O domínio das milícias no Rio e como atuam os grileiros na Bahia
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🔸 Depois de uma segunda-feira marcada por cenas de guerra, o Rio de Janeiro ainda viveu os ecos da violência no cotidiano da cidade ontem. O sistema de transporte público ainda enfrentava lentidão, depois do incêndio de 35 ônibus, concentrados na zona oeste da capital, por milicianos na segunda-feira. Os ataques seriam uma resposta à morte do miliciano Matheus da Silva Rezende, conhecido como Faustão. Desde os ataques, o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), tem falado em endurecer o combate ao crime organizado no estado. O “Durma com Essa”, podcast diário do Nexo, discute a relação dos grupos criminosos com o aparato estatal.
🔸 A violência na zona oeste do Rio vem em escalada neste ano. O número de mortos mais do que dobrou: de janeiro a outubro de 2023, foram 248 mortos, ante 109 no mesmo período de 2022, segundo dados do Instituto Fogo Cruzado. O Projeto Colabora explora as estatísticas e traz análises de Cecília Olliveira, diretora do instituto. Ela afirma: “Tem disputa de milícia contra milícia e do tráfico contra as milícias. Agora, traficantes estão cobrando taxas e milicianos estão traficando, ou seja, eles estão com atividades ainda mais abrangentes”. Ainda de acordo com o Fogo Cruzado, as áreas dominadas pelas milícias no Rio cresceram 387% em 16 anos.
🔸 Em meio à crise de segurança pública no Rio de Janeiro, armeiros do tráfico contam que o perfil do armamento no mundo do crime já não é o mesmo. Os revólveres com calibres menores deram lugar a armas automáticas e pistolas, como a Glock de 9 milímetros. O Intercept Brasil coletou relatos de armeiros segundo os quais, além de mais fáceis de manusear, as pistolas também custam menos que os fuzis e são mais fáceis de esconder. “Para desmontar é muito fácil, ó. Muito fácil. Rajada um lado, remetente pro outro. Muito fácil de montar e muito fácil de manusear. Muito leve, muito boa”, afirmou à reportagem um armeiro do tráfico.
🔸 O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) avalia o envio das Forças Armadas ao Rio, segundo o ministro da Justiça, Flávio Dino. Já quanto a uma intervenção federal na segurança pública da capital fluminense, Dino reforçou que não há possibilidade neste momento, informa a CartaCapital. Lula confirmou seu ministro: “Não queremos lavar as mãos. Vamos ver como podemos entrar e participar. Não queremos pirotecnia. Não queremos intervenção no Rio, que não ajudou em nada. Não queremos tirar autoridade do governador ou do prefeito. Queremos compartilhar uma saída”.
🔸 O autor do ataque armado na Escola Estadual Sapopemba, em São Paulo, falou sobre o crime um dia antes de cometê-lo, na rede social Discord. O Núcleo teve acesso a capturas de tela de uma conversa do estudante na plataforma. A uma jovem, no domingo, ele afirmou que levaria a cabo o ataque no dia seguinte. Quando indagado sobre o motivo, o adolescente afirmou que desejava “sentir-se poderoso”. A reportagem lembra que o Discord, bem como o TikTok, têm tido problemas em moderar conteúdo extremista no mundo todo.
📮 Outras histórias
Investir em tecnologia para antecipar fenômenos climáticos extremos. A promessa foi feita pelo governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB) – sem, no entanto, apresentar detalhes. O Sul21 conta que, quase dois meses depois da enchente histórica no Vale do Taquari, Leite assinou contrato com o Conselho Internacional para Iniciativas Ambientais Locais (ICLEI, na sigla em inglês) para consultoria na governança, análise de risco e vulnerabilidade climática do estado.
📌 Investigação
“Fiquei na mira da arma deles, que até tiraram foto minha. Estou com muito medo.” Este é o depoimento de um morador do Fecho de Pasto de Capão Grosso, comunidade tradicional do Oeste da Bahia, onde a violência pela disputa de terras se intensificou nos últimos anos com a ação de pistoleiros a mando de fazendeiros e empresários que tentam tomar as áreas para o avanço da agropecuária na região. O Joio e O Trigo expõe como agem os grileiros, desde a invasão, o uso de ameaças e intimidações contra a população local até a fraude de documentos no cartório.
🍂 Meio ambiente
Um dos maiores abrigos de onças-pintadas nas Américas, o Parque Estadual Encontro das Águas, no Pantanal de Mato Grosso, voltou a ser atingido por incêndios. Em 2020, 86% da reserva queimou – cerca de 90 mil hectares. Segundo O Eco, desde o início do mês, 20 mil hectares foram queimados, metade dentro da área de preservação. Os dados foram compilados via satélite e divulgados no último sábado pelo Instituto Centro de Vida. Além de bombeiros, agentes estaduais e aeronaves, o Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (PrevFogo) deslocou brigadistas para apoiar o combate ao incêndio no parque.
📙 Cultura
“A primeira pessoa a publicar um romance no Brasil é uma mulher negra. Só por isso ela deveria ter estátuas, ser estudada nas escolas, mas não é. A gente não tem uma imagem de quem foi Maria Firmina dos Reis”, afirmou a jornalista e poeta Elizandra Souza na Festa Literária da Penha, a FliPenha, celebração que acontece anualmente no bairro Penha de França, na zona leste de São Paulo. A Periferia em Movimento acompanhou o evento, no último final de semana. Em edições anteriores, foram exaltadas autoras como Ruth Guimarães, Gabriela Mistral, Carolina Maria de Jesus e Pagu. Neste ano, a homenageada foi Maria Firmina dos Reis. Mulher negra, ela é considerada a primeira pessoa a publicar um romance no país, com a obra “Úrsula” (1859).
🎧 Podcast
Enquanto os indígenas Tikuna sofriam com dificuldades de escoar a produção excedente da roça da comunidade, em que abacaxi, banana, mandioca e milho orgânicos sobravam e apodreciam, as crianças das escolas públicas da região viviam de merendas feitas com produtos ultraprocessados. Unir essas duas pontas parecia a solução perfeita. O “Rádio Novelo Apresenta”, produção da Rádio Novelo, mostra como o que era simples se tornou um grande imbróglio burocrático, jurídico e logístico.
🧑🏽⚕️ Saúde
Ainda existem poucas pesquisas sobre pobreza menstrual na América Latina e no Caribe. São raros os estudos que abordam temas como as dificuldades de acesso a saneamento básico e produtos de higiene, como absorventes. A Agência Bori detalha uma pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que sintetizou o conhecimento científico disponível sobre a questão na região. Foram encontrados apenas 15 trabalhos, publicados entre janeiro de 2011 e julho de 2022. A maioria é de instituições brasileiras e com foco em adolescentes. “A escassez de estudos sobre o tema na América Latina traz, também, uma dificuldade ao acesso à informação e à criação de condições dignas para a higiene menstrual, como o acesso à água, a sabonetes e absorventes”, afirma Mariana Santos Felisbino-Mendes, coautora da pesquisa e professora da UFMG.