Os ex-candidatos entre os presos de Brasília e uma luta indígena em Pernambuco
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🔸 O Exército recusou tentativas de desmobilização do acampamento bolsonarista em frente ao quartel general em Brasília e vetou prisões no local. É o que disse o ex-comandante da Polícia Militar (PM) do Distrito Federal Fabio Augusto Vieira, preso após os ataques criminosos aos Três Poderes no dia 8 de janeiro. Ele também afirmou que, depois da retomada dos prédios públicos, a PM teria tentado realizar prisões de pessoas no acampamento, mas a ação foi vetada pelo Exército. A CartaCapital detalha o depoimento de Vieira à Polícia Federal.
🔸 Já o comandante de Operações da PM de Brasília pediu folga às vésperas dos ataques. As datas escolhidas por ele foram 5 e 8 de janeiro, justamente no dia dos atentados na capital federal. A coincidência das ausências dele e do ex-secretário de Segurança Pública Anderson Torres, que estava nos Estados Unidos, chamam a atenção da cúpula do governo federal, como apurou o Metrópoles.
🔸 Mais uma liderança da Polícia Federal participou da ação golpista em Brasília: o ex-presidente do Sindicato dos Policiais Federais do Distrito Federal (Sindipol-DF) Fernando Honorato estava dentro do plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) quando o prédio da Corte foi depredado. Ele é um de pelo menos quatro líderes da PF sob investigação por envolvimento direto com os ataques. Em dois vídeos que fez naquele domingo, Honorato afirmou que era “o povo” quem depredava o prédio, além de acusar ministros de “corrupção” e de “safadeza”. Ao Congresso em Foco, ele disse que estava apenas registrando a quebradeira.
🔸 Para ouvir: todos os envolvidos serão investigados no inquérito aberto no STF para investigar atos antidemocráticos. Mas eles serão julgados pelo STF? As dúvidas jurídicas sobre como o Supremo vai tratar a ação golpista são esclarecidas pelo Sem Precedentes, podcast do Jota.
🔸 Não só policiais, mas também ex-candidatos estavam presentes na massa golpista que atacou Brasília. Levantamento inédito da Lupa revela que 43 dos 1167 presos pelos atentados já disputaram eleições no Brasil em 13 estados. Pelo menos sete deles se candidataram a uma vaga no pleito de 2022. A reportagem lista os nomes e esmiúça o histórico de alguns deles, como Luiz Adrian de Moraes Paz (PRTB-MG), que disputou quatro eleições e é diretor nacional do Movimento Pró-Vida e Pró-Família.
📮 Outras histórias
Indígenas pernambucanos estão em luta por um terreno sagrado e, desde o primeiro dia do ano, estão acampados num terreno abandonado em Igarassu, a 27 quilômetros de Recife. Os Karaxuwanassu, povo pluriétnico que reúne diversas etnias indígenas como Xukuru, Karapotó, Fulni-ô e Warao, pedem para que seja criada uma aldeia, que, segundo o Marco Zero, seria a primeira reserva indígena em contexto urbano do Nordeste. “Os encantados, que são nossos guias espirituais, nos guiaram até esse território e, por isso, nós o ocupamos porque ele é nosso por direito. Nesse lugar viveram indígenas que travaram diversas batalhas, principalmente com os portugueses colonizadores, portanto este é um processo de reparação histórica”, afirma a cacica Valquíria Kialonan.
No município de Campinápolis, no Mato Grosso do Sul, um casal – ele, pintor; ela, vendedora de roupas – relata ter sofrido tortura pela Polícia Militar que os acusavam de tráfico de drogas. Nos fundos da própria casa, ela diz que foi afogada no tanque e que recebeu choques nas pernas, no abdômen e na cabeça. Depois, teria sido levada para outro local onde foi obrigada a cavar um buraco que seria, segundo os policiais, sua própria cova. O relato está em reportagem da Ponte, ao lado da versão dos dos policiais, que não tinham mandado para entrar na casa. Eles alegam que chegaram à residência do casal após terem sido informados por um usuário de drogas que alegou ter comprado entorpecentes lá.
