Especial Primeira Infância: As creches integrais e as escolas do sertão
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
Oi, gente,
Esta é uma edição especial da Brasis. Reunimos aqui toda a produção feita a partir do edital “Bolsa de Reportagem, Mentoria e Jornalismo de Soluções: a 1ª Infância como Pauta Prioritária”, promovido pela Associação de Jornalismo Digital (Ajor) e pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal.
Algumas das histórias que você vai ler já foram publicadas em edições anteriores da newsletter. O material compilado agora revela a pluralidade dos movimentos que buscam acolher as múltiplas infâncias – desde a necessidade de creches integrais para garantir a autonomia de mães solo até o uso da educação contextualizada para crianças que vivem no Semiárido.
Em conjunto, as reportagens reforçam a primeira infância como um período essencial para o desenvolvimento humano a partir da diversidade de olhares em diversas regiões do país.
Boa leitura!
🔸 Sem políticas que abranjam as especificidades de horário e filas, menos da metade das creches e pré-escolas municipais do Rio de Janeiro são integrais. Segundo a Gênero e Número, a oferta de unidades integrais falham ainda mais quando se trata de crianças negras: enquanto 54% da população da cidade se autodeclara negra, apenas 29% das creches e pré-escolas integrais têm essa proporção de alunos negros. “A creche proporciona autonomia para nós, mães solo, que precisamos trabalhar e garantir qualidade de vida para nossos filhos”, diz a comunicadora Andressa Melo, que conta com uma creche até as 14h30 para o filho de três anos. Depois desse horário, ela precisa pagar por uma cuidadora até o fim do turno de trabalho.
🔸 Acesso a livros, contação de histórias, teatro de fantoches e aulas com músicas são algumas das estratégias utilizadas por educadoras e coletivos para promover uma educação de qualidade no ensino infantil nas periferias de Salvador (BA). A Entre Becos visitou algumas das unidades com atividades dinâmicas e destaca os impactos positivos dessas práticas. Toda semana as crianças da escola comunitária Paulo VI, da Casa das Irmãs Ancilas do Menino Jesus, no bairro de Valéria, aguardam animadas as aulas de musicalização do coletivo de música Notas Coloridas. “Estamos num lugar de troca, e eles têm tanto respeito conosco que começam a decidir o repertório da aula. A gente chega com a ideia e eles propõem como podemos fazer. Eles são os protagonistas”, conta a arte-educadora Raíssa Pessoa, integrante do grupo.
🔸 “Todos nós temos responsabilidade quando o assunto é a educação e a oferta de dignidade para uma criança”, afirma a pedagoga e conselheira tutelar Mickelle Xavier. Moradora de Vitória da Conquista (BA), ela criou a Biblioteca Comunitária Miro Cairo, conseguiu a doação de 300 livros e iniciou atividades como reforço escolar e clubes de leitura no bairro do Miro Cairo. O Conquista Repórter mostra como bibliotecas comunitárias do município, sobretudo geridas por mulheres em áreas rurais e periféricas, têm dado acesso a livros que celebram a cultura afro-brasileira e promovido a educação antirracista desde a primeira infância.
🔸 Em áudio: iniciativas de escolas do sertão nordestino contextualizam a convivência com o Semiárido para combater os preconceitos sobre o território, reduzir a estigmatização e fortalecer a noção de pertencimento. O primeiro episódio da série “Sertão do Futuro”, produção da Cajueira, narra uma visita à comunidade de Massaroca, em Juazeiro (BA), para acompanhar a rotina das crianças da Escola Municipal de Tempo Integral Professora Valdete Bispo Gama que, em seu processo educativo, valoriza e conecta o ensino à cultura local. Já o segundo episódio mostra como a literatura é uma ferramenta aliada da educação contextualizada na Caatinga. O último episódio mergulha em como os professores precisam adaptar os materiais didáticos para abranger a realidade local, além de destacar o papel da família para desconstruir o imaginário pejorativo sobre o Semiárido e criar uma relação afetiva e positiva com a terra.
🔸 O brincar e a ludicidade conectam a capoeira à primeira infância, com uma vivência que envolve o contato com instrumentos, brincadeiras e cantigas, além da história da cultura afro-brasileira. O Desenrola e Não Me Enrola ouviu crianças, pais e especialistas sobre como a prática contribui nos processos de aprendizagem e estimula o brincar para o desenvolvimento de crianças de 0 a 6 anos. “A capoeira é a cultura dos nossos ancestrais. Então, ela vem agregando ainda mais no conhecimento e no fortalecimento dela [Maria] como uma criança negra”, afirma Silvia Cristina, mãe da Maria Vitória, de 5 anos. A menina participa do projeto “Terreiros Nômades: Macamba faz Mandiga – Saberes Afrodiaspóricos nas Corporeidades da Cena’, da coletiva N’Kinpa. Lá, ela teve os primeiros contatos com a capoeira e com outras manifestações culturais de origem africana.
🔸 Em áudio: diante de um cenário em que pessoas negras grávidas são mais negligenciadas pelos serviços de saúde do pré-natal ao pós-parto, as doulas podem oferecer acolhimento, informação e cuidado para gestantes que estão nas periferias. O primeiro episódio da série “Gestando o Futuro”, produção do Manda Notícias, mergulha nas desigualdades que atravessam as infâncias. Já o segundo episódio narra a prática da doulagem periférica na transformação das gestações e puerpérios. O último episódio destaca a importância da profissão ser regulamentada por lei para garantir os direitos sociais das profissionais que trabalham por um parto humanizado.