A eleição para os conselhos tutelares e as crianças em protestos
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🔸 As eleições para os conselhos tutelares acontecem neste domingo e vêm acompanhada de uma “guerra cultural” conservadora no país. Nos últimos anos, houve um crescimento de grupos religiosos nesses órgãos, que promoveram episódios de intolerância religiosa, dificuldades de acesso ao aborto legal e violação de direitos de crianças LGBTQIA+. O Nexo destrincha o que são os conselhos tutelares, de que forma eles atuam, como vão funcionar as eleições em 2023 e o histórico de disputas ideológicas. Qualquer cidadão com o título de eleitor regularizado pode votar, basta consultar o local no Tribunal Regional Eleitoral.
🔸 Canais no Telegram que promovem a educação domiciliar (homeschooling), atualmente ilegal no Brasil, passaram a mobilizar seus seguidores a votarem em candidatos com perfil “pró-família”, com valores cristãos e a favor do “combate à ideologia de gênero”. O Portal Catarinas revela que um desses canais é o do advogado Alexandre Magno, com quase onze mil pessoas inscritas. Além de ser a favor do homeschooling, Magno ensina os responsáveis sobre como contornar a obrigatoriedade de vacinas em crianças e adolescentes. Em contrapartida, organizações voltadas aos direitos infantojuvenis criaram listas para aproximar eleitores de candidatos. A Ponte traz as iniciativas que divulgam perfis de defensores dos direitos humanos no pleito em diversos municípios.
🔸 O Dia de Luta pela Descriminalização e Legalização do Aborto, celebrado ontem, reuniu movimentos sociais nas ruas de diversas cidades do país em protestos para dar visibilidade ao tema. A Alma Preta lembra que os atos ocorrem desde 1990, mas ganhou ainda mais destaque neste ano devido ao julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), que pode descriminalizar o aborto até a 12ª semana de gravidez. A reportagem destaca ainda que as mulheres negras são as mais vulneráveis ao aborto ilegal, como mostra um estudo recente publicado na revista “Ciência e Saúde Coletiva”, da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco). O Nós, Mulheres da Periferia registrou a manifestação na Avenida Paulista, em São Paulo.
🔸 Primeira ministra negra do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Edilene Lôbo ressaltou a desigualdade de gênero e raça no Judiciário durante discurso de sua primeira sessão plenária na Corte ontem. O Notícia Preta reúne as principais falas de Lôbo sobre a subrepresentação nos espaços de poder. “Nós, negras, somos apenas 5% da magistratura nacional, havendo apenas uma senadora autodeclarada negra, portanto menos de 1% do Senado; 30 deputadas, o que corresponde a cerca de 6% da Câmara Federal. Mulheres negras ocupam 3% dos cargos de liderança no mundo corporativo, mas são 65% das empregadas domésticas”, relatou.
🔸 “Presidentes do Supremo têm atribuições e poderes relevantes, mas o sucesso de uma gestão depende muito do suporte do colegiado”, escreve o jornalista Felipe Recondo. No Jota, ele analisa as circunstâncias em que o ministro Luís Roberto Barroso assume a cadeira de presidente do STF, após a aposentadoria de Rosa Weber, que “foi a presidente que promoveu as alterações regimentais que endereçaram solução para problemas antigos do Supremo”. Em sua estreia, Barroso afirmou que pretende trabalhar para resgatar a imagem do STF perante a opinião pública.
📮 Outras histórias
Rayane Rayane Martins, 24, e Rosana Andrade, 40, são duas mulheres das periferias de São Paulo que dedicam parte dos seus dias a escutar e orientar pessoas em sofrimento psíquico. Elas são voluntárias do Centro de Valorização à Vida (CVV), canal que oferece acolhimento e apoio emocional. À Agência Mural, elas contam por que decidiram seguir esse caminho e qual o impacto de escutar as dores de outras pessoas na vida delas. “Quando a gente oportuniza trabalhar numa causa humanitária, eu também trabalho a minha humanidade”, afirma Rosana.
