Os efeitos da 'cadeirada' de Datena e uma serra a salvo da mineração
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🔸 O momento em que José Luiz Datena (PSDB) lançou uma cadeira contra Pablo Marçal (PRTB) gerou repercussão massiva nas redes sociais. O episódio que interrompeu o debate dos candidatos à prefeitura de São Paulo no domingo, na TV Cultura, rendeu memes, reacendeu notícias falsas e virou até mote para candidatos de outras localidades impulsionarem suas candidaturas na internet, como mostra a Lupa. Julian Borba, professor do Departamento de Sociologia e Ciência Política da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), destaca que as provocações de Marçal a outros candidatos são parte de sua “estratégia de construção de visibilidade” – com consequências nefastas. “Porque de alguma maneira reflete algo que está presente no jogo político: a naturalização da violência como forma de resolução dos conflitos políticos. Tudo isso ajuda a consolidar um ambiente de intolerância”, afirma.
🔸 A propósito: Marçal também usou as redes para amplificar a acusação falsa que fez contra Datena durante o debate. O ex-coach afirma que o adversário responde a um processo por estupro. O Aos Fatos conta que, minutos antes de ser alvo da cadeirada, Marçal publicou em suas redes trechos do debate em que insinua que o adversário teria cometido o crime. Somados, os posts tiveram 9,6 milhões de visualizações no Instagram, até a manhã de ontem. A reportagem lembra que Datena foi acusado de assédio sexual em 2019 e conta que a vítima retirou as alegações nove meses depois. Quando o caso foi arquivado, ela afirmou ter sido induzida a voltar atrás, mas o processo não foi reaberto.
🔸 “Quando empresários sérios olham para os números de Marçal, fica difícil acreditar que ele conseguiu acumular R$ 193,5 milhões em dez anos. A conta simplesmente não fecha”, escreve o advogado Cláudio Castello de Campos Pereira. Em artigo no Congresso em Foco, o ex-ouvidor da Câmara Municipal de São Paulo mergulha no passado e nas contas do candidato que enfrenta questionamentos sobre prejuízos em suas empresas e possíveis ligações com o crime organizado, especialmente devido a conexões com figuras acusadas de atuar no tráfico de drogas. “A ascensão de Pablo Marçal no cenário político brasileiro levanta mais perguntas do que respostas. (...) O que parece ser uma história de sucesso nas redes sociais pode esconder uma teia de interesses obscuros que envolvem facções criminosas e o uso de empresas de fachada para lavagem de dinheiro.”
🔸 O ministro Flávio Dino autorizou o governo federal a abrir crédito extraordinário para combater os incêndios na Amazônia e no Pantanal. O Jota explica os fundamentos usados pelo magistrado para liberar o uso de recursos fora da meta fiscal. “Não podemos negar o máximo e efetivo socorro a mais da metade do nosso território, suas respectivas populações e toda a flora e fauna da Amazônia e Pantanal, sob a justificativa de cumprimento de uma regra contábil”, afirmou o ministro do Supremo Tribunal Federal.
🔸 Falando em queimadas…. Na cidade mais bolsonarista da Amazônia, um garimpeiro e um madeireiro disputam o cargo de prefeito. Novo Progresso (PA), com 33 mil habitantes, é também uma das cidades mais desmatadas do país, palco do “dia do fogo”, ação orquestrada de fazendeiros que organizaram queimadas de áreas de floresta em 2019. Lá, Gelson Dil (MDB), atual prefeito ligado à exploração madeireira, tenta a reeleição contra Juscelino Alves (Podemos), ex-prefeito associado ao garimpo. A Repórter Brasil detalha o histórico dos dois e o que apresentam como propostas. A saber: ambos defendem a redução de unidades de conservação e o garimpo em terras indígenas.
📮 Outras histórias
Em Olinda (PE), os seguranças de um shopping têm um “código homossexual”. Está numa lista de 37 outros códigos que os funcionários carregam no crachá, logo depois do 29 (“achados e perdidos”) e antes do 31 (“odor de tinta, cola, esgoto, queimado”). A Marco Zero conta que o código 30 chamou a atenção de um jovem que não quis se identificar por razões de segurança. “A discriminação corriqueira que já havia notado tantas vezes naquele ambiente, comigo e com outros, não se tratava da conduta de algum colaborador específico, mas do próprio protocolo administrativo do shopping”, afirma ele, que denunciou o caso à Comissão de Cidadania, Direitos Humanos e Participação Popular da Assembleia Legislativa de Pernambuco e também à Comissão da Diversidade Sexual e de Gênero da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PE). O shopping Tacaruna admitiu a existência do código e alegou que o objetivo é “resguardar o direito e segurança de todos sem nenhuma orientação discriminatória”.
