O efeito Roberto Jefferson e as ativistas na cidade mais indígena do país
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🔸 “Para mim, quem atira em policial, o tratamento dispensado tem que ser de bandido.” O candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) voltou a repetir a frase em referência a Roberto Jefferson que, no domingo, recebeu a Polícia Federal em casa com tiros de fuzil e granadas. Os agentes cumpriam mandado de prisão contra o ex-deputado do PTB, que, além de voltar a atacar o Judiciário, burlou regras da prisão domiciliar, condição em que se encontra desde agosto de 2021. Em entrevista exclusiva ao Metrópoles, Bolsonaro falou sobre orçamento secreto, pandemia, a relação com o STF e, claro, tentou se afastar do cacique do PTB. Disse que Roberto Jefferson tinha tudo para “continuar sua batalha por liberdade”, mas que, ao atirar nos policiais, “perdeu completamente a razão”.
🔸 Analistas já avaliam que a reação de Bolsonaro caiu mal entre a base bolsonarista mais radical, mas a frustração não deve ter impacto muito forte, como afirma Vinicius do Valle, doutor em ciência política pela USP e diretor do Observatório Evangélico: “Apesar dessa base mais radicalizada ver esses episódios de moderação como algo ruim, algo negativo, eles continuam com Bolsonaro, porque é o que está mais próximo de seu ideário político. Vejo talvez um efeito desmobilizador, mas não de afastamento”. O Nexo conversa com cientistas políticos sobre o extremismo brasileiro e a repercussão do episódio na campanha de Bolsonaro. O Antagonista também mostra o efeito do caso, mas no mercado – Petrobras e Banco do Brasil caíram mais de 8% com a perspectiva de piora no desempenho eleitoral do presidente.
🔸 Total estabilidade. É o que indicam os números da pesquisa Ipec divulgada ontem. A seis dias das eleições, lembra o Jota, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem 50% das intenções de voto, resultado idêntico ao do levantamento da semana passada. Já o presidente Jair Bolsonaro (PL) manteve também os mesmos 43%.
🔸 Bolsonaro gastou R$ 4,5 milhões em um único dia no YouTube. A Agência Pública revela que, ao todo, entre 16 e 22 de outubro, o presidente pagou mais de R$ 14 milhões em anúncios na plataforma. A reportagem também analisou os vídeos impulsionados nos últimos dias. Parte da explosão de gastos se deve a conteúdos gravados pelo presidente para cidades específicas – ele gravou uma sequência de vídeos com a frase “você que é de…” complementada pelo nome da cidade, como Campinas, Goiânia, Salvador, Belo Horizonte, entre outras.
🔸 Aliás… num dos vídeos impulsionados por Bolsonaro, ele diz: “Lembro que na Câmara todos os deputados do PT votaram contra o auxílio Brasil”. A declaração é falsa. O Aos Fatos já mostrou que o benefício social que substituiu o Bolsa Família foi aprovado na Câmara em 2021, por unanimidade.
🔸 Em vídeo: no Segunda Chamada, do Canal MyNews, a dentista Andrea Barbosa, que foi casada com o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, relatou que ele fazia festas regadas a uísque em meio à crise de falta de oxigênio em Manaus, durante a pandemia.
🔸E o salário? Enquanto Bolsonaro promete um aumento salarial ainda não visto em seu governo e Lula afirma que o salário cresceu em todos os anos de seus governos, a Agência Nossa apurou informações sobre o tema com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Em resumo: entre Lula e Bolsonaro, o reajuste real de salário recuou a mais da metade.
📮 Outras histórias
O título de cidade mais indígena do Brasil é do município de São Gabriel da Cachoeira, no interior do Amazonas e na fronteira com Colômbia e Venezuela, com 23 etnias diferentes. O Nós, Mulheres da Periferia foi até lá para conhecer histórias de lideranças femininas na região e apresenta a luta de quatro delas – Dadá Baniwa, que defende os direitos das mulheres indígenas; Florinda Lima Orjeula, que organiza turismo de base em sua comunidade; Janete Tariana, que teve a vida transformada por meio do artesanato; e Vera Lucia Moura, que luta pela educação.
A poucos dias do segundo turno, o Rio Grande do Norte registrou pelo menos cinco ocorrências suspeitas de violência política na Grande Natal. Uma delas ocorreu no último domingo, em Ponta Negra, onde dois carros com adesivos do PT foram alvejados. Vítima do ataque, uma professora que decidiu ficar no anonimato afirma à Agência Saiba Mais que vai trocar o vidro do veículo, mas o adesivo e a bandeira vão permanecer: “Somos livres para nos manifestar politicamente de acordo com o que acreditamos”.
