A expectativa do julgamento de Bolsonaro e a despedida de Verissimo
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🔸A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) inicia amanhã o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros sete acusados de tentativa de golpe de Estado, que culminou nos atos do dia 8 de janeiro de 2023. A Corte analisa a denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR). O Congresso em Foco relembra quais são os crimes atribuídos a cada réu do “núcleo 1” da trama golpista. Bolsonaro é acusado de liderança de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado. Segundo o documento da PGR, o ex-presidente incentivou narrativas de fraude eleitoral sem provas, atacou publicamente o processo democrático, mobilizou apoiadores para contestar o resultado das eleições e teria criado um ambiente propício aos ataques de 8 de janeiro.
🔸 Apenas cinco dos 11 ministros do STF devem votar no julgamento de amanhã: Alexandre de Moraes, Cristiano Zanin, Cármen Lúcia, Luiz Fux e Flávio Dino, todos da Primeira Turma. Já Luís Roberto Barroso, Edson Fachin, Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Kassio Nunes Marques e André Mendonça não votarão. A CartaCapital explica que, em dezembro de 2023, o STF decidiu que denúncias e ações penais voltariam a ser analisadas pelas turmas – e não pelo plenário –, devido ao excesso de processos gerados pelo 8 de janeiro.
🔸 Ainda o julgamento: o STF buscará ser o mais discreto possível, sem espetacularização, de acordo com os especialistas ouvidos no “Sem Precedentes”, podcast do Jota. Eles analisam os efeitos das audiências para a Corte. “Existe uma grande expectativa para esse julgamento de todos os lados, mas acredito que seja um pouco decepcionante para as pessoas que estão esperando uma cena”, afirma Juliana Cesario Alvim, professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Diante da possibilidade de pedido de vista de algum dos ministros, incluindo Fux, o professor do Insper Luiz Fernando Gomes Esteves diz que existe um desejo coletivo dos magistrados de encerrar as sessões até o dia 12.
🔸 Já na Câmara, tramitam ao menos 20 projetos de lei (PLs) que tratam dos ataques do 8 de janeiro. Nove deles buscam anistiar os envolvidos nos atos golpistas e limitar ou alterar os poderes do STF. A Lupa analisa as inconsistências nas justificativas apresentadas nas propostas, com estratégias discursivas e distorções históricas ou jurídicas. Na justificativa do PL 1815/2025, de autoria do deputado federal Fausto Pinato (PP-SP), por exemplo, os participantes dos ataques merecem a anistia porque foram “induzidos ao erro” por lideranças políticas e “por redes de desinformação". Já o PL 1983/2025, do deputado federal Beto Pereira (PSDB-MS), prevê anistia para “beneficiar vítimas da desinformação, da má-fé e da manipulação”.
📮 Outras histórias
Homenagem aos mortos, celebração da vida e alerta sobre as ameaças aos rios dão o tom do Kuarup, ritual indígena realizado no Parque Indígena do Xingu, no Mato Grosso. O rito aborda a morte e o luto, a partir da filosofia de convivência harmônica em comunidade. Em parceria com a Amazônia Latitude, a Sumaúma acompanhou o Kuarup na Aldeia Yawalapiti, entre o fim de julho e o início de agosto, com a presença de cinco etnias do Xingu. Durante a cerimônia, troncos de árvores foram ornamentados e lançados ao rio como símbolo de despedida e continuidade da existência. Nos últimos anos, os Yawalapiti observam com preocupação as barragens erguidas em fazendas de soja ao redor do território. “Essas represas fazem o Rio Tuatuari morrer”, afirma Tapi Yawalapiti, liderança da aldeia. “A água some, o peixe desaparece. E sem peixe, nossa comida, nossa cultura e nossa vida ficam ameaçadas.”