📌 Investigação
O vício no Jogo do Tigrinho chegou às escolas brasileiras. Apesar de ser proibido no Brasil, o jogo de azar funciona em sites e aplicativos de apostas e viralizou nas redes sociais neste ano. Pela curiosidade e ilusão de dinheiro fácil, crianças e adolescentes já têm sido impactados. “Eu ganho R$ 50 por dia fazendo um bico de descarregamento de carga de caminhão. Cheguei a perder R$ 400 – o equivalente a oito dias de trabalho – em uma hora”, conta Gabriel (nome fictício), de 16 anos. O Lunetas destaca que os estudantes de ensino médio também usam o benefício do Pé-de-Meia – programa do governo federal que busca incentivar os estudantes de famílias de baixa renda a frequentar as aulas – para fazer apostas online.
🍂 Meio ambiente
A Serra do Curral, postal da Grande Belo Horizonte, não será mais explorada para mineração. Em audiência de conciliação na Justiça Federal na última semana, a Empresa de Mineração Pau Branco (Empabra) concordou em encerrar suas atividades na Mina Granja Corumi, que existe desde os anos 1950. Segundo o Conexão Planeta, após a restauração da área, o terreno será doado à Prefeitura de Belo Horizonte, que deverá anexá-lo ao Parque Municipal das Mangabeiras e ao Parque Estadual da Baleia. A Serra do Curral abriga veados, pacas, araras, cachorros-do-mato, gambás, furões e espécies raras, além de mais de 125 tipos de aves e animais ameaçados de extinção. O local também apresenta campos rupestres, Cerrado e áreas remanescentes da Mata Atlântica.
📙 Cultura
Vestidos de camisas brancas e capas vermelhas, os membros da Irmandade dos Foliões de São Benedito de Gurupá mantêm vivas a fé e a resistência da cultura afro-indígena no Arquipélago do Marajó, no Pará. Não há registros escritos sobre o início da festividade de São Benedito na região. Os conhecimentos espirituais são transmitidos pela oralidade, da prática das tradições e de símbolos. A Sumaúma narra a tradição: todo dezembro, os foliões de Gurupá costumam visitar as casas de famílias que pediram ao santo ajuda para realizar o sonho da casa própria. Para a visita, levam instrumentos musicais sagrados feitos de couro e madeira. Com tamborins, raspadores e milheiros – um tipo de chocalho feito com o tronco oco da Embaúba –, o grupo toca e entoa cantigas no ritmo do samba.
🎧 Podcast
“Estou eu vivendo uma sexualidade livre ou estou vivendo uma sexualidade que não imagino o quão presa está a todo o patriarcado?”, questiona a escritora Tati Bernardi. No “451 MHz”, produção da Quatro Cinco Um, Bernardi e o psicanalista André Alves debatem o livro “Alguma Vez É Só Sexo?”, do psicanalista inglês Darian Leader. Os convidados compartilham suas angústias após a leitura, refletindo sobre o papel do sexo na sociedade – tema recorrente na psicanálise desde sua fundação – e como o prazer se tornou um tabu à medida que os valores cristãos se difundiram pelas sociedades.
💆🏽♀️ Raça e gênero
Mais de 750 modelos participaram de 817 anúncios publicitários em 60 edições da revista “Veja” entre 2018 e 2023. As propagandas, no entanto, representaram em suas imagens cerca de 83% de pessoas brancas e 17% de pessoas não brancas, como analisou o Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (GEMAA). Em artigo na Gênero e Número, o grupo reúne os principais dados do levantamento e explica o principal contexto em que gênero e raça estão representados nas peças publicitárias. As mulheres são mais associadas a produtos atrelados à aparência, sobretudo as mulheres brancas. Já os homens – em geral, brancos – aparecem mais em produtos como automóveis e alimentos. Pessoas negras aparecem majoritariamente em anúncios relacionados a temas de responsabilidade social.