📌 Investigação
Cafés tipo premium das fazendas Olhos D’Água e Klem, nas cidades mineiras de Campos Altos e Manhumirim, possuem selos de qualidade, slogans de sustentabilidade e certificados de origem, como a certificação da Rainforest Alliance – principal organização internacional que fiscaliza cadeias produtivas de alimentos. Mas a Repórter Brasil revela que as duas fazendas, que exportam especialmente para Europa e América do Norte, foram flagradas com trabalho em condições análogas à escravidão. Lá, 27 trabalhadores foram resgatados.
🍂 Meio ambiente
A Mata Atlântica está cada vez mais longe de sua configuração original. O bioma se estende por 17 estados, mas 57% dos municípios da Mata Atlântica têm menos de 30% de vegetação natural. A Agência Envolverde detalha os números e aponta que, enquanto a cobertura florestal recua, cresce a área destinada à agricultura, tipo de uso de solo que mais cresceu na Mata Atlântica nos últimos 37 anos. Se em 1985 ela ocupava 9,2% do bioma, em 2021 esse percentual alcançou 17,6%.
O desmatamento global diminuiu modestos 6,3% no ano passado, segundo a Avaliação da Declaração Florestal (Forest Declaration Assessment), estudo conduzido por uma coalizão da sociedade civil e organizações de pesquisa, divulgado ontem. O resultado fica aquém de metas internacionais de interromper a perda e degradação florestal até 2030. E quem é um dos principais vilões? Sim, o Brasil. O Projeto Colabora expõe como o país é mal visto em vários pontos do estudo, em especial, no quesito destruição. “O Brasil continua sendo o maior contribuinte para o desmatamento globalmente”, destaca o texto.
📙 Cultura
Creches e escolas do Complexo da Maré, conjunto de 16 favelas no Rio de Janeiro, promovem a apresentação de uma peça que leva o nome da comunidade para trazer sua história de construção para os moradores, tanto crianças quanto responsáveis. O Maré de Notícias conta que a encenação nasceu após uma pesquisa com o Museu da Maré para buscar contos e lendas locais. O objetivo é incentivar o pertencimento do território.
“Quando entendo que exu é movimento, multiplicidade, o incapturável, o mistério, a ruptura, a subversão, tudo que é múltiplo, plural, eu entendo essa minha particularidade de ser muitas coisas.” É assim que Thiago Pirajira explica sua atuação que ecoa nos cantos festivos do Bloco da Laje, no Parque da Redenção, em Porto Alegre. Ator, dramaturgo, cofundador do prestigiado grupo Pretagô, professor no departamento de Arte Dramática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, ele descreve para o Nonada o processo em que aprendeu a expressar sua potência por meio da ancestralidade.
🎧 Podcast
O crescimento econômico no governo Lula, os bons indicadores sociais e a desaceleração econômica no mandato de Dilma Rousseff, o fracasso da “ponte para o futuro” de Michel Temer e a continuidade dessa política durante o governo Bolsonaro. Esses são alguns dos temas debatidos pela economista Juliane Furno, autora do estudo “Um projeto para o Brasil: diagnóstico e saídas para a economia brasileira”, no novo episódio do podcast “Guilhotina”, do Le Monde Diplomatique Brasil.
🙋🏾♀️ Raça e gênero
Na última semana, o humorista Eddy Jr. publicou um vídeo nas redes sociais em que sofre ataques racistas de sua vizinha, Elizabeth Morrone. O youtuber revelou que, na verdade, sofre perseguição desde abril passado e contou que diversas vezes foi denunciado por fazer barulho, mesmo quando estava dormindo ou nem sequer estava no apartamento. A situação gerou revolta e, na última quinta-feira, um protesto se formou na frente do prédio onde Eddy vive para pedir a prisão da mulher. A Ponte Jornalismo cobriu o ato que ficou conhecido como “Agora vai ser assim”.
Em tempo: ontem, a Coordenação de Políticas para População Negra e Indígena da Secretaria da Justiça de SP instaurou um expediente para investigar o caso de racismo contra o humorista. No Instagram, a Alma Preta explica que, se Morrone for considerada culpada, ela poderá ser condenada a pagar uma multa de até R$ 95 mil.