As fake news sobre o RS e o impacto da BR-319 sobre povos indígenas
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🔸 O nível do Guaíba, em Porto Alegre, baixou, mas, na manhã de hoje, ainda estava acima dos 5 metros. Uma espécie de corredor humanitário passou a ser construído na capital, informa o Sul21. Será um caminho em pista única, construído a partir da colocação de pedras em uma área de cerca de 300 metros de extensão. Por lá, devem circular ambulâncias e caminhões com suprimentos. A ideia é criar um acesso alternativo à cidade e desafogar a rodovia RS-118. O plano prevê a conclusão da obra em três dias. Em Canoas, uma das cidades mais afetadas pelo desastre climático, dois terços do município ficaram submersos e, segundo a prefeitura, serão necessários 45 dias até a água retornar ao nível normal. Cerca de 20 mil pessoas estão em abrigos e contam com a solidariedade de voluntários. O principal problema, que se repete em diversos abrigos, é a falta de colchões. As pessoas dormem no chão ou sentadas em cadeiras. “É uma operação de guerra, estamos organizando uma cidade”, diz Edinei Teixeira, produtor de eventos que se tornou voluntário. Ele lamenta a falta de mediação da prefeitura entre os abrigos. Seria uma forma de organizar e distribuir melhor as doações.
🔸 Em imagens: a Defesa Civil registrou cem mortos e 130 desaparecidos. Mais de 158 mil gaúchos precisaram deixar suas casas por causa das enchentes e mais de 66 mil estão em abrigos espalhados por todo o estado. São os “refugiados climáticos”, termo usado para se referir a pessoas submetidas a um deslocamento forçado em decorrência de um evento climático extremo que coloca em risco suas vidas. O Intercept Brasil reúne em fotos o êxodo forçado dos gaúchos.
🔸 “Nós estamos há sete dias sem banho. Sete dias comendo arroz e feijão. Nós estamos [em] seis dentro de uma cela e eles pagam um, dois litros de água para cada cela. Dois litros para seis caras. E a situação de higiene…” O relato obtido pela Ponte é de um detento da Penitenciária Modulada Estadual de Montenegro, a 60 km de Porto Alegre, uma das unidades prisionais que estão ilhadas no Rio Grande do Sul. Lá, não houve inundação, mas falta água, embora notas oficiais digam o contrário. “Se antes das enchentes a situação dos presídios já era ruim, imagine agora”, afirma Ana Paula Saugo, vice-presidente da ONG Viver sem Cárcere. A reportagem conversa com familiares de detentos. Com as casas alagadas, eles precisam se arriscar para ir até o presídio. Depois de dias de angústia pela falta de informações, as famílias foram liberadas para levar água, alimentos e itens de higiene até a porta da unidade.
🔸 A desinformação em meio à calamidade pública amplifica a crise. O uso de cenas fora de contexto, a divulgação de medidas falsas e os ataques políticos são exemplos de como esses conteúdos se apresentam. “Há quem indague: mas falar das enchentes, mesmo usando informações erradas, não ajuda a chamar a atenção para a calamidade? Não”, escreve Fernanda da Escóssia, na “Plataforma”, newsletter do Aos Fatos. Ela explica que as informações mentirosas atrapalham resgates urgentes, lista dicas para não disseminar desinformação e lembra a importância do jornalismo: “Nas horas de comoção, de crise, de grandes tragédias, o trabalho jornalístico se torna ainda mais relevante. É necessário senso crítico para cobrar providências, responsabilidade social para não aumentar o pânico e respeito pela dor das vítimas”.
🔸 A propósito: a Polícia Federal vai investigar a divulgação de fake news sobre as enchentes no Rio Grande do Sul. A solicitação partiu do Ministério da Justiça, com base num relatório da Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom). O documento lista publicações nas redes sociais e pede providências. A CartaCapital conta que o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o senador Cleitinho (Republicanos-MG) e o coach Pablo Marçal estão entre os nomes citados.
🔸 Enquanto isso, no Congresso… Avança o Pacote da Destruição, como foi batizado por ambientalistas um conjunto de 25 projetos de lei e emendas constitucionais. O Congresso em Foco detalha as propostas que têm grandes chances de avançar rapidamente. Segundo o Observatório do Clima, entre as mais nocivas estão a anistia para desmatadores, a exploração mineral em unidades de conservação e redução da reserva legal da Amazônia de 80% para 50%.
