O fim da PEC da Blindagem e o greenwashing de empresas no LinkedIn
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🔸 Depois do aceno de Donald Trump a Lula, foi a vez de o presidente brasileiro acenar de volta: “Eu tive uma satisfação de ter o encontro com o presidente Trump. Aquilo que parecia impossível se tornou possível”, afirmou Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ontem, em entrevista coletiva à imprensa em Nova York. O setor produtivo vê com otimismo a aproximação entre os dois chefes de Estado. Já na diplomacia, prevalece cautela: o Jota apurou que o gesto partiu do republicano, que buscou cumprimentar Lula nos bastidores da Organização das Nações Unidas (ONU). Diplomatas ressaltam que, embora o aceno seja positivo, há risco de que a aproximação não se mantenha, como em episódios anteriores em que promessas de contato não tiveram continuidade. Lula, em seu discurso, defendeu a regulação das plataformas digitais e a governança multilateral da inteligência artificial – tema que deve voltar com força à pauta bilateral Brasil-EUA.
🔸Falando em governança de IA… a ONU aprovou em agosto uma resolução para avançar na pauta. Com a corrida acelerada pela tecnologia, a organização decidiu criar duas novas iniciativas: um Painel Científico Internacional Independente, com 40 especialistas, e um Diálogo Global sobre Governança de IA, que reunirá governos, empresas e sociedade civil. O Curto News ouve Isabella Wilkinson, pesquisadora do Digital Society Programme da Chatham House, sobre o impacto concreto das ações. “O diálogo global oferece uma plataforma para países com menos recursos se engajarem e influenciarem normas internacionais, mas ainda depende da boa vontade dos atores mais poderosos”, afirma. Segundo ela, um dos pontos mais polêmicos da resolução é a exclusão explícita de usos militares da IA – muitas tecnologias podem ser aplicadas tanto em contextos civis quanto militares. “Separar completamente civil e militar é praticamente impossível. Essa lacuna pode minar a capacidade do painel de identificar riscos emergentes significativos.”
🔸 A Comissão de Constituição e Justiça do Senado rejeitou a PEC da Blindagem por unanimidade. Alvo de manifestações contrárias pelo país no fim de semana, a proposta previa que parlamentares só poderiam responder a processos criminais com autorização prévia da Casa. O Notícia Preta informa que o relator Alessandro Vieira (MDB-SE) classificou a pauta como um “golpe fatal na legitimidade do Parlamento”. O presidente da CCJ, Otto Alencar (PSD-BA), afirmou que a decisão “sepultou definitivamente” a PEC, já que não cabem recursos regimentais para levá-la ao plenário.
🔸 Na Câmara, uma comissão vai avaliar a criação do Fundo Nacional de Reparação Econômica e de Promoção da Igualdade Racial, previsto na PEC 27, de 2024. O texto propõe repasses anuais de R$ 1 bilhão durante 20 anos, totalizando R$ 20 bilhões. Em entrevista à Alma Preta, a deputada federal Dandara Tonantzin (PT-MG), que integra a comissão, afirma que o fundo é fruto de uma luta histórica do movimento negro. “É uma reparação econômica, não do ponto de vista individual, mas uma reparação para ter dinheiro para a política pública transformar a vida das pessoas”, explica. Ela destaca a importância de o fundo se tornar uma norma na Constituição: “Toda vez que tem um avanço da extrema direita, os nossos corpos, a nossa vida, os nossos direitos são um grande alvo. A mão é perdida, ela é muito bem endereçada. Então, deixar na Constituição é também um mecanismo de assegurar que essa política vai ter uma durabilidade, vai ter um processo de implementação e não vai ficar tão frágil”.
📮 Outras histórias
“Sertão carioca”. A favela de Rio das Pedras, na região Oeste do Rio de Janeiro, foi assim descrita pelo naturalista Magalhães Corrêa, nos anos 1930. Nas duas décadas seguintes, o território rural e bucólico atraía tanto elites quanto famílias de baixa renda pela oferta de belezas naturais. No projeto “Lembranças: Rio das Pedras”, a Agência Lume resgata a história da comunidade. Apesar das dificuldades dos anos 1940 e 1950, como transporte escasso, falta de telefone, água encanada e hospitais próximos, antigos moradores lembram o rio limpo, cheio de peixes e camarões, a Lagoa da Tijuca preservada, a solidariedade de parteiras e a sensação de segurança. Onde hoje funciona uma escola municipal, conta Maria da Rocha Robadey, 80 anos, “havia muitas plantações de cana, de banana, batata doce, aipim, e tinha uma pequena horta que era para o consumo da família”. Dona Célia Maximiniana, nascida em Rio das Pedras em 1953, tem saudades do rio: “Ah, o rio, que era bom, tinha peixe, lavava a roupa no rio. Era tudo limpinho, era uma beleza”.
