Os estados sem secretaria de direitos humanos e o veganismo na periferia

Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia

Oi, pessoal. Aqui é a Audrey, editora da Brasis.

Estamos na última semana da pesquisa sobre a newsletter que, em fevereiro, completa seis meses no ar. Para afinar o trabalho de curadoria, queremos ouvir de vocês, nossos leitores, como avaliam este primeiro semestre da Brasis. O questionário é curtinho, com perguntas simples, e o objetivo é melhorar a seleção de histórias que fazemos todos os dias. Para responder, é só clicar aqui. Contamos com vocês!

Obrigada e boa leitura.

🔸 O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) dobrou a aposta na tensão com o Banco Central. As críticas dele à política de juros da instituição vêm numa crescente e seriam uma estratégia do petista para atribuir prováveis dificuldades do primeiro ano de mandato ao que chama de “herança maldita” de seu antecessor Jair Bolsonaro (PL). O Jota lembra as falas do presidente e conta que Lula vem sendo estimulado pela ala política do governo e por dirigentes do PT a assumir publicamente a posição de antagonista do Banco Central. 

🔸 Em encontro com mídias independentes, em Brasília, Lula voltou a bater nessa tecla. Afirmou que as ameaças à democracia têm em comum o plano de desgastar o novo governo e minar sua agenda econômica e social. Um dos veículos presentes na reunião, o Marco Zero conta que Lula disse estar mobilizando sua energia política para fazer frente a movimentos de desestabilização – entre eles, a taxa de juros de 13,5%. “Não é só meta de inflação, tem que ter meta de crescimento, senão fica um ser humano com uma perna só. Ele [Campos Neto, presidente do BC indicado por Bolsonaro e referenciado pelo Senado] não deve explicações a mim, ele deve ao Congresso Nacional, que o indicou”, disse Lula. A reportagem detalha outros temas do encontro.

🔸 A propósito: na reunião, o presidente prometeu regulamentar o trabalho por aplicativos. Segundo ele, “os trabalhadores estão quase se colocando como escravos”. Lula ressaltou a importância de o país criar empregos formais e “atualizar a relação entre trabalho e capital”. Também presente no encontro, a Repórter Brasil parte da fala do petista para mostrar como o governo está tratando a regulamentação do trabalho dos profissionais de aplicativos. Em janeiro passado, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, foi criticado ao dizer que estava descartada a possibilidade de aplicar as regras da CLT a esses trabalhadores. Procurada agora pela reportagem, a pasta informou que criou um grupo de trabalho para discutir a pauta.  

🔸 Em 13 estados do Brasil, não há Secretaria de Direitos Humanos. Dez deles são administrados por políticos que apoiaram Bolsonaro nas eleições de 2022. O levantamento da Agência Diadorim mostra que São Paulo é um dos que não têm tal secretaria. O estado é governado por Tarcísio de Freitas (Republicanos), ex-ministro de Bolsonaro, que ignorou a pauta da proteção à comunidade LGBTQIA+ em seu programa eleitoral. “A gente ainda tem índices diferenciados entre os estados relacionados à violência contra mulheres, violência contra as comunidades indígenas, violência contra o idoso, contra pessoas com deficiência, LGBT, pessoas negras, ou seja, um conjunto de grupos populacionais que são diretamente impactados por essas secretarias”, afirma o antropólogo Lucas Bulgarelli, diretor do Instituto Matizes. 

🔸 Com a saída em massa de garimpeiros ilegais da terra Yanomami, Sonia Guajajara teme que cidades próximas do território sejam afetadas com malária, infecções sexualmente transmissíveis e outras enfermidades. Como informa a CartaCapital, a ministra dos Povos Indígenas disse que, no Comitê de Operações Emergenciais na região, a articulação com o Ministério da Saúde está levando em consideração esse cenário. 

📮 Outras histórias

• Por causa das fortes chuvas no Rio de Janeiro ontem, a Defesa Civil acionou 102 sirenes nas favelas da cidade. Há riscos de deslizamentos de terra, alagamentos e destruição de casas. Comunidades como Complexo do Alemão, Mangueira e Tuiuti estão entre as localidades em alerta. O Voz das Comunidades traz a lista completa de favelas afetadas e também reúne ações preventivas, como evitar o deslocamento e o contato direto com postes em áreas alagadas.

• Em vídeo: na madrugada de ontem, um clarão cruzou o céu do Paraná. Foi seguido de um estronde e de tremor, que foi sentido em algumas cidades, como Foz do Iguaçu. O 100Fronteiras mostra o brilho no céu e explica que ainda não há informações para o que de fato aconteceu, mas especula-se que o fenômeno tenha sido causado por um bólido, tipo de meteoro extremamente brilhante.