📌 Investigação
As sete principais operações contra o garimpo ilegal na Amazônia neste ano já apreenderam ou destruíram cerca de R$ 1,1 bilhão em bens e maquinários. Essa é a estimativa feita pelo Ibama, obtida com exclusividade pela Repórter Brasil. As fiscalizações atuaram no rio Madeira, na bacia do rio Tapajós e nas Terras Indígenas Vale do Javari e Yanomami. Coordenador de pesquisas em mineração do MapBiomas, Pedro Walfir aponta que, por trás dessas estruturas, estão grandes empresários: “Quem tem milhões para investir em uma atividade como essa, que é rentável mesmo sendo descoberta, destruída e queimada, e que no ano seguinte está de volta funcionando?”.
🍂 Meio ambiente
Sem atuação do poder público para dar destinações sustentáveis ao lixo, iniciativas no Rio de Janeiro promovem a instalação de equipamentos que transformam dejetos em biogás e biofertilizantes. É o caso Josefa Maria da Conceição Santos, de 69 anos, moradora do Complexo do Alemão, na zona norte da capital fluminense. Sozinha, ela construiu um reservatório no quintal de casa, mesmo espaço onde também produz sabão a partir de óleo de cozinha descartado pelos moradores. O Projeto Colabora detalha que Josefa atua há dez anos na Verdejar Socioambiental, grupo que trabalha na preservação e recuperação do meio ambiente. “Eu fiquei maluca, porque não imaginava que aquilo que você mais quer se livrar te gera o gás”, relata.
A propósito: o biogás não apenas substitui os combustíveis de origem fóssil, como também reduz as emissões de metano para a atmosfera. Atualmente o Brasil tem 850 plantas de produção de biogás, feito a partir de matéria orgânica, como o esgoto de cidades e os resíduos de animais da pecuária. O “Economia do Futuro”, produção da Rádio Guarda-Chuva, explica como é o processo de produção do gás, em quais setores pode ser utilizado e qual o potencial dessa energia no país.
📙 Cultura
Um dos teatros mais emblemáticos de Pernambuco, o Teatro Valdemar de Oliveira vive um estado avançado de deterioração. Artistas, políticos e representantes da sociedade civil pedem o tombamento do equipamento cultural. Segundo a revista O Grito!, o grupo fundador do espaço e responsável por ele, o Teatro de Amadores de Pernambuco (TAP), no entanto, é contra o tombamento, alegando que “impõe muitas restrições que impedem uma liberdade maior para se fazer uma reconstrução e adequação daquilo que já está em ruínas”, conforme as palavras do advogado e diretor adjunto do TAP, Carlos Alberto Leal de Barros Júnior.
Até hoje o termo “orientação sexual” não está na Constituição Federal. Isso porque, na época de elaboração do texto, católicos e evangélicos se uniram para barrar direitos de liberdade sexual de pessoas LGBTQIA+. A revista Quatro Cinco Um conta que o pesquisador Rafael Carrano Lelis resgatou a participação ativa do Movimento Homossexual Brasileiro (MHB) na elaboração da Constituição no livro “A Orientação Sexual na Constituinte de 1987-88”. Além da homofobia contra o grupo, Lelis ainda explica as contradições internas do MHB no processo, principalmente em relação a pessoas trans.
🎧 Podcast
Professor da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, Thomas Levin é um colecionador de discos e fitas. Há 15 anos, ele descobriu as “cartas faladas” ou “fonopostais” – gravações cotidianas feitas para serem enviadas pelo correio. Desde então, ele guarda cada uma delas em um espaço que está se tornando um acervo da modalidade, já esquecida. O novo episódio do “Rádio Novelo Apresenta”, produção da Rádio Novelo, resgata a história da própria tecnologia de gravação de áudio e sua presença no cotidiano das pessoas nas últimas décadas.
💆🏽♀️ Para ler no fim de semana
“A participação de crianças em manifestações cria experiências importantes que contribuem com seu lugar no mundo.” A afirmação é do psicólogo Gabriel Medina, que integra o grupo de trabalho de prevenção à violência no ambiente escolar do Ministério da Educação. Ele analisa como é possível escutar as demandas das crianças e permitir que elas sejam protagonistas das suas reivindicações. O Lunetas descreve como a participação delas em protestos ao longo da infância pode fortalecer a democracia, criando uma consciência cidadã.