Um diagnóstico da Defesa Civil e os conteúdos anti-LGBTQIA+
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🔸 O governo federal anunciou ontem o Auxílio Reconstrução para vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul. Será um Pix único, no valor de R$ 5.100, destinado a 240 famílias, informa o Agora no RS. Segundo o ministro Rui Costa (Casa Civil), para receber o valor, será preciso apresentar apenas o comprovante de residência. Quem perdeu documentos nas inundações poderá fazer uma autodeclaração de endereço. Outros dois benefícios anunciados são o saque do FGTS de até R$ 6,2 mil e a inclusão de mais 21 mil cadastros no Bolsa Família.
🔸 Das 446 cidades atingidas pelo desastre, 139 já tiveram os recursos da Defesa Civil Nacional liberados. Para obtê-los, as prefeituras devem fazer uma solicitação. O prefeito de Porto Alegre foi a público se queixar da demora no repasse de verbas. Mas o Matinal apurou que o próprio Sebastião Melo (MDB) levou seis dias para fazer o pedido. A reportagem teve acesso à lista de solicitações. Canoas, na região metropolitana, foi a que pediu mais recursos: R$ 53,9 milhões. Os pedidos costumam ser de dois tipos: o mais frequente é o de assistência social, que inclui itens como cestas básicas, colchões, refeições, entre outros itens; há ainda os pedidos para restabelecer estruturas e serviços públicos, com obras emergenciais em prédios e estradas.
🔸 “A gente não tem uma visão clara sobre quem faz parte da Defesa Civil em todo o Brasil. A Defesa Civil acaba se tornando uma espécie de ‘Severino, quebra-galho’. As pessoas observam o serviço na resposta aos desastres, mas se esquecem que a função principal é a gestão de emergências.” A afirmação é do pesquisador Victor Marchezini, do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais). Segundo diagnóstico do próprio órgão, falta capacitação e profissionalização para o Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil. O Jota detalha o que diz o documento feito a partir de entrevistas com servidores pelo país. A pesquisa revela, por exemplo, alto índice de rotatividade – 36% dos servidores entrevistados estavam na atividade, no máximo, há 6 meses, problema considerado crítico.
🔸 Os bairros mais pobres foram os mais atingidos pelo desastre climático no RS, seja na capital, seja na região metropolitana. André Augustin, pesquisador do Observatório das Metrópoles - POA, sobrepôs o mapa das inundações e os dados de renda do Censo Demográfico de 2010. O resultado, mostra o Sul21, confirma o que pesquisadores apontam há muito tempo: eventos climáticos extremos têm maior impacto na população mais vulnerável economicamente.
🔸 O Brasil é líder em casos de deslocamentos devido a desastres naturais na América do Sul. É o que aponta relatório do Centro de Monitoramento de Deslocamentos Internos. Em 2023, as chuvas foram a principal causa de deslocamento de 745 mil, conta o Notícia Preta. Segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), no ano passado o país viveu um recorde de eventos climáticos. O Brasil também figura entre os países da América que mais acolhem pedidos de asilo, ao lado do Peru, México e Costa Rica.
📮 Outras histórias
O desastre no Rio Grande do Sul acendeu o alerta em todo o país: quais são os mecanismos para prevenir e mitigar os impactos de eventos climáticos extremos? Maceió (AL), Porto Alegre (RS), Belém (PA), Boa Vista (RR), Macapá (AP), Manaus (AM), Palmas (TO), Porto Velho (RO), Aracajú (SE) e Natal (RN) estão entre as capitais que não possuem um Plano de Mudanças Climáticas. Em Maceió, explica a Mídia Caeté, não existe também um Plano Diretor atualizado e falta um Plano de Mobilidade Urbana (PMU) – a prefeitura não enviou o documento ao Ministério das Cidades dentro do prazo, encerrado em 12 de abril. “Os dois planos conversam entre si, pois o PMU dá subsídio para o Plano Diretor. Ambos são instrumentos importantíssimos para a cidade. Não ter o plano de mobilidade é abrir mão de recursos federais disponíveis para projetos de mobilidade integração. Assim, você abre mão realmente do desenvolvimento do município”, diz o professor Dilson Ferreira.