📌 Investigação
Marés e estações desreguladas, calor mais intenso, chuvas fortes, enchentes e queda da disponibilidade de espécies já fazem parte do cotidiano de mulheres pescadoras do litoral brasileiro. No projeto “Vozes do Mar”, em parceria com o Pulitzer Center, o Conversation Brasil ouviu lideranças femininas de diferentes regiões costeiras para mostrar como essas trabalhadoras – ainda invisíveis em dados e políticas públicas – sustentam famílias, preservam tradições e garantem a segurança alimentar, enquanto enfrentam a falta de representatividade e reconhecimento. Essa invisibilidade limita o acesso a recursos e enfraquece a capacidade de adaptação das comunidades costeiras, onde os efeitos da crise climática já são perceptíveis.
🍂 Meio ambiente
As veredas do Cerrado estão à beira do colapso e podem desaparecer em 50 anos, alertam pesquisadores. Localizados no Mosaico Sertão Veredas-Peruaçu, norte de Minas Gerais, esses oásis alimentam as nascentes e sustentam a biodiversidade e os modos de vida tradicionais. O Projeto Preserva informa que poços clandestinos, monoculturas e a crise climática estão acelerando a exaustão dos oásis do sertão. “Como as veredas estão secando, a vegetação está mudando e muitas espécies de ambientes úmidos estão deixando de existir. Estão sendo substituídas por espécies do Cerrado”, afirma a coordenadora do Programa de Pesquisa Ecológica de Longa Duração, Yule Nunes. A manutenção da água e seu fluxo na vereda protege o ecossistema dos incêndios.
📙 Cultura
“Luis Fernando Verissimo escreveu sobre os altos e baixos do país sem jamais esconder de que lado estava”, afirma a jornalista Cláudia Laitano, em artigo na revista piauí. Entre 1967 e 2021, o escritor publicou em dezenas de veículos nacionais e internacionais. Colaborou com programas de humor da Globo, como “O Planeta dos Homens” e “TV Pirata”, escreveu relatos de viagem, contos e romances, desenhou, criou personagens e vendeu mais de 5 milhões de exemplares. Desde sua estreia em 1973 com “O Popular”, lançou mais de 80 livros. “Em meados dos anos 1970, quando comecei a ler jornais, o porto-alegrense LFV já era um cronista diário consagrado. Meus avós liam, meus pais liam, meus irmãos e eu líamos. Nunca se ouviu alguém dizer ‘não entendi a crônica do Verissimo de hoje’ ou ‘hoje ele estava sem assunto’”, ressalta Laitano. Luis Fernando Verissimo morreu no sábado, aos 88 anos, em Porto Alegre.
🎧 Podcast
Pessoas idosas são obrigadas pelo governo a viver em colônias enquanto aguardam o fim da vida. Essa é a sinopse do longa-metragem distópico “O Último Azul”, dirigido por Gabriel Mascaro, lançado recentemente. No “Cineclube Matinal”, produção da Matinal, os jornalistas Roger Lerina e Marcelo Perrone conversam sobre o filme vencedor do Urso de Prata, no Festival de Berlim. O episódio também traz a recente restauração de “São Paulo, Sociedade Anônima”, de 1965, clássico do cinema nacional dirigido por Luiz Sérgio Person e recuperado pela Cinemateca Brasileira. “É impressionante como ele segue bom na sua proposta, tanto cinematográfica, narrativa, e estética principalmente. Ele tem planos lindíssimos da cidade de São Paulo”, destaca Perrone.
👩🏾⚕️ Saúde
Mesmo os ultraprocessados promovidos como opções saudáveis – aqueles que passaram por reformulação para diminuir as quantidades de sal, açúcar e gorduras saturadas – fazem mal à saúde, sobretudo quando comparados com uma dieta de ingredientes minimamente processados. O Joio e O Trigo esmiúça um experimento inédito feito no Reino Unido, comparando as duas dietas, que seguiram as recomendações do guia alimentar britânico. “Em ambas as dietas, houve melhorias. Mas quando a dieta era minimamente processada, vimos reduções significativamente maiores no peso, na massa de gordura e também melhorias muito maiores no controle da compulsão alimentar. Isso também pode ajudar na manutenção do peso a longo prazo”, afirma o cientista clínico Samuel Dicken.