O fim da Operação Verão e a invasão de caçadores no Vale do Javari
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🔸 Quatro meses se passaram desde o início do ano, e a Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados ainda não recomeçou os trabalhos. E não há previsão de retomada, como apurou O Eco. O motivo: o MDB, que por acordo de líderes partidários têm direito de indicar a presidência da comissão, não definiu sua indicação. As demais comissões da Casa voltaram a funcionar na primeira quinzena de março. Apesar de o colegiado ambiental ter tomado decisões que flexibilizam o rigor da legislação em 2023, a demora para o recomeço pode ser ainda mais prejudicial ao meio ambiente. “O problema é que a extensão dessa situação pode impulsionar a remessa dos processos diretamente ao plenário, reduzindo as chances de atuação dos poucos parlamentares que trabalham em prol da proteção ambiental, assim como das organizações da sociedade civil”, alerta Suely Araújo, coordenadora de políticas públicas do Observatório do Clima e ex-presidente do Ibama.
🔸 A propósito: o Congresso só deve voltar a discutir temas de impacto, como a prisão do deputado federal Chiquinho Brazão (RJ), na segunda semana de abril, informa a CartaCapital. Isso porque houve um acordo entre os presidentes da Câmara e do Senado para permitir que os parlamentares continuassem em seus estados, buscando alianças e filiações de olho nas eleições municipais. Deputados e senadores também articulam suas próprias candidaturas – pelo menos 55 dos 594 congressistas se declaram pré-candidatos no pleito deste ano.
🔸 Em decisão histórica, a Comissão da Anistia concedeu ontem reparação coletiva a dois povos indígenas perseguidos pela ditadura. Foi o primeiro julgamento de reparação coletiva da história do país e contemplou os povos Krenak, de Minas Gerais, e Guarani-Kaiowá, do Mato Grosso do Sul. O Metrópoles conta que a presidente da comissão, Eneá de Stuz e Almeida, pediu desculpas aos indígenas em nome do Estado. Ajoelhada, disse: “Eu quero, neste gesto, reconhecer o direito do povo Guarani-Kaiowá à terra, o direito a ser respeitado, e peço perdão, em nome do Brasil, por tudo que tem acontecido nos últimos 500 anos com seu povo”.
🔸 Depois de 56 mortes, o governo de São Paulo anunciou o fim da Operação Verão, na Baixada Santista. Foram ao todo 105 dias de ações policiais, criticadas pela alta letalidade e o excesso de violência dos agentes. A Alma Preta detalha um dos casos emblemáticos da operação – a morte da cabeleireira Edneia Fernandes, de 31 anos, mãe de seis crianças. Em relato exclusivo para a reportagem, uma testemunha afirma ter visto um policial militar disparando o tiro que matou Edneia: “Vi de forma muito nítida um policial apontando e atirando. Quando ouvi o barulho, só deu tempo de levantar, olhar para trás e ver ela estendida”.
📮 Outras histórias
Em vídeo: na Serra do Espinhaço, cordilheira que nasce em Minas Gerais e atravessa o estado até o Nordeste, vivem os apanhadores de sempre-vivas, espécie de flor muito presente na região. As comunidades de 15 municípios da região conquistaram o primeiro título brasileiro de Patrimônio Agrícola Mundial da Organização das Nações Unidas. O segundo episódio da série Saberes Ancestrais, do Projeto Preserva, mergulha no trabalho dos apanhadores de flores na serra, perto de Diamantina. É lá que Hilda de Fátima da Silva trabalha. Aprendeu com a avó e a mãe e, entre fevereiro e maio, costuma subir a serra para apanhar sempre-vivas. Nesse período, mora nas cavernas para se dedicar ao ofício. Depois que a colheita acaba, retorna para casa.
📌 Investigação
Maior comprador de miúdos bovinos brasileiros, Hong Kong adquire os produtos de um dos principais desmatadores da Amazônia. Em conjunto com o jornal Hong Kong Free Press, a Repórter Brasil revela que um dos fornecedores da carne que chega a Hong Kong são as fazendas de Bruno Heller. Apontado pela Polícia Federal como “o maior desmatador” da floresta amazônica em 2023, ele acumula multas que somam mais de R$ 27 milhões por desmatamento ilegal. Ao contrário da Europa e da própria China continental, Hong Kong não faz exigências quanto à origem e a rastreabilidade do gado que compra – e ainda distribui mercadoria para toda a China, o que evidencia a pegada de desmatamento no continente asiático.
🍂 Meio ambiente
No Vale do Javari, no estado do Amazonas, uma área indígena é alvo de invasão de caçadores. O cacique Alfredo Barbosa Filho, conhecido Alfredinho, do povo Marubo, registrou rastros deles na região do Alto Rio Curuçá, na divisa com Peru e Colômbia. O Fauna News explica que se trata do território indígena do país com maior registro de grupos em isolamento voluntário. Os caçadores deixaram armadilhas, sacos de lixo e ossos de animais na área. O cacique e o líder Itamar Marubo cobram da Funai e da Polícia Federal medidas mais efetivas e permanentes para retirar os invasores da terra indígena. O principal receio é que as armadilhas atinjam a população isolada: “Os isolados podem ter contato com essas armadilhas. Eles não sabem o que é isso aqui. Esse é um risco também”, explica Geovan Marubo.
📙 Cultura
O Ministério da Cultura vem repensando estratégias para incentivar o fomento cultural no país. A revisão de projetos inclui a reestruturação dos financiamentos para trabalhadores da cultura e também da Lei Rouanet. Em entrevista ao Nonada, Henilton Menezes, secretário de Economia Criativa e Fomento Cultural da pasta, diz ter encomendado pesquisas para mapear o setor cultural e compreender o impacto dos projetos aprovados na Lei Rouanet. Segundo ele, o objetivo é nacionalizar o Programa Nacional da Economia Criativa e compreender qual a melhor estratégia para apresentar possibilidades de financiamento. “Isso vai trazer uma remodelagem da própria Lei Rouanet, pois ela precisa enxergar a dinâmica da economia criativa dentro do próprio território”, explica.
🎧 Podcast
Em meio à epidemia de dengue no Brasil, as fake news com promessas de conter a proliferação do mosquito transmissor chamam a atenção. O Ciência Suja, produção da Rádio Guarda-chuva, explora o tema no primeiro episódio no formato de mesacast do programa. A infectologista Rosana Richtmann e o pesquisador Gerson Laurindo Barbosa desmentem mitos sobre a doença e explicam as principais formas de se proteger e de conter o aumento da proliferação do mosquito. A dupla debate ainda as pesquisas que resultaram na vacina da dengue, que tem ajudado a conter a epidemia no país.
👩🏽💻 Tecnologia
Para Silvana Bahia, as IAs são inteligências ancestrais. Coordenadora do Olabi e mulher de axé, como se define, ela defende que “a sabedoria elaborada nos terreiros das religiões de matriz africana é uma ciência encantada”. Em coluna na Fast Company, a especialista em tecnologia, inovação e inclusão conta como o Lab Coco, projeto de um terreiro de candomblé, tem reunido jovens da periferia de Olinda para desenvolver jogos com histórias dos orixás. A iniciativa busca na tecnologia um caminho de valorizar saberes tradicionais, como o oráculo Ifá, que inspirou o game “Contos de Ifá”. “É um jogo lindo, que amarra saberes diversos e encaminha valores, capacidades técnicas, narrativas e estéticas de uma comunidade marcada pela luta e pela criatividade em suas diversas manifestações.”