O estado de saúde de Lula e as crianças exploradas pelo TikTok
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🔸 Depois de uma cirurgia de emergência na cabeça, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está estável, consciente e deve ter alta no início da próxima semana. Lula foi ao hospital Sírio Libanês em Brasília para exames após sentir fortes dores de cabeça ainda na segunda à noite. Em seguida, foi transferido para a unidade em São Paulo. O Nexo explica que o presidente foi submetido a uma craniotomia, operação para drenar uma hemorragia cerebral. Esta, por sua vez, foi consequência de uma queda que Lula sofreu ainda em outubro, quando precisou tomar cinco pontos na nuca.
🔸 A propósito: nas redes sociais, a cirurgia de Lula inflou teorias conspiratórias sobre a morte do presidente. Desde a divulgação do boletim médico, na manhã de ontem, o Aos Fatos identificou dezenas de publicações no Facebook, no Instagram e no X. As peças de desinformação questionam o estado de saúde de Lula e chegam a comemorar a falsa morte do petista. A reportagem lembra que as fake news sobre o assunto circulam desde as eleições de 2022 e voltam a ganhar tração nos momentos em que questões de saúde do presidente chegam ao noticiário.
🔸 Trabalhadores brasileiros recebiam R$ 0,35 para moderar conteúdos extremos no X. No projeto batizado de “Tutakoke” (nome de um rio no Alaska, estado onde estão várias unidades da Tesla), o objetivo era proteger anunciantes depois que Elon Musk, dono da plataforma, dissolveu as áreas de segurança e moderação da empresa. O Intercept Brasil obteve documentos exclusivos que revelam que os trabalhadores não tinham suporte psicológico e eram expostos a conteúdos prejudiciais à saúde mental, como exploração sexual infantil e violência. As tarefas eram realizadas sem limite de horas e com remuneração muito baixa. “Estamos falando de conteúdos muitas vezes pesados que podem produzir danos significativos para os trabalhadores da moderação – o que deveria ter implicações éticas e trabalhistas por si só”, afirma Yasmin Curzi, pesquisadora da Universidade da Virgínia.
🔸 A pena para o feminicídio aumentou neste ano: foi de 20 para 40 anos de reclusão. O aumento da punição, no entanto, não é visto como a medida mais efetiva para reduzir os casos. A revista AzMina questiona o punitivismo e mostra que soluções que transformam o contexto social são mais eficientes. Grupos de reflexão e responsabilização previstos na Lei Maria da Penha, por exemplo, reduzem a reincidência para 8%. “A punição por si só não é pedagógica. Ela não consegue fazer a sociedade entender que determinadas condutas problemáticas não podem ser reproduzidas na sociedade”, afirma Juliana Borges, autora do livro “Encarceramento em Massa”. Em 2023, o número de feminicídios chegou a 1.463. A maioria das vítimas são mulheres negras.
📮 Outras histórias
As chuvas intensas na região Sul do país levaram à cheia do Rio Iguaçu, cuja vazão está 5,5 vezes acima do normal. Com isso, foi preciso fechar o acesso à passarela brasileira da Garganta do Diabo, nas Cataratas do Iguaçu. O H2Foz conta que o acesso do lado argentino já havia sido bloqueado no fim de semana. A suspensão temporária é uma medida de segurança, segundo a concessionária Urbia Cataratas e a administração do Parque Nacional do Iguaçu. Ontem, o fluxo no Rio Iguaçu atingiu 8,4 mil metros cúbicos por segundo (m³/s), com tendência de alta. A vazão padrão é muito menor, de 1,5 mil m³/s.
📌 Investigação
Capturados pela promessa de dinheiro fácil na internet, crianças e adolescentes têm gastado muitas horas do dia em “microtarefas” no Kwai e no TikTok. “Meus dedos ardiam de tanto que eu ficava na tela do celular”, conta Martina (nome fictício), 13 anos, em relato à Repórter Brasil. “Todos estão obcecados”, diz uma jovem de 17 anos que afirma ter ficado dez horas seguidas no Kwai para acumular R$ 3. Ao curtir perfis, compartilhar links, visualizar vídeos e fazer pesquisas no buscador, esses adolescentes são – sem saber – uma mão de obra invisível e barata que alimenta os sistemas de inteligência artificial dessas plataformas. “É um trabalho que se vende como uma forma de diversão”, avalia Matheus Viana, psicólogo e professor da Universidade do Estado de Minas Gerais. “Mas quais são os efeitos no médio e longo prazo para a saúde mental desses jovens?”, questiona.
🍂 Meio ambiente
Em vídeo: “O Pará quer ser o palco da ‘COP das Florestas’, mas estamos em um processo acelerado de extinção de espécies, desmatamento e queimadas. Como vamos falar de preservação se a prática é outra?”, pergunta Lívia Duarte (PSOL), primeira deputada estadual autodeclarada preta eleita no estado. Em entrevista à Cenarium, a parlamentar fala sobre as contradições entre a publicidade do governo estadual para a COP30 – 30ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudança do Clima em Belém, no fim do próximo ano –, e o alto índice de queimadas no estado. Desde a segunda quinzena de julho, o Pará lidera o ranking nacional de focos de incêndio. “Santarém, antes chamada de paraíso amazônico, por conta de Alter do Chão, agora se destaca negativamente pelo ar irrespirável e pela degradação ambiental”, afirma.
📙 Cultura
“É um movimento literário de um homem só.” Assim o escritor, tradutor e professor Caetano W. Galindo definiu a obra Dalton Trevisan, escritor curitibano que se tornou um dos nomes mais importantes da literatura em língua portuguesa. Nascido em 1925, em Curitiba (PR), Dalton venceu as principais premiações literárias do mundo lusófono, como o Prêmio Camões de 2012 e o Prêmio Jabuti – este, aliás, em quatro oportunidades. O Plural rememora suas múltiplas facetas, com mais de 700 contos e novelas escritos e pelo menos 55 livros publicados. O escritor morreu nesta segunda-feira, aos 99 anos.
🎧 Podcast
Antes da colonização, a Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, tinha baleias, tubarões, golfinhos e diversas espécies de peixes. A abundância da biodiversidade marinha na região foi minguando à medida que o local passou a receber esgoto, metais pesados e petróleo. O “Prato Cheio”, produção d’O Joio e O Trigo, acompanhou uma expedição com o biólogo João Paulo de Sá Felizardo, pesquisador do Laboratório de Radioecologia e Alterações Ambientais da Universidade Federal Fluminense (UFF), que busca compreender como séculos de poluição impactaram o equilíbrio ecológico e a vida na baía.
🙋🏽♀️ Raça e gênero
Assédio sexual é considerado apenas “falta de urbanidade” para a reitoria da Universidade de Brasília (UnB). Foi como a instituição avaliou o caso do professor de biologia Jaime Martins de Santana, 62 anos. Após ter beijado à força duas colegas de trabalho, como revelou a apuração da comissão responsável pelo processo administrativo disciplinar, Santana foi suspenso por apenas 15 dias. A Agência Pública mostra que a decisão da reitoria contrariou a recomendação de demissão proposta pelo colegiado. Após o caso vir à tona em reportagem do dia 2, mais de 250 alunas e professoras fizeram uma marcha contra a impunidade do docente, pedindo providências da nova gestão da universidade.