📮 Outras histórias
Manoel Agripino dos Santos passou 38 anos de seus 72 na Vila Esperança, bairro de Monteiro, em Recife. A borracharia onde trabalha é um dos últimos imóveis que continuam de pé em meio às obras para a construção da ponte Jaime Gusmão. Mas isso deve mudar, conta a Marco Zero. Há 15 dias, o borracheiro recebeu o aviso de que terá de desocupar o local. Ao lado dele, já se acumulam destroços das casas que foram demolidas para o projeto da prefeitura. Não será a primeira vez que terá de mudar a borracharia de lugar. Pouco mais de três anos atrás, ele precisou sair da praça de Casa Forte, por conta da construção de um shopping. “Eu já tinha minha casa aqui na Vila. Então quando recebi da prefeitura o imóvel onde a borracharia funciona hoje foi ótimo, mas agora eu não sei mais como vai ser depois que derrubarem aqui”, lamenta.
📌 Investigação
O governo de Sergipe e a Prefeitura de Aracaju instalaram câmeras inteligentes em diversos espaços públicos, como escolas e estádios de futebol, com objetivo de combater a criminalidade. No entanto, o reconhecimento facial não tem regulamentação no Brasil e deixa os grupos vulneráveis sujeitos a violações de direitos, além da possibilidade de invasão da privacidade e da criação de um ambiente de vigilância constante, sem o consentimento livre e informado dos cidadãos, como mostra a Mangue. No dia 13 de abril, por exemplo, o personal trainer João Antônio Trindade Bastos, um homem negro de 23 anos, foi abordado de maneira constrangedora por policiais militares no estádio Batistão durante a final do Campeonato Sergipano, após uma falha no sistema de reconhecimento facial.
🍂 Meio ambiente
Rodovia que liga Manaus (AM) a Porto Velho (RO), a BR-319 afeta mais de 18 mil indígenas em 63 territórios, cinco comunidades não demarcadas e uma população isolada. A transparência de contratos para obras na rodovia, porém, é baixa em quase todas as etapas, segundo um levantamento da Transparência Internacional. A Amazônia Latitude analisa os principais pontos do documento: em uma escala de zero a cem pontos, as consultas livres, prévias e informadas às comunidades afetadas receberam nota zero. A avaliação contraria a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da qual o Brasil é signatário.
📙 Cultura
“Enaltecemos artistas que fizeram diferença na dança, mas que são deixados de lado pelo fato de serem de pessoas periféricas, pretas e LGBTQIAPN+”, afirma Biel Lima, integrante do Coletivo Amem, formado por artistas, produtores e ativistas afro-LGBTQIA+. Segundo a Emerge Mag, o grupo é responsável pelo “Ball: Isso é Baile”, cuja segunda edição aconteceu no último Dia Mundial da Dança (29/04) no Capão Redondo, zona sul de São Paulo. O evento de ballroom – movimento que surgiu na década de 1960 nos Estados Unidos por pessoas negras e latinas LGBTQIA+ – reuniu coletivos de artistas de diferentes regiões de São Paulo e de outras capitais do Brasil, como a Casa de Mandacaru, de origem alagoana, e a Casa Maniva, do Amazonas. Com dez categorias, a Ball contemplou a diversidade de identidades queer, trans, negras e periféricas nas passarelas.
🎧 Podcast
Menor estado do Brasil, com apenas 75 municípios, o Sergipe tem uma variedade cultural e natural que leva a um sentimento de pertencimento que a população chama de “sergipanidades”, termo que também deu nome a um projeto de extensão universitária criado pelo professor Denio Azevedo, da Universidade Federal de Sergipe, e que chegou a escolas, praças e museus. No “Nordestinidades”, produção da Eco Nordeste, Azevedo conta a proposta da iniciativa e compartilha as características próprias do estado, sua diversidade linguística e as principais manifestações.
🧑🏽⚕️ Saúde
Prato típico dos brasileiros, o arroz com feijão está perdendo espaço para os fast foods e refeições prontas. É o que aponta artigo publicado na “Revista de Nutrição” por pesquisadores da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). A Agência Bori explica que foram analisados dados dos blocos de consumo alimentar das Pesquisas de Orçamentos Familiares (POF) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) entre os anos de 2008 e 2018. Nesse período, a substituição de alimentos tradicionais por ultraprocessados e de preparo rápido pode ter contribuído para o aumento do excesso de peso e da obesidade entre homens e mulheres. As mulheres também apresentaram um crescimento na ingestão de vegetais e, ao mesmo tempo, de bebidas alcoólicas.