Especial: Os refugiados do desastre no RS e os atletas periféricos em Paris
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Olá, bom dia!
Na edição de hoje, olhamos para o maior desastre climático da história do Rio Grande do Sul. Em maio de 2024, inundações destruíram cidades inteiras no estado, que ainda está em reconstrução. Com mais de 70% dos brasileiros vivendo em municípios sob alto risco de alagamento e enchentes, esta é uma pauta urgente também em 2025.
Retomamos ainda algumas histórias de atletas brasileiros que marcaram as Olimpíadas de Paris – sempre com o olhar da Brasis para a diversidade.
As edições regulares voltam na próxima segunda-feira!
Boa leitura!
🔸 O governo do RS reservou R$ 7,6 milhões para a Defesa Civil em 2024. Segundo a ONG Greenpeace Brasil, o montante equivale a R$ 0,70 por habitante e cai para R$ 0,47 per capita quando se trata de prevenção. Embora não exista um índice apropriado definido, como explica o Matinal, cabe ao estado fazer um levantamento prévio das ações prioritárias que exigem recursos – e desde 2015, sabe-se que o RS sofreria com um aumento de 15% das chuvas. Mesmo assim, de acordo com o Serviço Geológico Brasileiro, menos de 15% das cidades gaúchas mapearam suas áreas de risco.
🔸 A ONU estima que 41 mil refugiados sob proteção internacional foram afetados pelas enchentes gaúchas. Além de sofrerem os mesmos dramas da população local, eles são vítimas de xenofobia, como apurou o Colabora. A venezuelana Makhariannys Gonzalez precisou mudar duas vezes de abrigo. “Fizeram uma reunião com todos os imigrantes, como sempre separados dos outros, disseram que a comida para nós teria que ser reduzida, que o barulho das crianças era quase insuportável e que não poderíamos pegar roupas porque já tínhamos muitas, sendo que só temos roupa suja que não dá para lavar. Fomos chamados de ignorantes e famintos de uma maneira muito arrogante”, afirma. Presidente da Associação de Haitianos no Brasil, Anne Dominique Bruneau afirma que “estão dando comidas cruas para os imigrantes”: “Há várias crianças que não estão comendo direito. Estão dando as roupas mais rasgadas para os estrangeiros, não só para os haitianos”.
🔸 Produtoras audiovisuais do projeto Alfabetização Audiovisual, Daniela Mazzilli e Maria Angélica dos Santos passaram a exibir filmes infantojuvenis para crianças e adolescentes do abrigo Centro Vida, que, com cerca de 700 pessoas, era o maior abrigo de pessoas desalojadas na zona norte de Porto Alegre, vítimas das enchentes. Segundo o Nonada, a iniciativa ganhou o nome de Cine Vida e, em menos de uma semana, foi replicada em pelo menos cinco abrigos diferentes da capital. O grupo contava com 40 voluntários, divididos em pequenas equipes com diferentes tipos de atuação. “O cinema tem o lugar do acolhimento, da fantasia e da possibilidade de sair dessa realidade tão dura da calamidade e da perda”, afirma Mazzilli.
🔸 A falta de visibilidade da população carcerária atingida pelo desastre no estado se tornou terreno fértil para o preconceito e a desinformação. O próprio prefeito de Porto Alegre afirmou que detentos em regime semiaberto deveriam ir para “abrigos alternativos” por “segurança”. “Não é uma questão de preconceito. Não posso ter 15 mil pessoas acolhidas, crianças, mulheres, homens, trabalhadores, e contaminar com gente do sistema penal”, afirmou. Segundo a delegada Adriana Regina da Costa, em nenhum dos casos de violência sexual em abrigos que a Polícia Civil atuou houve participação de detentos do regime semiaberto. A Ponte destaca a situação das unidades prisionais do estado e conversa com especialistas.
