As escolas em áreas de risco e a primeira cacica trans do Brasil
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🔸 O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai passar por um novo procedimento médico hoje. O objetivo é evitar que ocorram novos sangramentos intracranianos. O Congresso em Foco lembra que Lula passou por uma cirurgia de emergência na terça-feira depois de uma hemorragia no crânio, consequência de uma queda que sofreu no banheiro do Palácio do Alvorada ainda em outubro. O boletim divulgado ontem informou que Lula está “lúcido, orientado, conversando e passou a noite bem”. Segundo o médico do presidente, Roberto Kalil, o novo procedimento é simples e de baixo risco.
🔸 O Senado aprovou na terça-feira o PL da inteligência artificial, que segue agora para a Câmara dos Deputados. O Aos Fatos conta que a proposta manteve os instrumentos de proteção aos direitos autorais, mas deixou de fora os algoritmos de recomendação de conteúdo, como os de redes sociais. Até a aprovação, foram mais de 500 dias de debates, e o texto recebeu mais de 40 emendas – nenhuma delas foi acatada. A maioria era de autoria de Esperidião Amin (PP-SC), que pedia inclusive a substituição completa do projeto. A única alteração feita diz respeito ao órgão multisetorial de regulação: em vez de criar o Sistema Nacional de Regulação e Governança de Inteligência Artificial, essa atribuição ficou a cargo do Executivo, que, no futuro, deverá criar um projeto sobre o tema e enviá-lo ao Congresso.
🔸 “O uso de armas de fogo será medida de último recurso.” A frase está no decreto que pretende regular o uso da força por policiais em todo o território nacional. O documento foi enviado à Casa Civil ontem pelo ministro da Justiça e da Segurança Pública, Ricardo Lewandowski. O Notícia Preta explica que o decreto dá ao ministério poder para criar normas sobre esses temas. As regras, no entanto, não serão impostas aos estados.
🔸 Em áudio: não foram poucos os casos públicos de violência policial em São Paulo nas últimas semanas. “O uso político da polícia como força bruta foi se renovando ao longo do tempo, baseado na ideia de que os chamados ‘cidadãos de bem’ vão estar mais seguros num mundo em que ‘bandido bom é bandido morto’, um mundo em que, na alegada falta de Justiça, não tem problema fazer justiçamento, mesmo ao custo de gente inocente”, afirma Conrado Corsalette. No “Durma com Essa”, podcast do Nexo, ele retoma a relação dos governadores de SP com as polícias na história recente e mostra como Tarcísio de Freitas (Republicanos) vem modulando seu discurso sobre a PM.
🔸 Mais de 431 mil alunos de escolas nas capitais estão em instituições em áreas de risco para deslizamentos, enchentes e enxurradas. Nessas escolas, a maioria dos alunos (59,58%) são negros, revela a Agência Pública, a partir da pesquisa “O Acesso ao Verde e a Resiliência Climática nas Escolas das Capitais Brasileiras”, feita pelo Instituto Alana, pela Fiquem Sabendo e pelo MapBiomas. “Muitas pessoas refutam o conceito de racismo ambiental e dizem que não existem dados, que não é bem assim. Esse estudo mostra que a cor do risco é negra. O racismo ambiental é uma realidade que também está presente na infraestrutura escolar e afeta diretamente as crianças e os adolescentes”, diz Maria Isabel Barros, uma das coordenadoras da pesquisa.
📮 Outras histórias
Aos 86 anos, Elzenir Gomes Felício guarda memórias da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (EFMM). Estratégica para o Brasil, a ferrovia servia para escoar a borracha usada por aliados na 2ª Guerra Mundial. Elzenir foi datilógrafa e depois oficial administrativa no auge da estrada de ferro, desativada nos anos 1970. “Era um movimento lindo de cargas e passageiros”, lembra Elzenir. O Varadouro resgata a história da ferrovia, cujas relíquias integram o um museu em Porto Velho. Há sucatas de locomotivas, aparelhos, móveis e documentos da estrada construída entre 1907 e 1912. A partir dela é que surgiu a cidade de Porto Velho, formada pelas casas dos operários contratados pela construtora.
📌 Investigação
Em imagens: em Poções, no interior da Bahia, apenas 9,7% da população está empregada formalmente, segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Site Coreto traz as fotografias do Laboratório de Imagens do Trabalho em Poções (Lab.uta), a primeira iniciativa a reunir informações sobre os subempregos e a escassez de oportunidades no município. As fotos da reportagem dão rosto e identidade para os dados publicados pelos institutos e para a precarização e falta de seguridade social em que informais e autônomos estão inseridos.
🍂 Meio ambiente
Quase metade dos pescadores artesanais do Espírito Santo, sobretudo mulheres e idosos, deixaram a atividade depois do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), em novembro de 2015. O artigo publicado na revista científica “Ocean and Coastal Research” ouviu 441 pescadores do estado e aponta que 96% deles foram impactados pelo colapso da estrutura da Samarco. Segundo a Agência Bori, os que continuam na atividade pesqueira precisaram mudar a área de pesca, a arte de pesca utilizada ou a espécie-alvo. O rompimento da barragem foi um dos maiores desastres socioambientais da história do Brasil, causando a contaminação do Rio Doce e de áreas costeiras por metais pesados.
📙 Cultura
“Eu fiz esse disco para me divertir, fiz este álbum para mim. Eu sou uma cantora preta. Quando a gente canta, é com direcionamento. Existem muitas pessoas ouvindo meu som, mas eu venho de uma periferia do interior, tenho referências interioranas e periféricas, então meu som é direcionado”, afirma a cantora Liniker. Lançado em agosto, o álbum “Caju” consagrou a artista como uma das maiores vozes da música brasileira da atualidade. A Alma Preta destaca que Liniker levou quatro troféus do Prêmio Multishow de 2024 na última semana – álbum do ano, capa, MPB do ano e artista do ano. Vencedora do Grammy Latino de “Melhor Álbum de Música Global” em 2022 com “Indigo Borboleta Anil”, a cantora também foi nomeada à edição deste ano em três categorias.
🎧 Podcast
“Não existe política sem polarização”, afirma João Feres, professor de Ciência Política da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. O pesquisador explica como o termo se tornou uma moda que não necessariamente está conceituada na literatura acadêmica e como a política se situa entre diferentes projetos e disputas sobre um tema. No “Diálogos com a Inteligência”, produção do Canal Meio, Feres aborda a diferença entre polarização e radicalização e como o bolsonarismo proporcionou um ambiente mais conflitivo.
✊🏽 Direitos humanos
Desde os 5 anos, a primeira cacica trans do Brasil, Majur Harachell, percorria longas caminhadas diárias para buscar água em galões de 20 litros devido à falta de água potável na aldeia Apidu Paru, na Terra Indígena Tadarimana, em Rondonópolis (MT). A falta de acesso à água potável e suas consequências para a saúde da comunidade fizeram com que Majur se tornasse uma ativista na luta pelos interesses dos Bororo. Em entrevista ao Catarinas, a cacica fala sobre a importância do poço artesiano que chegou à comunidade em 2019 e os desafios enfrentados no território: “A gente ainda precisa de casa. Na saúde, faltam medicamentos no posto da Central, remédios básicos para dor, tosse, pressão alta”.