A diversidade no primeiro ano de governo e as escolas quilombolas na BA
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
🔸 Foi um dia histórico. O Congresso promulgou ontem a reforma tributária. Pela primeira vez em quase 40 anos, os parlamentares aprovaram uma mudança no sistema de impostos do país. A aprovação representa também o triunfo do Legislativo sobre o Executivo, avalia o Congresso em Foco. Os presidentes da Câmara e do Senado, Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG), chegam ao fim de 2023 fortalecidos e em alta com o Palácio do Planalto. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou da sessão solene: “Guardem essa foto e se lembrem que contra ou a favor, vocês contribuíram para que este país, pela primeira vez no regime democrático, aprove uma reforma tributária”, afirmou.
🔸 Lula também se reuniu com os ministros ontem e avisou que vai “por o pé na estrada” em 2024, ano de eleições municipais no país. O ministro da Casa Civil, Rui Costa, explicou que o objetivo do governo federal para o ano que vem é avançar na etapa de lançamentos e passar a entregar obras e políticas públicas, informa o Metrópoles. “Ao todo, 75 programas foram lançados neste ano, no conjunto dos ministérios, e agora 2024 será um ano de entregas. Menos lançamento e mais entregas”, disse Costa.
🔸 E a diversidade? Se a foto da posse de Lula, em janeiro de 2023, reuniu oito pessoas representando o povo brasileiro, o retrato do fim do primeiro ano de governo é menos diverso. Ao longo do ano, duas ministras mulheres foram demitidas para acomodar demandas políticas do centrão. Também as indicações de Lula para o Supremo Tribunal Federal repetiram o padrão masculino da Corte. Por outro lado, houve a criação do Ministério dos Povos Indígenas e a retomada de projetos de gênero e raça. O Nexo faz um balanço das políticas de gênero e diversidade do governo Lula em 2023, aponta as falhas e acertos e conversa com especialistas sobre o tema.
🔸 Ativistas do clima são alvos recorrentes de discurso de ódio nas redes. Um estudo da coalizão Climate Action Against Disinformation identificou mais de 65 mil postagens no Twitter com linguagem distorcida para atacar postagens pró-meio ambiente e 34 mil posts ofensivos contra pessoas ou ações ambientais. No Brasil, o projeto Mentira Tem Preço, parceria da InfoAmazonia com a produtora Fala, observou ataques semelhantes contra líderes e ativistas ambientais, o que indica que os negacionistas seguem um padrão internacional. Isso fica evidente, por exemplo, no uso de termos como “ecoterrorista”, direcionado a formadores de opinião e até a integrantes do governo. Segundo o Mentira Tem Preço, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, é uma das personalidades ligadas à pauta ambiental mais atacadas nas redes sociais.
📮 Outras histórias
As periferias poluem menos. É o que mostra o Mapa das Desigualdades 2023, a partir de informações do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) de 2022. No ano passado, o Instituto Cidades Sustentáveis analisou dados de fuligem liberada pela combustão de veículos em São Paulo em um dia útil de 2022. Segundo a Agência Mural, os resultados revelaram que os 10 distritos menos poluentes estão nas periferias, enquanto os 10 mais poluentes estão em áreas centrais e nobres, com destaque para a Sé, cujas emissões foram 153 vezes maiores que o distrito menos poluidor, Marsilac. A maior poluição nas áreas centrais é atribuída ao maior tráfego de ônibus e congestionamentos.
📌 Investigação
Das 26 escolas quilombolas de Vitória da Conquista, terceira maior cidade da Bahia, 14 foram desativadas pela prefeitura desde 2018. A maioria dos fechamentos ocorreu sem aviso prévio ou qualquer tentativa de diálogo com os moradores das comunidades. Reportagem do Conquista Repórter mostra os impactos da desativação das escolas na cultura, memória e identidade étnica de remanescentes de quilombo, além de revelar o abandono dessa população pelo poder público. “Eles alegaram que tínhamos poucos alunos, mas na realidade não existe isso. Nós temos o direito de ter uma escola funcionando na comunidade”, diz Maria Aparecida Souza, coordenadora da associação de Lagoa dos Patos.
🍂 Meio ambiente
O município de Antônio Gonçalves (BA) já foi conhecido como o “oásis do sertão”, mas as lavras para a extração de pedras, como quartzito, engoliram parte das nascentes do rio Itapicuru e, ao lado dos afluentes, se formaram pilhas de rejeitos. O Meus Sertões narra os impactos socioambientais da atividade na região. São cerca de dez mineradoras com trabalhos de dia e de noite. O barulho das máquinas não deixa ninguém dormir. Desde fevereiro de 2022, é possível ver o desmonte dos morros, o aumento da poluição e o desmatamento para construção de novos acessos e para a implantação das pedreiras.
📙 Cultura
Com 12 filmes de Brasil, Argentina, Venezuela, Paraguai e Uruguai, a plataforma Mercosul Audiovisual traz conteúdos gratuitos e acessíveis para que crianças desses países conheçam mais sobre os vizinhos e possam compreender os sonhos e os problemas em comum. Segundo o Lunetas, a seleção inclui curta-metragens que discutem cultura da paz, preservação do meio ambiente, empoderamento infantil e inclusão, além de questões como a crise econômica, o desemprego, o racismo e a destruição ambiental. “A criança, em contato com histórias vindas do continente, se conhece e se reconhece, numa atitude comparativa e com muita empatia”, aponta Beth Carmona, diretora da plataforma comKids e especialista em conteúdos infanto-juvenis.
🎧 Podcast
“Lá ele”, “Barril”, “Oxe” e “Baratino” são expressões características da Bahia, algumas ganharam o Brasil todo por meio de músicas e de vídeos nas redes sociais. O “Nordestinidades”, produção da Eco Nordeste, conversa pesquisadoras e artistas sobre as linguagens típicas baianas, com sua diversidade também dentro do próprio estado. As entrevistadas destacam o contexto histórico da construção linguística com as influências do português colonial e de línguas africanas.
👩🏽💻 Tecnologia
A cientista Renata Wasserman pesquisa há anos inteligência artificial. Era sempre a única mulher na área da computação em conferências e eventos. Em um ambiente masculino, a pesquisadora enfrenta a desigualdade de gênero e conciliou também a maternidade com os estudos. À revista AzMina Wasserman alerta sobre os preconceitos envolvendo a IA, principalmente em relação ao racismo algorítmico. Segundo a pesquisadora, esses computadores não têm uma compreensão ou consciência, e trabalham com estatística, verificando padrões. “É um dos maiores problemas desses sistemas, pois eles projetam para o futuro o que acontecia no passado”, afirma.