As estradas bloqueadas, o silêncio de Bolsonaro e o governo de transição

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🔸 Desde a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas urnas no domingo, bolsonaristas passaram a bloquear estradas pelo país. Ontem à tarde, sob a alegação de não aceitar a vitória de Lula e exigindo um golpe militar, caminhoneiros fechavam o tráfego em vias de quase todos os estados e no Distrito Federal. À noite, conta o Congresso em Foco, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, determinou que a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e as polícias militares estaduais tomem ações imediatas para a desobstrução das estradas sob pena de multa por hora de descumprimento. Na madrugada, o Supremo Tribunal Federal formou maioria a favor da decisão de Moraes. A PRF anunciou que já iniciou a operação de liberação das rodovias. O Portal Terra relata que das 23h às 4h30 de hoje, segundo o órgão, 53 pontos de bloqueio foram liberados.

🔸 Em vídeo: há imagens que mostram policiais rodoviários federais cooperando com bolsonaristas nos bloqueios. A Agência Pública reúne alguns exemplos, como uma gravação num trecho da rodovia BR-470 em Santa Catarina, em que o agente chama os manifestantes de “nossos patrões, enquanto servidores públicos”. 

🔸 Em meio a cumprimentos de mandatários internacionais, o presidente eleito ainda não recebeu o aguardado telefonema de Jair Bolsonaro (PL), reconhecendo a vitória do petista nas urnas. Até a noite de ontem, ele permanecia em silêncio, embora aliados, como o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL),  já tivessem parabenizado Lula, como mostra o Nexo. O primeiro do clã Bolsonaro a se pronunciar foi Flávio Bolsonaro. No Twitter, conta o Sul21, ele agradeceu aos eleitores que ajudaram a “resgatar o patriotismo” e completou: “Vamos erguer a cabeça e não vamos desistir do nosso Brasil!”.

🔸 O silêncio preocupa – pode ser indício de um processo de transição sem a cooperação de Bolsonaro. O Metrópoles explica como funciona a mudança governamental, guiada por uma lei de 2002 e por um decreto de 2010. Um dos princípios fundamentais é a colaboração entre o governo atual e o eleito e a boa-fé dos atos administrativos. Do lado de Lula, seu vice, Geraldo Alckmin, Fernando Haddad, Randolfe Rodrigues e André Janones devem integrar o grupo da transição, mas o nome do coordenador ainda não está definido. Da parte do atual governo, a coordenação ficará a cargo do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira.

🔸 Na véspera do segundo turno, o Tribunal Superior Eleitoral suspendeu 15 perfis, além de banir cinco grupos do Telegram, que juntos tinham 580 mil participantes, e derrubar notícias falsas compartilhadas por apoiadores de Bolsonaro, entre outras ações de combate à desinformação. A Lupa mostra que só Carla Zambelli foi alvo de pelo menos três decisões do TSE publicadas no domingo em razão de compartilhamento de conteúdo falso.

🔸 Falando na deputada bolsonarista…“A mídia invisibilizou o racismo. A deputada admitiu que cometeu crime eleitoral, mas é o que menos importa. Carla Zambelli cometeu crime de racismo e deve responder por esse crime também.” A declaração é de Dina Alves, advogada, pesquisadora visitante da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, e autora da pesquisa “Rés Negras, Juízes Brancos”. Ela comenta as imagens em que a deputada aliada de Bolsonaro persegue, com uma pistola em punho, o jovem negro Luan Araújo, pelo bairro dos Jardins, em São Paulo. Em entrevista à Ponte, ela também fala sobre o privilégio branco de Zambelli “de poder pegar uma arma e sair atirando no meio da rua”. 

📮 Outras histórias

• Em um dia de votação com pouca fila, mas com atrasos devido a operações policiais, o Favela em Pauta reúne informações de como foi o domingo em quatro periferias espalhadas pelo Brasil. Desde a Baixada Fluminense (RJ), que surpreendeu por sua calmaria, até as comemorações agitadas da zona oeste de Recife (PE). No Pará, quilombolas denunciaram empresa por obstruir a estrada que utilizam do quilombo até o colégio eleitoral. A Agência Tatu detalha os dados dos votos no Nordeste por estado, tanto para presidente quanto para os que tiveram segundo turno para governador.

