O efeito da CPI do MST nas redes e os incêndios na Amazônia
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🔸 O marco temporal volta à pauta nesta semana – não no Senado, mas no STF. O Supremo Tribunal Federal deve retomar o julgamento da tese, adiado diversas vezes e agora de volta ao debate após a aprovação de um projeto de lei sobre o tema na Câmara. Até agora, apenas dois ministros votaram: Edson Fachin, que se manifestou contra, e Nunes Marques, a favor. O Correio Sabiá traz a agenda da semana em Brasília e explica o que está em jogo no julgamento, previsto para quarta-feira. Já na Câmara, a pauta principal deve ser a reforma tributária. O relator Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) deve apresentar um relatório do que foi feito até agora pelo grupo de trabalho que analisa a proposta.
🔸 Envolta em tumultos e bate-bocas na Câmara, a CPI do MST também inflama discursos nas redes sociais – e alimenta, sobretudo, desinformação. Na semana em que foi aberta a comissão parlamentar de inquérito, houve um aumento de 30,7% nas publicações com conteúdos referentes ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Levantamento feito pela Lupa mostra que a CPI gerou um duelo de narrativas no Facebook: representantes do PT defendem o movimento, enquanto opositores ligados ao PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro, tentam criminalizá-lo.
🔸 A propósito: um em cada três membros da CPI já disseminaram desinformação sobre pautas ambientais, incluindo o presidente da comissão, deputado Tenente Coronel Zucco (Republicanos-RS), e o relator Ricardo Salles (PL-SP), ex-ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro. O Aos Fatos analisou todas as publicações relacionadas a temas socioambientais dos 24 titulares da CPI no Facebook desde 1º de fevereiro, início da atual legislatura. Identificou 47 conteúdos falsos ou enganosos. A reportagem detalha os achados.
🔸 Puxado pelo agronegócio, o aumento do PIB mascara o “pibinho” das famílias. Enquanto o Produto Interno Bruto do país saltou 1,9% no primeiro trimestre, o consumo das famílias seguiu modesto, com investimentos em queda de 3,4%, destaca a Agência Nossa. No rastro dos juros altos, o mercado do consumidor brasileiro continua estagnado. Já o agro, voltado para a exportação, cresceu 21,6%, a maior alta para o setor no período desde 1996. “Embora os resultados do PIB e do setor agropecuário sejam encorajadores, as quedas na indústria e nos investimentos requerem cautela”, afirma o economista e analista do Efí Bank, Paulo Silva, lembrando que o “feito” não deve se repetir nos próximos meses. “Taxas de juros elevadas, restrições nas linhas de crédito e o desaquecimento da economia global tendem a limitar um desempenho mais robusto ao longo do ano.”
🔸 O Brasil ocupa a 14ª posição no ranking de países com bilionários do mundo. Estados Unidos, China e Alemanha encabeçam a lista da Wealth-X, que divulgou os dados do chamado Censo Bilionário de 2023. O número de endinheirados no mundo (e no Brasil) caiu, mas, aqui, a renda deles aumentou. O Notícia Preta lembra que o país também figura “bem” no ranking da desigualdade: é o 9º mais desigual do mundo, segundo dados da Síntese de Indicadores Sociais, divulgada pelo IBGE, com base nos parâmetros do Banco Mundial.
🔸 No Fórum Permanente de Afrodescendentes da ONU, o Brasil teve menos espaço do que se esperava, já que ocupa a posição de segundo país com a maior população negra no mundo. Ainda assim, a delegação brasileira teve tempo igual ou menor do que aquele destinado ao Canadá, como conta a ativista Regina Lúcia dos Santos, coordenadora do Movimento Negro Unificado (MNU). “Pelo pouco tempo e pelo número de falas possíveis, a sociedade civil contribuiu muito aquém do que sabe e do que quer contribuir”, afirma. Segundo a Alma Preta, o país foi representado por 11 organizações do movimento negro que apresentaram políticas de reparação histórica, incluindo o reconhecimento da escravidão como crime contra a humanidade. Em carta, o grupo pede às Nações Unidas que a próxima edição seja no Brasil.
📮 Outras histórias
Pela primeira vez em 205 anos, uma pessoa negra ocupa a direção da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Antônio Alberto Lopes é professor do curso desde 1980, membro da Academia de Medicina da Bahia e foi alvo de ofensas racistas às vésperas da votação que o conduziu ao cargo, como relata a Revista Afirmativa. A reitoria da UFBA saiu em defesa do candidato. Em nota, informou que as denúncias serão apuradas e lembrou que a instituição foi “pioneira na adoção de ações afirmativas e de enfrentamento a todo tipo de desigualdade.”
📌 Investigação
Um dos suspeitos de organizar o “Dia do Fogo”, Agamenon Menezes estaria envolvido na grilagem de terras de áreas protegidas na Amazônia. Menezes é presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Novo Progresso, no Pará, estado em que fazendeiros e empresários se articularam para queimar áreas da floresta, entre os dias 10 e 11 de agosto de 2019, no episódio conhecido como Dia do Fogo. Embora seja investigado pela Polícia Federal, o ruralista estaria avançando na pilhagem de terras e vendendo pelo Facebook. Quatro fazendas localizadas dentro de áreas de preservação queimadas no Dia do Fogo foram registradas no Cadastro Ambiental Rural (CAR), por meio do sindicato rural de Novo Progresso. A Repórter Brasil revela que foram identificados 52 anúncios suspeitos publicados semanalmente no Facebook com a oferta de terras griladas. A reportagem é resultado do “Projeto Bruno e Dom”, consórcio de jornalistas e veículos que seguem o trabalho de investigação do jornalista britânico Dom Phillips, assassinado há um ano no Vale do Javari, no Amazonas.
