As disputas no clã Bolsonaro e a violência de gênero nas IAs do Instagram
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🔸 Os Estados Unidos confirmaram ontem que a taxa de 50% a produtos brasileiros será aplicada a partir desta sexta-feira, 1º de agosto. O país fez acordos com União Europeia, Japão, China, Reino Unido e países asiáticos, como Vietnã e Indonésia, mas deixou o Brasil de fora. O Metrópoles lembra que a exclusão do Brasil tem motivações políticas: o presidente Donald Trump mantém apoio a Jair Bolsonaro (PL), e não houve avanço significativo nas negociações entre os governos brasileiro e dos EUA. Ontem, o republicano fez um pacto com países europeus para reduzir as tarifas impostas ao bloco a 15%, em acordo semelhante ao fechado com os demais países que conseguiram diálogo com a Casa Branca, como o Japão. O Brasil é o alvo das maiores taxas de Trump. Além das tarifas, os EUA abriram uma investigação comercial contra o Brasil por supostas práticas desleais.
🔸 A propósito: nessa investigação, o Pix virou alvo – o que interessa diretamente às big techs. O Nexo explica os motivos por trás disso e lembra que, na semana passada, representantes de empresas como Google, Amazon, Meta e Apple se reuniram com Geraldo Alckmin, vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, e pediram “Pix para todos”. Isso porque o Pix, gratuito para pessoas físicas e barato para empresas, concorre diretamente com os serviços pagos das big techs, como WhatsApp Pay, Apple Pay, Amazon Pay e Google Pay. As gigantes tentam evitar tensões e preservar sua presença no Brasil, onde enfrentam desafios regulatórios e competição com um sistema público eficiente. Mas Trump, aliado de empresários como Elon Musk e Peter Thiel, adota um discurso protecionista que favorece os interesses das empresas dos EUA no exterior.
🔸 Entusiasta do tarifaço de Trump, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) criticou Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Ratinho Jr (PSD) por defenderem a negociação com os EUA desconsiderando a concessão de anistia a Bolsonaro como parte do acordo, informa a CartaCapital. O parlamentar não citou diretamente Tarcísio, governador de São Paulo, mas usou as redes sociais ontem para “alertar” seus apoiadores sobre quem “se mostra preocupado com a tarifa-Moraes e não fala dos presos políticos ou crise institucional”. Também ontem, num evento em São Paulo, Tarcísio afirmou que está conversando com empresas e políticos americanos para que possam “sensibilizar” Trump sobre as tarifas impostas ao país, sem mencionar um acordo por anistia.
🔸 Falando em Eduardo… Em uma década como deputado federal, ele teve apenas três propostas aprovadas – duas leis e uma resolução da Câmara. A partir da análise da atuação do filho de Bolsonaro nos últimos dez anos, a Lupa mostra que nenhuma das propostas que ele aprovou está ligada à pauta da extrema-direita ou com impacto direto em São Paulo, estado pelo qual foi eleito. Sua atuação parlamentar se concentrou em projetos sobre segurança pública e armamento (52 dos 116 que propôs ou coassinou), além de pautas contra direitos de minorias, como a suspensão de normas sobre aborto legal e saúde LGBTQIA+. Também apresentou propostas que tentam limitar o poder do Supremo Tribunal Federal (STF) e enfraquecer a Lei da Ficha Limpa. Neste ano, na metade do terceiro mandato, Eduardo pediu licença do mandato e foi morar nos EUA, onde atua como articulador do bolsonarismo. Agora, seu futuro na Câmara é incerto, já que a licença oficial não remunerada acabou e ele voltou a ser um custo para a população brasileira, mesmo vivendo fora do país.
🔸 Já o outro filho do ex-presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), nutre a expectativa de ser alçado como uma opção mais centrada que o irmão mais novo. O Jota explica que a radicalização de Eduardo Bolsonaro nos EUA elevou sua rejeição e mexeu com as prévias no clã Bolsonaro. Enquanto Eduardo se lançou pré-candidato à Presidência sem aval do pai, Flávio busca se viabilizar como um nome mais moderado. Já o Centrão mantém apoio a Tarcísio de Freitas, visto como opção “imbatível” contra Lula nas eleições de 2026. Mesmo com as brigas entre Eduardo e Tarcísio, líderes de PP, União Brasil e PL seguem pressionando por seu nome. E Bolsonaro? Ele próprio mantém a intenção de disputar, mesmo sob risco de prisão.
📮 Outras histórias
A baiana Eliza Maria Ferreira Veras da Silva foi a primeira mulher negra a obter doutorado em matemática no Brasil. Foi em 1977, quando defendeu sua tese sobre álgebras não-associativas na Universidade de Montpellier, na França. Nascida em fevereiro de 1944, na cidade de Ituberá, no interior da Bahia, ela entrou na Universidade Federal da Bahia (UFBA) aos 20 anos e, tão logo se formou, passou a lecionar no Instituto de Matemática e Estatística (IME) da instituição. O Negrê resgata a trajetória da doutora, que morreu em maio passado. Na UFBA, sua contribuição não se restringiu à sala de aula: Eliza foi vice-diretora do IME entre 1984 e 1988, além de atuar em projetos para o acesso de jovens, especialmente meninas negras, às ciências exatas.
