A fome nos lares chefiados por mulheres negras e a IA no Senado
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🔸 Uma em cada cinco famílias chefiadas por pessoas autodeclaradas negras no Brasil sofre com a fome – o dobro em comparação aos lares chefiados por pessoas brancas (10,6%). Quando se observa o recorte de gênero, a situação é mais grave: 22% dos lares chefiados por mulheres negras sofrem com a fome. Os números são fruto do aprofundamento do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19, estudo que, no ano passado, revelou que 33 milhões de brasileiros enfrentavam situação de fome no país. O Projeto Colabora detalha os novos dados e traz análises de especialistas. “Precisamos urgentemente reconhecer a interseção entre o racismo e o sexismo na formação estrutural da sociedade brasileira, implementar e qualificar as políticas públicas tornando-as promotoras da equidade e do acesso amplo, irrestrito e igualitário à alimentação”, diz a professora Sandra Chaves, coordenadora da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional.
🔸 Não só em direção a Arthur Lira (PP-AL) – mas também ao partido dele – caminha a investigação do superfaturamento de kits de robótica. A operação da Polícia Federal (PF) descortina uma rede interligada de pessoas e empresas com outros ministérios e órgãos públicos, envolvida em contratos milionários do antigo PP, hoje Progressistas. O Metrópoles explica o trabalho da PF, que já descobriu que, mesmo dentro do Ministério da Educação, os tentáculos do esquema se estendem para além dos kits de robótica. Duas instituições federais de ensino sediadas em Alagoas, estado de Lira, deram dinheiro a uma das empresas investigadas, a BRA Serviços Administrativos Ltda. O dono é o policial civil alagoano Murilo Sérgio Jucá Nogueira Junior, ligado ao endereço onde a PF encontrou R$ 4 milhões em dinheiro vivo dentro de um cofre.
🔸 Em meio ao julgamento que pode levar à sua inelegibilidade, Jair Bolsonaro (PL) mudou o tom: está “mais contido, sem arroubos e com poucas agendas públicas”, como avaliam especialistas ouvidos pelo Nexo. “O fato de ele estar tão quieto é curioso. Pode ter a ver com o cálculo político de testar como será a recepção de uma inelegibilidade, se haverá adesão popular para contestar a decisão”, analisa Camila Rocha, pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap). Um dia antes do início do julgamento, o ex-presidente quebrou o silêncio: afirmou a jornalistas que será “péssimo para a democracia” se ele for julgado de forma diferente da chapa Dilma-Temer em 2017. Caso se torne inelegível, Bolsonaro será um importante cabo eleitoral, mas, ainda assim, dúbio. “Ao mesmo tempo que traz votos, ele traz rejeição”, afirma Jorge Chaloub, professor de ciência política na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
🔸 A propósito: o Tribunal Superior Eleitoral volta a julgar Bolsonaro hoje. O Jota faz um passo a passo do processo no TSE, desde o evento que é o centro da ação do PDT: a reunião do ex-presidente com embaixadores em 18 de julho de 2022, quando ele levantou suspeitas e fez ataques ao sistema das urnas eletrônicas, sem apresentar provas, e transmitiu o encontro via redes sociais e na estatal Empresa Brasil de Comunicação (EBC).
🔸 O Supremo Tribunal Federal começou as audiências para julgar 232 ações penais contra acusados de participar dos atos criminosos de 8 de janeiro. Testemunhas de defesa e acusação serão ouvidas, além dos próprios réus, que seguem presos e acusados dos crimes mais graves, como informa O Antagonista. Entre as acusações, estão associação criminosa armada e a tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito.
📮 Outras histórias
Nas favelas do Rio de Janeiro, pais e mães negros lutam para que seus filhos tenham acesso ao uso terapêutico da maconha. A Movimentos, iniciativa formada por jovens moradores das favelas cujo objetivo é inserir a população negra e periférica no debate sobre a política de drogas no Brasil, realizou uma pesquisa para traçar o perfil de moradores de favelas que fazem uso terapêutico da substância, além de mapear as condições de saúde tratadas. A Alma Preta reúne os resultados do estudo. Mais de 73% das pessoas que responderam são negras, com renda mensal de menos de um salário mínimo e que buscam tratamento sobretudo para transtorno do espectro autista e epilepsia. Entre os entrevistados, 42% já sofreram preconceito por fazer uso ou tentar acessar a maconha para fins medicinais.
📌 Investigação
A regulação da inteligência artificial no Brasil está concentrada nas mãos de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado. Ainda no final de 2021, a Câmara aprovou um projeto, patrocinado indiretamente pelas big techs. Enquanto isso, outras três propostas sobre o tema surgiram no Senado. O Aos Fatos conta que Pacheco, no entanto, paralisou as discussões de outros PLs para concentrar os trabalhos sobre o tema. Então, instituiu uma comissão de juristas para avaliar as propostas. O resultado é um projeto de lei de sua autoria, com base na legislação da União Europeia sobre o assunto. A reportagem esmiúça a proposta que, segundo as empresas de tecnologia, pode levar à inviabilidade do desenvolvimento de IA no Brasil.