• O jovem Pedro Henrique Dias, de 28 anos, foi assassinado em Belo Horizonte (MG), enquanto comemorava a vitória de Lula com sua família. Segundo a Polícia Militar, o suspeito saiu atirando na rua e deixou outras quatro pessoas feridas. O BHAZ conta ainda que duas armas e uma faca foram apreendidas, que, de acordo com ele, possui o registro CAC (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador). 

📌 Investigação

• A construtora MRV já foi flagrada sete vezes – a última no ano passado – com trabalhadores em situação análoga à escravidão, mas conseguiu sair da “lista suja” do trabalho escravo a partir de um acordo com o governo federal, assinado em agosto. Com isso, a empresa garante acesso a crédito, por exemplo. A Repórter Brasil revela que a multa prevista no texto não chega a 1% dos lucros da MRV em 2021 e, em caso de descumprimento, nada impede que ocorra um segundo acordo. O Ministério do Trabalho considera o acordo atual um enfraquecimento do combate a esse tipo de violação.

🍂 Meio ambiente

• Não só o desmatamento e os conflitos por terras aumentam na região sul da Amazônia. O avanço das atividades econômicas altera os valores da sociedade local, que passa a considerar a natureza como inimiga do progresso. Ao longo de dois anos de viagens, pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas e da Universidade Federal de Rondônia investigaram a fronteira do Amazonas com seus estados vizinhos Acre, Rondônia e Mato Grosso. A Agência Bori apresenta as conclusões do artigo. “Com esses grupos econômicos avançando no sul do estado do Amazonas, a população não vê a floresta amazônica como um bem social, cultural, cria-se a ideia de que a floresta em pé não rende dinheiro”, lamenta a autora do trabalho, Viviane Vidal da Silva.

• “CEO ativista.” Assim se define João Paulo Pacífico, fundador há 13 anos de uma das maiores securitizadoras do mercado, a Gaia, que vendeu o negócio em março deste ano. Reteve a marca Gaia e, então, passou a se dedicar a estruturar operações de crédito para negócios com impacto social e ambiental, como emissões para financiar a agricultura familiar e orgânica do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O Reset narra a trajetória do empresário e explica seu trabalho como investidor do MST. 

📙 Cultura

• O longa-metragem “Hamlet”, do diretor gaúcho Zeca Brito, mergulha no caos político durante a mobilização de estudantes secundaristas em escolas públicas. A narrativa híbrida entre ficção e documentário traz registros reais feitos em escolas de Porto Alegre (RS) e conta a história de um estudante que participa do movimento enquanto tem profundas crises internas, como descreve a Escotilha.

• Grande compositor da Música Popular Brasileira, João do Vale é homenageado a partir da regravação de seu maior clássico “Carcará” por seu neto, Gabriel Vale. O portal Todos Negros do Mundo relembra que a canção se tornou um hino sobre os anos da ditadura militar. “Escolhemos Carcará para homenagear o João pelo peso simbólico da canção, por ser um símbolo de resistência”, afirma o neto do cantor.

🎧 Podcast

• Ao longo de séculos, o domínio masculino se refletiu também na ciência, que, por muito tempo, trabalhou para manter a mulher numa posição inferior na sociedade. Da ginecologia e obstetrícia até a genética, eram homens os cientistas que escolheram ao longo dos tempos o que investigar ou não. A história da controversa e não tão científica relação entre a ciência e o corpo feminino guia os seis episódios do podcast Corpo Especulado, uma produção da  Revista AzMina em parceria com o 37 Graus, com apoio do Instituto Serrapilheira. 

👩🏽‍💻 Tecnologia

• Em seu primeiro dia à frente do Twitter, Elon Musk demitiu executivos, como Vijaya Gadde, chefe de segurança, confiança e políticas da plataforma. No dia seguinte, fez um post com desinformação sobre a notícia do espancamento que Paul Pelosi, marido da congressista Nancy Pelosi, sofrera na véspera. Depois, apagou. O Manual do Usuário avalia os primeiros atos de Musk no Twitter como “desanimadores”.