🔸 Mais de 70% dos brasileiros vivem em municípios com alto risco de alagamento, inundação, enxurrada ou deslizamento de terra. E, em 2023, houve mais de um desastre por dia no país. Os dados, obtidos pela Agência Pública, são parte de um levantamento do governo federal feito em outubro de 2023. O Rio Grande do Sul aparecia como o quarto estado com mais municípios listados (142), atrás de Minas Gerais (283), Santa Catarina (207) e São Paulo (172). Oito milhões de brasileiros já ficaram desalojados em decorrências de desastres desse tipo. O Ministério do Meio Ambiente prepara um plano de prevenção e enfrentamento de eventos climáticos extremos a partir da lista de municípios mais vulneráveis.
🔸 O Brasil foi o segundo país com mais atletas LGBTQIA+ nos Jogos de Paris. Foram 24, o dobro do que a delegação apresentou em Tóquio. Os Estados Unidos lideraram o ranking, com 29 de um total de 155 atletas LGBTQIA+ que os países levaram à França. A Agência Diadorim listou quem são os brasileiros LGBTQIA+ que disputaram a edição parisiense dos jogos. Há histórias de atletas que, inclusive, se conheceram nas Olimpíadas. É o caso da velocista Ana Carolina Azevedo, que esteve nos jogos ao lado da noiva, a boxeadora Bia Ferreira – elas se conheceram na Vila Olímpica do Japão.
🔸 O país teve dez boxeadores na disputa olímpica – todos com origens nas periferias do país, segundo a Agência Mural. Dois dos atletas eram da região metropolitana de São Paulo: Abner Teixeira, de Osasco, e Luiz Oliveira “Bolinha”, de São Caetano. Este último é neto de uma figura histórica: Servílio de Oliveira, primeiro medalhista do boxe olímpico do Brasil, que conquistou um bronze nos Jogos do México em 1968. Servílio, aliás, cresceu no distrito da Casa Verde, na zona norte de São Paulo. Para o antropólogo Michel de Paula Soares, o pugilismo sempre esteve ligado às periferias, sobretudo por causa dos projetos sociais que oferecem o esporte no contraturno escolar. “Onde quer que ele esteja, o boxe é um esporte de periferia, é um esporte onde o corpo que vai se tornar majoritário é um corpo negro, racializado. Ele é quem detém o protagonismo da modalidade”, afirma.
🔸 Rebeca Andrade deu os primeiros passos no solo como uma rainha – e terminou com a medalha de ouro no peito. A rainha que inspirou os passos é a estrela pop Beyoncé. A ginasta brasileira, que já havia conquistado três medalhas nas Olimpíadas de Paris, recebeu o ouro na modalidade solo ao som de Beyoncé e Anitta. A caminhada da atleta é semelhante à da diva pop dos EUA no show do Super Bowl de 2013, segundo o coreógrafo da equipe feminina de ginástica artística do Brasil, Rhony Ferreira. A revista piauí disseca a apresentação que valeu o ouro à Rebeca a partir da perspectiva da música e da dança. A trilha que a acompanhou no solo levou um ano para ficar pronta. “Conforme ela ia ensaiando, às vezes mudando algum movimento, eu tinha que fazer as alterações para ficar sincronizado”, diz Andy Bianchini, produtor e DJ responsável pela trilha. A reportagem lembra ainda que, até os anos 1990, as atletas disputavam ao som de música erudita, com pianista tocando ao vivo.
🔸 Lutador trans pioneiro no MMA, Cris Macfer criou o projeto Trans Fighter, uma iniciativa que busca contornar a falta de espaço para pessoas trans nas artes marciais mistas. Ele próprio viveu a dificuldade de se sentir pertencente ao esporte após se entender como pessoa trans, em 2015. Só começou a falar do assunto três anos depois: “Eu já era um atleta com reconhecimento, tinha nove anos de carreira. E eu queria ser respeitado. É um sonho fazer aquilo que amamos e estava me causando um transtorno muito grande”. A Emerge Mag resgata a história do atleta, que começou aos 13 anos no hapkido, taekwondo e jiu-jitsu e se consolidou no MMA. Foi quando se assumiu um homem trans que tirou do papel o Trans Fighter, para assessorar atletas trans e dar visibilidade ao movimento dentro do esporte. Em pouco tempo, reuniu mais de 40 lutadores trans que se aliaram ao projeto.