📌 Investigação
Os conceitos de “família tradicional” e “desenho original da família” nunca tiveram base científica ou acadêmica, mas são especialmente conhecidos nas Américas por meio de comunidades cristãs. Os termos agora ganham as redes sociais e os aplicativos de mensagens. Em parceria com a Univision, Data Crítica e o Instituto Democracia Digital das Américas (DDIA), a Agência Lupa analisou mais de 11 mil publicações que revelam como essas expressões foram apropriadas pelos movimentos ultrarreligiosos e por entidades super polarizadas do continente para promover desinformação e ódio contra pessoas LGTBQIA+. Esses conteúdos superam as barreiras geográficas e linguísticas, ignoram os direitos dessa comunidade e não são fiscalizados pelas plataformas. É comum uma publicação nascer em um país e, com pouca ou nenhuma adaptação, ser replicada em outro, amplificando o discurso de ódio.
🍂 Meio ambiente
O calor extremo é ainda mais severo para pessoas que vivem mais vulneráveis. Se 2023 foi o ano mais quente do planeta desde que se tem registro, as altas temperaturas em 2024 seguem castigando as famílias que moram nas periferias. O Desenrola e Não Me Enrola narra como o calor intenso tem afetado a rotina dessa população, desde a dificuldade para realizar as tarefas diárias e os impactos na saúde até o crescimento dos valores das contas de água e luz devido ao uso de ventiladores e aumento no consumo de água para se refrescar. “Tem sido cada dia mais penoso. Nesse calor excessivo, eu não funciono muito bem, sinto muito cansaço”, conta Fabiana Calixto, moradora do bairro Vila Flávia, no distrito de São Mateus, zona leste de São Paulo. Uma de suas filhas tem bronquite, e as altas temperaturas afetam diretamente sua respiração.
📙 Cultura
“Artistas, em geral, são sintetizadores do seu tempo, estão olhando para aquilo o tempo todo”, afirma o cantor e compositor Juliano Holanda. Natural de Goiana, na Zona da Mata Norte de Pernambuco, ele carrega sonoridades típicas da região, mas é o Centro de Recife que forma a paisagem de seu novo álbum visual “A Verdade Não Existe”, com dez faixas inéditas em versão solo, acompanhado apenas do violão. A parte visual é um documentário dirigido por Mery Lemos. À revista O Grito! Holanda detalha as inspirações do projeto e suas inquietações como artista.
🎧 Podcast
O economista e professor da Universidade de Chicago, Leonardo Bursztyn, em parceria com dois colegas, publicou em outubro de 2023 um artigo para estipular qual o valor do Instagram e do TikTok para jovens universitários dos Estados Unidos. Na “Rádio Escafandro”, produção da Rádio Guarda-Chuva, o jornalista Tomás Chiaverini, ao lado de Bursztyn, mergulha no resultado do estudo, que revela o quanto as redes sociais são viciantes a ponto de surpreender os pesquisadores. Apesar do mal estar causado pelas redes sociais na saúde humana, quase ninguém consegue abandoná-las porque o custo de ser socialmente excluído é maior que a vontade de não utilizá-las.
👩🏽💻 Tecnologia
O texto sobre regulação de inteligência artificial mais avançado no Senado não inclui a sociedade civil nos órgãos de fiscalização e controle e é altamente permissivo sobre tecnologias de alto risco com potencial de invasão de privacidade, como o reconhecimento facial, explica o Núcleo. A tramitação acontece na Comissão Temporária Interna sobre Inteligência Artificial, com relatoria do senador Eduardo Gomes (PL-TO). Segundo o pesquisador Rafael Zanatta, codiretor da Data Privacy Brasil, o projeto tem mais ênfase nos agentes, como empresas, em vez de priorizar os direitos das pessoas naturais, tal como a legislação europeia que destaca os direitos fundamentais das pessoas.