📌 Investigação

• “Há risco de ações violentas contra edifícios públicos e autoridades.” Este foi o primeiro aviso dado pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), no dia 6 de janeiro, às 19h40, quase 48 horas antes da invasão dos prédios dos Três Poderes. A mensagem foi enviada por meio de uma conta de WhatsApp que reúne 48 órgãos federais integrantes do Sistema Brasileiro de Inteligência. A revista piauí teve acesso a sete alertas produzidos pela Abin, destacando a intenção de invadir as instituições. O último foi disparado às 13h30 do próprio dia 8. Em menos de uma hora e meia, o Congresso estava sendo invadido. O Gabinete de Segurança Institucional (GSI), ao qual a agência é subordinada, recebeu todos os avisos, mas não tomou nenhuma providência. Pelo contrário, na sexta-feira, dispensou o pelotão de choque que protege o Planalto.

🍂 Meio ambiente

• Nos fundos do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, está a bicentenária comunidade do Horto, frequentemente ameaçada de despejo. São seus moradores, no entanto, que voluntariamente cuidam da preservação ambiental e fazem a despoluição do Rio dos Macacos. O Projeto Colabora narra a atuação da iniciativa Horto Natureza, fundada em 2020, por Roberto Fonseca, cujo tio-avô trabalhava na limpeza do Jardim Botânico e também monitorava a limpeza das águas. “Ele sempre vinha aqui atrás na casa do meu avô e comecei a observar o cuidado dele com o rio”, conta. O projeto também realiza atividades com as crianças para estimular a educação ambiental e mantém uma horta comunitária.

• A anta brasileira é considerada extinta da Caatinga há pelo menos 30 anos e não se sabe bem o porquê. Por isso, a Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira (Incab) reuniu profissionais de diferentes áreas para a expedição “Em busca da Anta Perdida na Caatinga”, em que serão visitadas 16 unidades de conservação federais e estaduais localizadas em potenciais áreas de ocorrência histórica ou atual da espécie. O grupo também passará por vilarejos como Queixo D’Anta e Antas, na Bahia, em que os nomes das localidades são indícios de sua presença histórica. O Eco Nordeste explica ainda que ações para a conservação da anta beneficiam diversas espécies porque elas necessitam de grandes áreas para viver. 

📙 Cultura

• Em busca de defender seu território ancestral, o povo Guarani Mbya aliou música, artesanato, moda, empreendedorismo, artes plásticas, rodas de conversa e exposição fotográfica no festival Jaraguá é Guarani, na Tekoa Yvy Porã, zona noroeste de São Paulo. A região é reivindicada pelos Guarani Mbya, que hoje tem demarcada a Terra Indígena do Jaraguá, com 1,7 hectare – a menor do Brasil –, e aldeias que ficam fora do perímetro assegurado legalmente. A Periferia em Movimento conta que o objetivo do evento realizado no fim de janeiro é integrar os públicos indígena e não-indígena à cultura guarani. Também é desenvolvido um turismo de base comunitária como estratégia de preservação do território.

• Faz poucos dias que o Oscar 2023 anunciou a lista de indicados para a cerimônia do dia 12 de março. Outra vez, são poucas as pessoas negras. Até 2020, apenas 2% de todas as estatuetas do prêmio haviam sido entregues para profissionais negros. Em 95 edições, apenas 13 mulheres negras foram premiadas. Embora a Academia afirme se preocupar com a diversidade e representatividade nos últimos anos, o Nós, Mulheres da Periferia lembra que não há indicações de pessoas negras nas principais categorias neste ano, como melhor diretor, melhor ator e melhor atriz, e lista quem são os poucos indicados.

🎧 Podcast

• Ontem foi o Dia Nacional da Luta dos Povos Indígenas, estabelecido oficialmente em 2008. A data foi escolhida em memória da morte do líder guarani Sepé Tiaraju, em 1756, na batalha contra o Tratado de Madri, que dividia o território do Brasil entre portugueses e espanhóis. Séculos depois, a luta não para. O “Papo Preto”, produção da Alma Preta, conversa com Yaponã Guajajara, da terra Araribóia, no Maranhão, e colaborador da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). Yaponã afirma que a ação do novo governo em lidar com a crise Yanomami é essencial para determinar limites, de modo que essas cenas não se espalhem para outras terras indígenas.

🧑🏽‍⚕️ Saúde

• Os produtos veganos das prateleiras de mercado com o selo “cruelty-free” não são o veganismo. Influenciadores periféricos mostram que é possível um veganismo acessível e sustentável. O Emerge Mag conversou com ativistas que compartilham a luta nas redes sociais e refletem sobre alimentação. Fundador do coletivo Perifa Vegana, Alexandre Melo tenta furar a “bolha elitista” que cercou o movimento. Segundo ele, é importante lembrar que basta comer “comida de verdade”, como aquela dos pequenos produtores orgânicos em vez dos ultraprocessados. Já o sacerdote Hare Krishna Milton Mourão aborda o papel do veganismo na saúde. “Deixei de consumir produtos de origem animal aos 16 anos de idade e não só minha saúde mas também minha forma de pensar no consumo de alimentos melhorou”, conta.