As falhas no programa de checagem do governo e as facetas de Pagu
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
🔸 Programa do governo federal para combater notícias falsas, o “Brasil contra Fake” publicou 168 conteúdos de março, quando foi lançado, até outubro. Mas 52% de suas notas de esclarecimento não seguem princípios básicos de checagem, como a citação de fontes com links ou ainda se baseiam apenas no próprio governo para apontar a veracidade ou não de determinado assunto. A análise é da Lupa em parceria com a Lagom Data. Das notas do portal, gerenciado pela Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência da República, 38% usam apenas links do governo para sustentar as conclusões, enquanto em 14% não há sequer links para verificar as fontes.
🔸 Bolsonaristas já se preparavam para alegar fraude em uma possível derrota de Javier Milei – mas o candidato à Presidência da Argentina venceu. Alguns então afirmaram que a vitória de Milei se deu pela quantidade de votos, minimizando o impacto de uma suposta fraude, enquanto outros creditam a vitória aos fiscais da campanha e ao voto impresso, embora esse modelo não exista na Argentina. Levantamento da Agência Pública, com dados do Laboratório de Estudos de Internet e Mídias Sociais (NetLab) da UFRJ, mostra que a extrema direita brasileira agora considera alegações de fraude pela esquerda como certas, mesmo sem evidências. A narrativa de fraude eleitoral, segundo o pesquisador Bruno Mattos, resulta de esforços coordenados e imita estratégias observadas nos Estados Unidos.
🔸 Se as comunidades terapêuticas para tratar usuários de drogas escalaram no governo Bolsonaro, agora, sob o mandato de Lula, seguem recebendo investimentos. São espaços em sua maioria evangélicos e que prometem a cura para o uso abusivo de drogas a partir da religião e da convivência entre pares. Mas acumulam denúncias de tortura, entre outras violações dos direitos humanos. O Intercept Brasil informa que o governo atual financia 15 mil vagas em comunidades terapêuticas no país e conta que os espaços já receberam repasses de mais de R$ 50 milhões do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome.
🔸 Em áudio: a PEC que limita os poderes do Supremo Tribunal Federal (STF) é, afinal, boa ou ruim? O episódio do “Sem Precedentes”, podcast do Jota, detalha o andamento da Proposta de Emenda à Constituição e o contexto político em que foi aprovada. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, defendeu a medida, negando a existência de uma crise e buscando equilíbrio entre os Poderes. Já no STF o clima azedou: a primeira sessão após a aprovação foi marcada por discursos dos ministros Luís Roberto Barroso e Gilmar Mendes com críticas à medida, avaliada como uma ameaça à institucionalidade.
📮 Outras histórias
“Eu tinha muita vontade de fazer jornalismo desde garota morando aqui [na Rocinha]. Meu interesse pela profissão surgiu a partir dos questionamentos da juventude. Um desses incômodos foi o alto índice de gravidez na adolescência na Rocinha”, lembra a jornalista Valdete Lima, de 78 anos. Por anos revisora e redatora no jornal O Dia, ela fez parte do Maioria Falante, jornal do movimento negro que circulou no Rio de Janeiro entre 1987 e 1996. O Fala Roça conta como o impresso a levou a conhecer o movimento negro dos Estados Unidos e recorda seu trabalho em Nova York para a construção da primeira biblioteca de literatura brasileira na cidade, a Brazilian Endowment of Arts.
📌 Investigação
A Usina Estreliana, em Pernambuco, deve cerca de R$ 51 milhões a ex-funcionários, além de mais de R$ 360 milhões à União. Para quitar as dívidas, o grupo leiloou suas propriedades. Os donos, no entanto, teriam usado laranjas, empresas de fachadas e até um DJ para comprar os próprios imóveis. É o que revela a Repórter Brasil a partir de documentos obtidos com o Ministério Público do Trabalho (MPT). Ao menos 17 leilões de propriedades da Estreliana foram realizados desde 2013. De acordo com o MPT, há “clara existência de fraude na arrematação” em parte dessas operações.