📌 Investigação
“Bora subir, gente, bora subir. Sou covarde não, vamos lá!” O engenheiro Albert Alisson Gomes Mascarenhas filmou a si e a outros bolsonaristas durante a invasão dos prédios dos Três Poderes em Brasília. Albert é filho de Ainesten Espírito Santo Mascarenhas, um dos donos da construtora Meirelles Mascarenhas. Em 2020, a empresa chegou a ocupar o posto de construtora campeã de contratos com o governo federal, que somados passam a casa dos R$ 793 milhões. A Repórter Brasil revela que a empresa atua principalmente na Amazônia Legal e conseguiu projetos para a recuperação de trechos da rodovia Transamazônica e da BR-319. Embora não seja sócio do pai, Albert afirma, no Instagram, atuar em uma delas – o Posto Cristal, que, desde junho de 2019, passou a abastecer veículos de órgãos da União.
🍂 Meio ambiente
O buraco na camada de ozônio está se recuperando. Relatório do Painel de Avaliação Científica confirma que a eliminação gradual de quase 99% das substâncias destruidoras de ozônio proibidas pelo Protocolo de Montreal, que entrou em vigor em 1989 e foi assinado por 197 países, conseguiu proteger a camada. Com a manutenção das proibições e eliminação completa dos produtos químicos, a estimativa é que, em quatro décadas, ela esteja no mesmo nível da década de 1980. O Projeto Colabora analisa o documento lançado na última quinta-feira e a importância do Protocolo de Montreal para mitigar as mudanças climáticas.
Em 16 capítulos, o livro “Agricultura de Baixa Emissão de Carbono em Regiões Semiáridas – Experiência Brasileira” traz um vasto conteúdo sobre práticas para o desenvolvimento de agroecossistemas sustentáveis. Lançado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Semiárido, o material aborda a agricultura de baixo carbono e o uso de tecnologias simples, como a adoção de sistemas de plantio direto e o uso de adubos verdes. “O livro faz análises e traz elementos que podem subsidiar a proposição de políticas públicas”, afirma Maria Auxiliadora Coêlho, chefe-geral da Embrapa Semiárido. O Eco Nordeste explica quais são as práticas propostas pela obra.
📙 Cultura
Depois de vistorias, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) elaborou um relatório sobre os danos causados por bolsonaristas nos bens arquitetônicos dos prédios dos Três Poderes. Diferentemente das obras de arte, a maioria da destruição causada nas edificações é reversível, mas chama atenção a força empregada pelos invasores – no Palácio do Planalto, por exemplo, pedras portuguesas foram retiradas do piso na parte exterior. A Escotilha mergulha no documento, que pede o acionamento do Fundo do Patrimônio Mundial, entregue à ministra da Cultura, Margareth Menezes.
“Agentes e testemunhas da história do Brasil.” É a partir das perspectivas de mulheres negras que a peça teatral “Uma Leitura dos Búzios” aprofunda a Conjuração Baiana, uma revolta popular de caráter independentista, abolicionista e republicano que aconteceu, em 1798, em Salvador, e foi ignorada pelas comemorações do Bicentenário da Independência. “Vivemos uma diversidade de corpos e experiências. São pessoas com mais de 40 anos de teatro e outras pela primeira vez no palco. No elenco, temos mulheres cis, mulheres trans, pessoas não binárias. A diversidade reflete a riqueza de nossa cultura e uma luta que é antiga e contemporânea ao mesmo tempo”, aponta Mônica Santana, responsável pela elaboração do texto. O Nós, Mulheres da Periferia retrata o espetáculo em cartaz no Sesc Vila Mariana, em São Paulo.
🎧 Podcast
Coautora do livro “A Democracia Equilibrista”, Gabriela Lotta coordenou uma pesquisa sobre assédio institucional durante o governo Bolsonaro, ouvindo servidores que sofreram perseguições. A cientista política é a entrevistada do novo episódio do podcast 451 MHz, produção da Quatro Cinco Um e da Rádio Novelo. No primeiro momento, a entrevista foi gravada no fim de 2022, mas a invasão em Brasília no dia 8 de janeiro trouxe a necessidade de uma nova conversa. Se antes Lotta afirmava que Bolsonaro representava um governo contra o Estado, agora ela atualiza: há uma parcela da sociedade contra o Estado. “Uma parcela pequena, mas extremamente violenta”.
👩🏽💻 Tecnologia
Tema que vinha sendo apontado por Lula há quase um ano, a regulação das redes sociais é uma das discussões quentes do novo governo. A integração entre Ministério da Justiça, Secom e Advocacia-Geral da União deve ser os primeiros passos para que o marco regulatório caminhe, como apurou o Núcleo, que também traz tópicos que apontam uma direção, como o relatório do Grupo Técnico de Comunicações durante a transição, a criação da Secretaria de Políticas Digitais dentro da Secom e a Coordenação para Direitos Digitais na pasta de Justiça.