas com professores de Relações Internacionais, a reportagem explora ainda a influência da ONU no conflito árabe-israelense ao longo da história.
🔸 Com a pior seca desde 1963, Manaus viu ontem o menor nível do Rio Negro nos últimos 13 anos: na orla da capital, a medição registrou 13,59 metros. Apenas entre sábado e segunda-feira, o rio baixou 32 centímetros, destaca o Amazonas Atual. Com essa profundidade, 38 municípios ficaram isolados, já que em longos trechos a água sumiu e deixou apenas trilhas de lama. A previsão é de que as chuvas se intensifiquem no fim deste mês, mas, segundo meteorologistas, o nível do Rio Negro deve seguir abaixando, informa a revista Cenarium.
📮 Outras histórias
Um vídeo registra o momento em que Marcelo Francisco da Silva cometeu crime de racismo. Num posto de gasolina em Curitiba, ele se refere a um funcionário como “macaco” e “nordestino dos infernos”. O vídeo ficou conhecido nas redes sociais, e Marcelo se apresentou à delegacia ontem. O Plural conta que a estratégia de sua defesa foi apontar como responsável o consumo de bebida alcoólica. “A bebida é a grande culpada”, alegou o advogado Raphael Nascimento. Segundo ele, seu cliente teria sido “provocado” pelo funcionário do posto.
📌 Investigação
Comunidades quilombolas do Pará têm suas rotinas afetadas pelo Comando Vermelho. No estado, a facção criminosa atua em territórios situados em três áreas: próximos à Belém e Ananindeua, na região metropolitana da capital, na rota do tráfico de drogas, que inclui a rodovia Transcametá, e na rota do Baixo Tocantins, em particular os que ficam próximos ao município de Barcarena. A Alma Preta visitou três quilombos paraenses e detalha como esses locais são utilizados como rota de fuga, mercado consumidor e fonte de mão de obra para o tráfico. Os moradores relatam a sensação de insegurança cada vez maior.
🍂 Meio ambiente
A violência contra animais se tornou entretenimento e fonte lucro nas redes sociais. É o que mostra estudo publicado na revista científica “Biological Conservation”. O trabalho, liderado pelo biólogo Antonio Carvalho, mapeou mais de 50 horas de 411 vídeos de abusos contra animais no Youtube de 39 países, entre abril de 2022 e agosto de 2023. A Agência Bori destaca que os influenciadores envolvidos nos conteúdos lucraram cerca de 1,14 milhão de dólares. A categoria de conteúdo que mais gerou monetização foi a de vídeos de uso de animais silvestres como pets.
📙 Cultura
“Tenho orgulho no pequeno marco que estamos deixando na história da música pernambucana, nordestina e brasileira.” Ana Garcia é diretora do festival No Ar Coquetel Molotov, que completa 20 anos com a edição do próximo sábado, em Recife (PE). Em entrevista à Escotilha, ela narra a trajetória do evento para a cena da música independente no país. “Esses grandes festivais só rolam no Brasil porque há muitos anos temos a cultura de festivais independentes rolando”, completa.
A propósito: uma das atrações do festival é a dupla Irmãs de Pau, formada pelas multiartistas Isma Almeida e Vita Pereira. Elas demarcam território enquanto travestis no funk com autenticidade para fazer ecoar suas vivências por meio da música. À revista O Grito! a dupla compartilha como busca subverter os padrões de gênero dentro do ritmo. “Por mais que adorássemos os funks, às vezes não refletíamos sobre muitas questões, mas hoje em dia refletindo fazemos essa questão complexa de colocar a nossa narrativa, a nossa trajetória, a nossa composição como uma forma de embate também nisso”, conta Vita.
🎧 Podcast
O jornalista Bernardo Esteves pesquisou a fundo saberes indígenas, arqueologia, física, genética e linguística para contar a história da presença da espécie humana no continente americano. O trabalho resultou no livro “Admirável Novo Mundo: Uma História da Ocupação Humana nas Américas”. No “451 MHz”, produção da Quatro Cinco Um, o autor discorre sobre algumas dessas descobertas e a relação dessa história com o colonialismo e a própria prática científica e arqueológica a partir da visão do colonizador. É neste contexto que o jornalista busca também entender como as culturas indígenas descrevem a origem humana na região.
✊🏽 Direitos humanos
O Programa Educativo Acessível que levou a história do massacre do Carandiru ao Espaço Memória Carandiru foi encerrado pelo Centro Paula Souza, autarquia vinculada ao governo do estado de São Paulo. A Ponte explica que, desde que foi criado, em 2007, até o ano passado, o espaço não havia recebido nenhum material sobre o massacre que vitimou 111 pessoas no presídio no dia 2 de outubro de 1992. Agora, o projeto foi descontinuado pelo governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos), cujo secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, é contra a condenação dos policiais militares autores do episódio.