🍂 Meio ambiente
O número de focos de incêndio na Amazônia em maio foi o segundo maior do mês em 18 anos, atrás apenas de 2022. Ao todo, foram registrados 1.692 focos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), 58% maior do que a média para o mês (1.067 focos). Segundo O Eco, maio é considerado o primeiro mês da estação seca no bioma, mas seu histórico de queimadas é relativamente baixo. No entanto, o norte da Amazônia começa a sentir os efeitos do clima extremo de transição do fenômeno La Niña para El Niño, responsável por maiores períodos de estiagem.
O litoral do Ceará é um refúgio de aves migratórias nos períodos frios do hemisfério norte. O município de Icapuí abriga uma área conhecida como Banco dos Cajuais, onde a maré baixa oferece inúmeros nutrientes a elas, como moluscos, mariscos, mexilhões, poliquetas e pequenos crustáceos. O Eco Nordeste narra como o Projeto Aves Migratórias (PAM), desenvolvido pela Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos (Aquasis), tem atuado para garantir proteção a esses animais, coletando dados e buscando cooperação com outros países por onde elas passam. “Em cada parada essas aves enfrentam diversas ameaças, dessa forma sua conservação precisa ser feita por meio da conexão de pesquisadores do mundo todo”, explica Felipe Braga, biólogo, pesquisador da Universidade Federal do Ceará (UFC) e membro do PAM.
📙 Cultura
“Um grande dia para as escritoras” foi o mote do movimento que reuniu fotos de autoras do país. Ao longo do ano passado, as escritoras Giovana Madalosso, Paula Carvalho e Natalia Timerman lançaram um convite nas redes sociais para “uma foto histórica”. A primeira foto aconteceu no dia 11 de junho de 2022, no Pelourinho, em Salvador. A mais emblemática aconteceu no dia seguinte, reunindo mais de 400 escritoras nos degraus do Estádio do Pacaembu, em São Paulo. O Portal Catarinas detalha que essa “primeira onda” alcançou 48 cidades, identificando 2.302 profissionais. O resultado foi organizado por Giovana Madalosso, Esmeralda Ribeiro, Deborah Goldemberg, Paula Carvalho e Sony Ferseck no livro “Um Grande Dia para As Escritoras – Autoras do Brasil Mostram A Cara”.
Quadrinista e cineasta pernambucano, Chico Lacerda estreia com HQ solo na POC-Con, feira de quadrinhos e artes gráficas voltada para o público LGBTQIA+, que acontece em São Paulo nesta semana. Dividida em três volumes, a primeira parte de “Fim de Tarde” apresenta uma autobiografia sobre as descobertas da sexualidade, como conta a revista O Grito!. A história revela a dificuldade de se assumir os próprios desejos nos anos 1980, com o relato de Chico é possível perceber o tabu das relações entre pessoas do mesmo sexo. A obra dialoga com o premiado documentário “Virgindade” (2015) em que são narradas suas lembranças sexuais da adolescência.
🎧 Podcast
“Não tivemos uma eleição para presidente em 2022, tivemos um referendo sobre a continuidade da ordem democrática no país”, afirma o cientista político Leonardo Avritzer, na volta do podcast “Guilhotina”, produção do Le Monde Diplomatique Brasil. Avritzer é co-organizador do livro “Eleições 2022 e A Reconstrução da Democracia no Brasil” e coordenador do Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação. Durante a conversa, ele analisou os primeiros meses de governo Lula e a atuação da extrema direita como oposição. Para o pesquisador, o país ainda está longe de estabilizar a democracia.
🧑🏽🏫 Educação
Sem conseguir se manter na escola, adolescentes entram para a Educação de Jovens e Adultos (EJA), programa criado para atender maiores de 18 anos que não acessaram ou não concluíram a educação básica. Os principais motivos da evasão escolar são a falta de condições para continuar e a necessidade de trabalhar, segundo pesquisa do Sesi/Senai. A Periferia em Movimento mostra que o total de adolescentes de 14 a 17 anos na EJA em 2022 representou 15,7% de todas as matrículas nos anos finais do Fundamental (única disponível na EJA para a faixa etária). O percentual em anos antes da pandemia já chegou a 27,6%. Embora a proporção pareça pequena, a juvenilização da modalidade é um desafio para os educadores.
A propósito: em quatro anos, 322 turmas da EJA foram fechadas pela Prefeitura de São Paulo. Mesmo com as matrículas voltando a crescer no ano passado, o número ainda é 33% menor que o de antes da pandemia. A Agência Mural ouviu professores e alunos e aponta a falta de divulgação do programa, principalmente após a crise sanitária. “Não tem procura porque não tem um incentivo. Não tem uma propaganda maciça mostrando o que ele pode conseguir se voltar a estudar”, afirma Antônio (nome fictício), professor da EJA em São Mateus, na zona leste de São Paulo.