🍂 Meio ambiente
Embora as emissões de gases de efeito estufa em 2022 tenham diminuído 8% em relação a 2021, o número é ainda o terceiro maior desde 2005, atrás apenas de 2019 e 2021. Os dados são do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), realizado pelo Observatório do Clima com a parceria de diferentes organizações brasileiras. O Eco explica que, segundo o documento, a queda desses poluentes em 2022 foi puxada pela redução da taxa de desmatamento na Amazônia e por chuvas abundantes, que diminuíram o acionamento de termelétricas fósseis.
Em imagens: fotografias feitas em setembro deste ano mostram a devastação histórica causada pelo fogo e os impactos da fumaça em três municípios do Amazonas, onde foi atingida a marca de 6.991 focos de incêndio, o segundo pior índice desde o início da série histórica que começou em 1998, perdendo apenas para 2022. Na Amazônia Latitude, o fotojornalista Edmar Barros compartilha os registros das queimadas, as cicatrizes em trecho de comunidade do povo Mura, em Autazes, e o trabalho dos bombeiros.
📙 Cultura
Homenageada na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que acabou ontem, Patrícia Galvão, a Pagu, ganhou duas novas antologias: “Até Onde Chega a Sonda”, que reúne seus escritos prisionais, e “Palavras em Rebeldia: uma Antologia do Jornalismo de Patrícia Galvão”, com seus textos jornalísticos. O Le Monde Diplomatique Brasil destaca como as produções ajudam a desconstruir o “mito Pagu” como musa para revelar as múltiplas facetas de Patrícia Galvão como escritora, jornalista e militante.
“Não vou deixar com que homens limitem qual tamanho mulheres podem chegar.” Esta foi a afirmação da rapper Ebony ao fim da música “Espero Que Entendam”, em que expõe a atitude machista de artistas masculinos e de seus públicos ao ignorar as produções de mulheres no rap. A revista AzMina destrincha o movimento de mulheres jovens, como Duquesa, MC Luanna e Cristal, na cena do Hip Hop nacional e como elas estão demarcando temas como autoestima, liberdade sexual, raça e gênero.
🎧 Podcast
Apresentar tecnologia para crianças de forma intencional é um caminho para monitorar e direcionar seu uso. No “De 0 a 5”, produção do Porvir, a professora Cláudia Regina Silva, do Centro de Educação Infantil Jardim Reimberg, em São Paulo, conta como tem aliado equipamentos tecnológicos, como câmeras fotográficas, tablets e celulares, ao aprendizado. Na unidade, as crianças trabalham até mesmo como uma agência de notícias. “A gente precisa mostrar que as tecnologias têm outras funcionalidades além de ver vídeos, de ver TikTok”, explica.
✊🏽 Direitos humanos
“Um dos principais sintomas da influência capitalista no agravamento da desigualdade é a aporofobia”, afirma o padre Júlio Lancellotti. O termo se refere ao ódio, aversão e desprezo a pessoas pobres. Segundo a Emerge Mag, a aporofobia se revela nas cidades também por meio da “arquitetura hostil”, em que as construções são planejadas com barras em bancos, espetos afiados em canteiros e pedras pontiagudas sob viadutos para afastar pessoas em situação de rua dos espaços. Promulgada em dezembro de 2022, a Lei 14.489 Padre Júlio Lancellotti proíbe essas estruturas e indica um canal de denúncias. “A lei está aí, mas vários municípios estão rejeitando”, diz Júlio Lancellotti.
A análise da Lupa sobre a plataforma "Brasil contra Fake" tem um enorme erro de origem.
Eles avaliaram a plataforma "Brasil contra Fake" como uma agência de checagem, enquanto o próprio governo informa que ela apresenta "respostas para as principais fake news envolvendo o Governo Federal".
Inclusive o primeiro banner, disponível na home da plataforma, traz essa informação.
Assim, toda a análise da Lupa é furada, pois analisa em um sentido que a própria plataforma não se coloca como sendo.