Especial: a emergência do clima das periferias de SP às praias do Nordeste
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
Oi, gente,
Esta é uma edição especial da Brasis. Algumas das histórias que você vai ler aqui já foram contadas em edições anteriores da newsletter. O material compilado agora revela a pluralidade da pauta: nas periferias de São Paulo, líderes comunitários lutam por justiça ambiental; no Cerrado, comunidades tradicionais enfrentam os impactos socioculturais do avanço do agronegócio; nas escolas, educadores buscam nos saberes ancestrais o diálogo entre gerações. Em conjunto, as reportagens reforçam a desigualdade das populações que, na prática, são afetadas pela emergência climática.
Toda esta produção é resultado do edital “Bolsas de Reportagem Justiça Climática e o Enfrentamento do Racismo Ambiental no Brasil”, promovido pela Ajor e pelo iCS (Instituto Clima e Sociedade), a partir do The Climate Justice Pilot Project.
Boa leitura.
Audrey Furlaneto (editora) e Tainah Ramos (redatora)
🔸 Em vídeo: na contramão da emergência climática, o Congresso Nacional caminha a passos lentos em direção à construção de uma política ambiental. O Congresso em Foco ouviu especialistas ligados ao movimento ambientalista para explicar por que o Legislativo tem uma atuação aquém da urgência imposta pela crise. Uma das principais razões é a força dos interesses econômicos, com a predominância de setores do agronegócio e da mineração na Câmara e no Senado. Na atual legislatura, eleita em 2022, partidos que historicamente concentram parlamentares ligados à defesa do meio ambiente tiveram suas bancadas reduzidas.
🔸 Salvador (BA) e Recife (PE) lideram o ranking de pessoas em área de risco no Nordeste. O dado coincide também com a marginalização da população negra nesses locais, constantemente afetada por chuvas cada vez mais intensas, somada à falta de acesso à moradia. O resultado é o aumento de tragédias nos períodos de maior pluviosidade. Na Eco Nordeste, o repórter Victor Moura, que percorreu as duas cidades de bicicleta, mostra que Recife e Salvador são bem parecidas quando o tema é racismo ambiental.
✊🏾 Direitos Humanos
Desmatamento, aterramento de mangue e soterramento de restingas marcam a Rota Ecológica dos Milagres, ao longo do litoral dos municípios de Passo do Camaragibe, São Miguel dos Milagres e Porto de Pedras, em Alagoas. Há cinco anos, era possível ver na região matas densas nos morros e praias quase desertas, acessadas para pesca e convívio da comunidade local. O especial “Ecologia Fora da Rota”, da Mídia Caeté, destrincha como a paisagem está sendo reconfigurada pela intensa exploração turística e pela especulação imobiliária, com profundos impactos ambientais e um cerco aos moradores.
“Me sinto muito orgulhoso por cuidar da terra. Sinto felicidade por acordar cedo e ter disposição pra [cuidar da] natureza.” João Tavares Maciel, o Seu João, é morador da Cohab Juscelino, na zona leste de São Paulo, onde é responsável pela horta orgânica. Ele é uma das personagens da série “Guardiões do Clima”, do Desenrola e Não Me Enrola, que narra trajetórias de moradores das periferias que lutam por justiça ambiental. Na zona oeste da capital, está Claudete Cordeiro dos Santos, líder comunitária no Rio Pequeno. Ao lado de outras mulheres, ela conseguiu cobrar as autoridades por obras para evitar deslizamentos de terra na favela. Outra “guardiã do clima” é a agricultora e educadora ambiental Maria Alves, que atuou em defesa das nascentes e rios na zona norte. Já na zona sul, o especial conta a luta da enfermeira Neide Abadi em um movimento liderado por mulheres para garantir o direito ao saneamento básico, além de debater a questão do racismo ambiental.
📙 Cultura
O avanço do agronegócio no Cerrado tem impacto sociocultural em comunidades tradicionais. As alterações no meio ambiente significam tanto o aumento da violência contra os corpos e as formas de estar no mundo quanto a destruição da cultura repassada tradicionalmente, uma vez que, conta o Nonada, já não é mais possível fazer os rituais como antes. “Quando a gente vai fazer os nossos rituais prolongados, como as danças tradicionais que acontecem todo ano, nessas datas especiais, exige algum tipo de plantas medicinais específicas, e a gente não encontra mais, por causa que já foi destruído a mata”, relata a artista e professora MC Anarandà, do povo Guarani-Kaiowá, no Mato Grosso do Sul.
🎧 Podcast
A obra da Via Expressa Sul, que conecta o centro de Florianópolis (SC) ao sul da ilha e ao aeroporto, nunca teve sua licença ambiental aprovada. A construção caminha por meio de liminar desde sua inauguração, em 2004, e impacta diretamente a população local, como a comunidade tradicional de pescadores da Costeira do Pirajubaé, como conta o primeiro episódio de “Ilha Invisível”, produção do Portal Catarinas. Já o segundo episódio destrincha os impactos socioambientais do empreendimento na Reserva do Pirajubaé, primeira Reserva Marinha do Brasil. Por fim, a série mostra que os pescadores e moradores também lidam com um projeto da Companhia de Saneamento de Santa Catarina (Casan) para lançar o esgoto da Estação de Tratamento de Esgoto do Rio Tavares no local.
🧑🏽🏫 Educação
Diante da crise climática, as escolas precisam se abrir para os saberes ancestrais dos povos originários. O Porvir narra como o diálogo entre gerações é essencial para desenvolver uma educação ambiental baseada no contato com a natureza e com o futuro do planeta. “Os conhecimentos dos povos indígenas precisam ir para os currículos. Os professores deveriam tentar se aproximar disso. É preciso mobilizar a opinião pública. É um conhecimento presente nas aldeias e organizações indígenas, mas que não está organizado para que as escolas o acessem”, diz Almir Suruí, líder indígena que já foi reconhecido pelas Nações Unidas como Herói da Floresta.