📌 Investigação
Sem informação sobre o aborto legal, Dorca Mata Rattia, 12 anos, morreu em julho depois de uma série de negligências médicas. Do povo indígena Warao, vivia como refugiada venezuelana com a família na ocupação Terra Mãe, em Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte. A menina sofreu uma crise de eclâmpsia que evoluiu para hemorragia cerebral e choque circulatório. O diagnóstico pré-eclâmpsia chegou tarde demais, apesar de o risco de incidência e complicações fatais ser até cinco vezes maior em meninas do que em mulheres adultas – e a interrupção da gestação ser o único tratamento eficaz para garantir a vida. “Essa não é uma doença que mata de um dia para o outro. Os sintomas começam a aparecer por volta da 20ª semana de gestação. A pré-eclâmpsia já estava instalada”, explica a ginecologista Helena Paro. O Catarinas visitou a comunidade após o sepultamento da menina e reconstitui os fatos que antecederam sua morte. A família de Dorca afirmou que teria autorizado a interrupção da gestação se soubesse que era a forma de salvá-la.
🍂 Meio ambiente
A desinformação ambiental faz parte de uma indústria que articula interesses econômicos bem definidos, segundo a pesquisadora Débora Salles, coordenadora geral do Laboratório de Estudos de Internet e Redes Sociais (NetLab), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Entre setembro de 2024 e março deste ano, o grupo de pesquisa analisou cerca de 2,7 mil anúncios sobre transição energética publicados no LinkedIn e observou os indícios de greenwashing combinado a alegações exageradas, vagas ou distorcidas. Em entrevista ao Colabora, Salles fala sobre os preparativos para a COP30 a partir da desinformação climática baseada na intensidade dos interesses econômicos e políticos. “A transição energética é um bom exemplo. A Petrobras veiculou recentemente uma campanha publicitária onde declarou ser líder na transição energética justa. Como uma petrolífera, que defende a abertura de novas frentes de exploração de petróleo, pode se vender como líder nesse tema, se o cerne do seu negócio é explorar combustíveis fósseis?”
📙 Cultura
Os museus orgânicos são a principal estratégia para preservar as culturas populares e garantir renda aos mestres na região da Chapada do Araripe, que integra os estados do Ceará, Piauí, Pernambuco e Paraíba. Esses espaços colocam os mestres da cultura popular no centro da gestão. “Não é montado [apenas] por um museólogo que vem e define como as coisas vão ser. O museu é orgânico porque conta com o protagonismo dos próprios mestres na sua concepção”, afirma Cristiano Sousa, diretor Comercial da Fundação Museu Casa Grande – Memorial do Homem Kariri, o primeiro museu orgânico da região. O Nonada destrincha o papel desses centros culturais que permitem aos mestres apresentarem e comercializarem a sua arte durante o ano todo sem mediadores. No Museu do Mestre Espedito Seleiro, por exemplo, está a oficina do artista, uma loja e a área de exposição de artefatos que carregam três gerações de história da arte do couro no Cariri.
🎧 Podcast
“O restaurante Sumimi significa o amor pelo trabalho que iniciamos e queremos ser reconhecidos”, afirma a chef indígena Neurilene Cruz, responsável por criar pratos tradicionais do povo Kambeba no Sumimi, na aldeia Três Unidos, no Amazonas. O “Cirandeiras”, produção da Rádio Guarda-Chuva, narra sua trajetória e aborda o legado alimentar dos povos indígenas para a culinária brasileira, desde o uso da mandioca até as técnicas como o pilão para socar alimentos. Além de promover a gastronomia ancestral em seu território, com peixes pescados na hora e frutas colhidas no pé, Neurilene também atua no turismo de base comunitária e dá aulas de culinária indígena para ajudar outras mulheres a se tornarem mais autônomas.
✊🏾 Direitos humanos
Pela primeira vez na América Latina, o Encontro Mundial da Deficiência Visual reuniu especialistas, lideranças e pessoas cegas ou com baixa visão de diferentes países em São Paulo. O Eficientes mostra como o evento propôs o debate sobre acessibilidade, inovação e políticas públicas voltadas a essa população. “O país ainda convive com barreiras físicas e capacitistas, apesar dos avanços. No entanto, temos profissionais, entidades e ativistas comprometidos em mudar essa realidade”, afirma Robson Terzo Feitosa, voluntário da Associação Pernambucana de Cegos (APEC). Para ele, foi emocionante conhecer usuários da Língua de Sinais Tátil, recurso essencial para a comunicação de pessoas surdocegas. “Foi marcante perceber como a acessibilidade rompe barreiras e torna possível uma inclusão efetiva.”