🍂 Meio ambiente
Uma habilidade dos grandes felinos, as onças-pintadas do Pantanal também sobem em árvores. Mas elas têm motivos diferentes, por exemplo, do que as onças da Amazônia, que buscam presas, como macacos e preguiças, que vivem em árvores. No Pantanal, elas usam a estratégia em busca de proteção para si e para os filhotes. É o que mostra estudo publicado pela revista “Springer Nature”, feito por pesquisadores da Associação Onçafari, Instituto SOS Pantanal, entre outras instituições. O Eco explora os dados da pesquisa, segundo a qual as fêmeas adultas com filhotes respondem pela maior parte das escaladas (39,6%), seguidas pelas sem filhotes (37,7%) e pelos filhotes que subiram sozinhos (20,6%).
Omissões e informações falsas cercam um projeto de mineração de potássio na bacia do Rio Madeira, no Amazonas. Professores da faculdade de direito de Nova Iorque, Cardozo Law Institute, e da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), levaram uma denúncia contra a mineradora canadense Brazil Potash à Comissão de Valores dos Estados Unidos. Segundo a InfoAmazonia, a denúncia acusa a empresa de omitir de investidores inclusive a possibilidade de o projeto estar dentro de terras indígenas. Se a ação for aceita, a mineradora fica impedida de captar recursos na bolsa de valores dos Estados Unidos. A empresa já havia escondido dos investidores uma decisão da Justiça que determina estudos para a demarcação da Terra Indígena Soares/Urucurituba – justamente na área onde a empresa planeja escavar uma mina.
📙 Cultura
“A branquitude é vista como esse ‘conjunto de práticas culturais que não são nomeadas’, em que o ‘silêncio e a ocultação’ são predominantes. Ou seja, cegueira conveniente e silêncio são cúmplices da branquitude.” Em coluna na Quatro Cinco Um, Juliana Borges discorre sobre a obra de uma das mais importantes vozes brasileiras nessa discussão, Cida Bento, autora de “O Pacto da Branquitude”, psicóloga e diretora do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades. “O que Cida Bento aponta é a necessidade de romper com a invisibilidade branca, com a ideia de universalidade como pertencente ao grupo branco, e com os silêncios e pactos de proteção. Esses processos podem, e devem, afirma, ser inspirados a partir da insurgência de mulheres negras”, afirma Borges.
O Festival de Parintins chega à 56ª edição nesta sexta com a estimativa de movimentar R$ 120 milhões não só na Ilha Tupinambarana, mas em todo o baixo Amazonas. Há 36 anos trabalhando com a venda de camisas e acessórios para o festival, a comerciante Sonora Lima, de 59 anos, explica ao RealTime1 sua estratégia para atrair os torcedores dos bumbás Caprichoso e Garantido. “Eu me tornei dos dois bumbás ou, como a gente usa aqui, ‘garanchoso’. Um dia eu venho de vermelho, e no outro dia eu vou de azul. E assim eu passo a festa toda brincando também.”
🎧 Podcast
Seguindo uma tendência global de criminalização e ameaça às pessoas trans e travestis, há uma ofensiva antitrans no legislativo brasileiro. Nos Estados Unidos, avançam leis estaduais que vão desde restrições ao uso de banheiros até a proibição de terapia hormonal, passando por um cerco a shows de drag queens, como conta o “Dissidentes”, produção da Rádio Guarda-Chuva. No Brasil, mais de 560 projetos de lei antitrans estão em andamento nas assembleias legislativas, das quais 82 já foram aprovadas. Há proibições de acesso à saúde para adolescentes trans, de livros nas bibliotecas ou da alteração nos documentos de identificação.
🧑🏽🏫 Educação
As histórias de jovens brasileiros periféricos em Harvard. As barreiras linguísticas e educacionais são grandes desafios, mostra a Agência Mural, ao lado, é claro, das dificuldades financeiras. Hoje mestre em administração pela Universidade de Harvard, André Menezes, de 34 anos, precisou trabalhar em uma feira livre para conseguir estudar inglês. Do bairro de Pimentas, em Guarulhos, na Grande São Paulo, ele passou por todo o processo de aplicação sozinho, sem referências ou apoio de consultoria. Já Márcio Henrique, 24, nascido em Itaquera, na zona leste da capital paulista, fez uma vaquinha online para arrecadar o valor necessário para custear suas despesas no exterior. Para o ano acadêmico de 2023/2024, segundo o site da universidade, o investimento médio em Harvard é de R$ 458 mil.