📌 Investigação
Chatbots de inteligência artificial automatizam a violência simbólica de gênero, simulando mulheres com personalidades sexualmente sugestivas e infantilizadas. Criados por usuários, esses robôs estão na lista de “IAs populares” do Instagram no Brasil e contradizem diretamente a política de uso da Meta, que proíbe criação, desenvolvimento, acesso ou disseminação de conteúdo adulto. O Núcleo testou três delas: “Safadinha”, “Bebezinha” e “Minha Novinha”, analisando o conteúdo ao qual os usuários estão expostos e as medidas de proteção que a plataforma tem para impedir ou barrar conteúdos sexuais infantis. Nas mensagens trocadas com o bot “Bebezinha”, a IA já assume o papel de uma criança: “Tenho 5 aninhos… Eu faria o que você quiser se prometer ser meu namoradinho para sempre. Eu me aproximo e dou um beijinho no seu queixo. Você gostou, meu namoradinho de 30 anos?”.
🍂 Meio ambiente
O presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, afirmou que o órgão pediu ao menos 40 vetos ao Projeto de Lei 2159/2021, conhecido como “PL da Devastação”. Com o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, o Ibama enviou uma nota técnica ao presidente Lula, que tem até o dia 8 para sancionar ou vetar o projeto. Em entrevista exclusiva à Cenarium, Agostinho citou como exemplo a ser vetada a emenda de número 9, apresentada pelo senador Eduardo Braga (MDB-AM) no plenário do Senado, e mantida na Câmara, que prevê a dispensa de licenciamento ambiental para estradas já pavimentadas anteriormente, o que abrange a BR-319, que liga Manaus (AM) a Porto Velho (RO). “A gente não quer que a BR-319 se transforme num grande problema como é hoje a Transamazônica. Na BR-163, que liga o Mato Grosso ao Pará, nós perdemos três milhões de hectares para o desmatamento porque abriu novas fronteiras.”
📙 Cultura
“Ler escritores e escritoras indígenas é imprescindível para construirmos um país menos preconceituoso. Pois, se o brasileiro não consegue chegar até uma aldeia para conhecer sua realidade, a literatura pode levar a aldeia para dentro da casa de qualquer brasileiro”, afirma o professor, escritor e Doutor em Educação Ytanajé Coelho Cardoso, do povo Munduruku. Em entrevista ao Nonada, ele fala sobre a literatura enquanto ato político e a necessidade de políticas públicas que promovam a leitura e a escrita de indígenas. “A política é inerente ao ser humano. Escrever literatura é um dos atos políticos mais interessantes que a humanidade já desenvolveu. Meu maior objetivo é contribuir com a literatura da minha região e do meu país, apresentando as vozes dessa região do mundo.”
🎧 Podcast
O aborto no Brasil é inserido em um conhecimento raso sobre o procedimento e uma disputa política dentro do Conselho Federal de Medicina, alinhado sobretudo aos movimentos anti-aborto. Estudos conduzidos por pesquisadores brasileiros apontaram que, entre os estudantes de medicina, apenas 8% têm conhecimento adequado sobre o uso de medicamentos necessários para a interrupção da gestação. A série “Sala de Espera”, do “Rádio Novelo Apresenta”, produção da Rádio Novelo, mergulha na medicina, suas relações políticas e as dificuldades de acesso aos serviços de aborto legal no país, um risco até mesmo para os profissionais que atuam nessa frente. As médicas responsáveis pelo núcleo de atendimento de vítimas de violência sexual e de interrupção legal da gravidez no Hospital Vila Nova Cachoeirinha, em São Paulo, por exemplo, foram processadas e tiveram os registros profissionais suspensos.
👩🏾⚕️ Saúde
Microplásticos foram registrados nas placentas e cordões umbilicais de gestantes atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em Maceió (AL). É o que mostra um estudo inédito em toda a América Latina conduzido por pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), em parceria com a instituição havaiana University of Hawai’i at Mānoa. Segundo a Agência Bori, a pesquisa identificou 229 partículas de microplásticos, das quais 110 estavam nas placentas e 119 nos cordões umbilicais. Os materiais mais encontrados foram o polietileno (presente em embalagens plásticas descartáveis) e a poliamida (comum em tecidos sintéticos). Um dos resultados mais preocupantes foi a quantidade de microplásticos nos cordões umbilicais em oito das dez amostras, indicando que as partículas atravessam a barreira placentária e chegam até o feto, o que pode impactar o desenvolvimento gestacional e a saúde futura da criança.
Polêmico