Especial: A história de Eunice Paiva nas telas e as mulheres do Porto de Santos
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
Olá,
bom dia!
Esta é a primeira da série de edições especiais da Brasis que você receberá nesta semana. Fizemos uma curadoria de histórias que marcaram o Brasil em 2024 e que seguem pertinentes em 2025.
As edições regulares voltam no dia 13.
Boa leitura!
🔸 Com salário de R$ 35 mil, um dos cinco militares acusados de matar Rubens Paiva na ditadura vive em Brasília e tem a patente de marechal, considerada uma honraria concedida apenas a oficiais do Exército que tiveram “atuação excepcional” em período de guerras. O Metrópoles conta que o general José Antônio Nogueira Belham foi comandante do Destacamento de Operações e Informações (DOI) do 1º Exército, na zona norte do Rio, onde o ex-deputado teria morrido. Paiva “desapareceu” no regime militar e é personagem central do filme “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, interpretado por Selton Mello. Em 2014, o Ministério Público Federal (MPF) denunciou militares por homicídio e ocultação do cadáver do então deputado, mas o processo não avançou.
🔸 Premiado em festivais internacionais e escolhido para representar o Brasil no Oscar 2025, “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, se tornou a maior bilheteria do cinema nacional pós-pandemia. Era 1971 quando o ex-deputado federal Rubens Paiva entrou para a lista de desaparecidos da ditadura. Embora sua morte tenha sido reconhecida pelo Estado brasileiro em 1996, até hoje não se sabe onde está seu corpo. Na revista piauí, Fernando de Barros e Silva destrincha o longa junto a seu livro de origem (“Ainda Estou Aqui”, de Marcelo Rubens Paiva, filho de Rubens Paiva) e analisa os ecos da obra no Brasil contemporâneo. “No país da telenovela, ‘Ainda Estou Aqui’ evitou a estereotipia e os exageros dramáticos, mas evitou também certos clichês que costumam aparecer em filmes sobre a ditadura – não há a figura do rebelde romantizado; não há preocupação didática ou empenho militante, em arte quase sempre infantilizantes; não há cenas excruciantes de tortura; não há truculência exacerbada, pelo menos não nos termos que estamos acostumados a ver retratadas no cinema”, escreve o jornalista.
🔸 A propósito: protagonista de “Ainda Estou Aqui”, Eunice Paiva deixou um legado para o direito indígena no país. Dois anos depois de seu marido, o ex-deputado Rubens Paiva, ter desaparecido, Eunice entrou na Faculdade de Direito. Além da luta por justiça aos desaparecidos políticos da ditadura e pela redemocratização, ela se especializou na defesa jurídica dos povos indígenas, assinando pareceres judiciais, buscando indenizações e demarcações de terras. A Agência Pública narra o papel fundamental da advogada em um contexto em que a Funai estava militarizada pelo regime. Seus artigos e livros contribuíram para as discussões que resultaram no capítulo “Dos índios” da Constituição Federal de 1988.
🔸 Falando em cinema… Produções brasileiras, encabeçadas por mulheres e pessoas LGBTQIA+, trazem um novo olhar sobre o aborto. Em Hollywood, que ainda é considerada a mais influente indústria do cinema do mundo, embora venha mudando nas últimas décadas, o cenário é outro: a maioria de personagens são brancas, e os diretores, homens cis, como mostra a Gênero e Número. Em um total de 214 filmes catalogados pela iniciativa Abortion on Screen, da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, apenas 31 são totalmente dirigidos por mulheres cis, enquanto cinco são codirigidos com homens cis e um filme é dirigido por uma pessoa não binária. A maior parte das obras que não são feitas por homens cis (62%) foi lançada depois de 2010.
🔸 Para ouvir: revolucionários e clandestinos, os jovens negros que enfrentaram a ditadura normalmente ficam fora dos livros de história e das obras sobre o período. No “Chumbo e Soul”, audiolivro da Rádio Novelo, o jornalista, roteirista e escritor carioca Gilberto Porcidonio narra os “anos de chumbo” do ponto de vista da população negra no país e mostra como a música está interligada a essa resistência. Entre remoções e prisões, os bailes black reuniam uma ideia que o regime combatia: a beleza, a emancipação e o poder que emanavam do povo preto – uma consciência que contrariava o mito da “democracia racial” que os militares defendiam.
🔸 Pioneiras em um setor considerado masculino, mulheres que atuam em áreas portuárias estão em um dos campos mais importantes economicamente para o país e ainda são invisibilizadas. O “Lendárias & Portuárias”, produção do Juicy Santos, apresenta a trajetória de mulheres que desenvolvem diferentes relações de trabalho com os portos brasileiros. No primeiro episódio, o podcast recebe a primeira operadora de portêiner no Porto de Santos (SP), Fabiana Almeida, e a pesquisadora Helena Pontes, especialista em Direito do Trabalho. “Já existia uma história de mulheres no Porto, mas a gente não consegue ter acesso a essas histórias”, diz Helena.
🔸 Enquanto paga influenciadores para fazer “marketing verde”, a Braskem desembolsa valores baixos para indenizar os atingidos pelo desastre ambiental em Maceió. Moradores afetados pelo colapso da mina na capital de Alagoas receberam, em média, R$ 113 mil. A Repórter Brasil apurou que, nas redes sociais, a empresa já se associou a influenciadores, como Bruno De Luca e Giovanna Lancellotti. Segundo levantamento da revista Forbes, o contrato para uma única ação com celebridade digital pode chegar a R$ 180 mil. “É um escândalo um único post publicitário da Braskem custar R$ 100 mil, quando se sabe que as vítimas receberam em média R$ 113.600 por seu imóvel”, protesta Cássio Araújo, coordenador da Associação do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUVB).
🔸 Em tempo: para tentar recuperar o mangue danificado pela mina da Braskem, ambientalistas vêm trabalhando de forma independente em Maceió. Eles fazem o replantio de mudas numa área cujo prejuízo ainda não foi totalmente contabilizado. A Mídia Caeté detalha a iniciativa, que partiu do coletivo Enxame. O grupo se aprofundou nos impactos das minas da Braskem ainda em 2018. “Hoje de fato, mesmo por questão de segurança, não é possível fazer o plantio de mangues na região do Mutange, uma vez que está interditado até mesmo transitar no local em razão do colapso da mina. Então, o que fazemos é dar continuidade ao plantio em outras áreas, mas dentro do bioma de Mata Atlântica e dentro do Complexo Lagunar Mundaú-Manguaba”, diz Alonso Netto, coordenador do coletivo.