O desvio de remédios na terra Yanomami e o impacto das enchentes no Nordeste
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Oi, pessoal. Aqui é a Audrey, editora da Brasis. Entramos agora no sexto mês de disparo da newsletter, tendo vocês como leitores todos os dias. É uma honra. Foram seis meses de curadoria minuciosa e, agora, queremos afinar ainda mais o trabalho para apresentar uma seleção de histórias cada vez mais interessante. Para isso, precisamos saber um pouco mais sobre quem nos acompanha e elaboramos uma pesquisa – um questionário curto, com perguntas simples e diretas, para avaliar e melhorar a Brasis. É só clicar aqui. Contamos com vocês.
Obrigada e boa leitura.
🔸 Enquanto o povo Yanomami sofria com a falta de medicamentos do SUS para combater malária e verminoses, grupos de garimpeiros no Whatsapp negociavam esses remédios por preços entre R$ 150 e R$ 200 a unidade. Investigação da InfoAmazonia revelou o comércio nas redes de artesunato e mefloquina, além de cloroquina, produzidos pela Fundação Oswaldo Cruz e pelo Ministério da Saúde, e que deveriam ser distribuídos gratuitamente pela rede pública para o tratamento da malária. Um homem identificado pela reportagem como Jonata Prado Dantas, que seria maqueiro de hospital, atua como uma espécie de atravessador e é um dos que anuncia os medicamentos do SUS nos grupos de WhatsApp. Ele negociava de remédios e utensílios para garimpo até mercúrio.
🔸 Os casos que chegam ao Tribunal Penal Internacional são aqueles “mais graves que afetam a comunidade internacional no seu conjunto”, e a Corte exerce sua atuação sobre “as pessoas responsáveis pelos crimes de maior gravidade com alcance internacional”. O Tribunal teria competência para julgar a tragédia Yanomami em Roraima? Em artigo no Jota, Eliane Moreira, promotora de Justiça do Ministério Público do Pará, e Ana Carolina Bragança, procuradora da República no Amazonas, analisam se os fatos observados na terra indígena podem ser enquadrados como crime de genocídio e os limites de competência do Tribunal Internacional.
🔸 O incentivo ao garimpo, o desmonte dos órgãos de proteção e a suspensão dos serviços públicos. Os três pontos servem como indícios de que houve genocídio contra os Yanomami, segundo o Nexo. A reportagem lembra que 59 mil hectares na região foram atingidos por novas áreas de garimpo de 2017 a 2021 (ano recorde), superando todo o espaço ocupado pelo garimpo até o final dos anos 1980, quando houve corrida pelo ouro da Serra Pelada (PA). Também destaca que a Funai, durante o governo Bolsonaro, passou a atuar contra suas funções institucionais e alinhadas, por exemplo, aos interesses do setor ruralista.
🔸 O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes rejeitou ontem pedido para suspender a posse de 11 deputados bolsonaristas. Eles estariam envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro. Como informa o Congresso em Foco, o magistrado entende que não há justa causa para investigar deputados que já não estão nos inquéritos da Corte e afirma que as condutas dos parlamentares devem ser analisadas pelo Conselho de Ética da Câmara dos Deputados.
🔸 Quatro em cada dez agentes de segurança concordam total ou parcialmente que a pauta dos invasores dos Três Poderes é “legítima e não atenta contra a democracia”. O Portal Terra detalha uma pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) ouviu servidores das polícias civil, militar, científica e federal, de guardas municipais e do corpo de bombeiros de todo o país. Para o presidente do FBSP, Renato Sérgio de Lima, a pesquisa revela que os policiais entendem que há contaminação dos quartéis com questões políticas. “Quando 40% acham que o pleito é legítimo, mostra que é preciso lutar para separar a política dos quartéis”, afirma.
📮 Outras histórias
Uma Assembleia de Deus no Caminho Niemeyer, em Niterói (RJ). Segundo espaço com mais obras do arquiteto Oscar Niemeyer depois de Brasília, o percurso foi inaugurado em 2002 e, desde então, como conta o A Seguir Niterói, há o projeto de construção de uma igreja evangélica. Agora, quase 21 anos depois, o prefeito Axel Grael (PDT) assinou o termo de cessão de um terreno de cerca de 7 mil metros quadrados no local para levantar o templo, que será assinado pelo escritório Niemeyer.
No Complexo da Maré, uma maratona de imersão na tecnologia de Realidade Virtual (VR, na sigla em inglês) vai oferecer formação na área para 36 mulheres. Elas vão aprender de conceitos a técnicas para a criação de vídeos e documentários em VR que reflitam a realidade das mulheres brasileiras. O Maré de Notícias explica como funciona o processo de seleção e esmiúça o projeto “Mulheres na Inovação”, que terá encontros com especialistas e o uso de equipamentos como óculos 3D.
📌 Investigação
Conteúdos que exaltam assassinos, autores de massacres em escolas e supremacistas brancos acumulam mais de 344 milhões de visualizações no Tik Tok. Embora a plataforma, amplamente utilizada por crianças e adolescentes, afirme que segue suas Diretrizes da Comunidade para moderar conteúdos violentos, há publicações dessas comunidades que chegam até a aparecer na aba de recomendação. É o que revela o monitoramento feito pelo Núcleo entre dezembro de 2022 e janeiro de 2023, em que foram observados 112 perfis e mais de trinta hashtags.
🍂 Meio ambiente
O número de pessoas afetadas por desastres naturais, como secas e enchentes, disparou no Norte e Nordeste entre 2015 e 2021. Só no Rio Grande do Norte, a cifra passou de 145 atingidos para 4.755 por cem mil habitantes. Os dados estão em estudo recém-lançado pela Associação de Pesquisa Iyaleta. Os principais impactos recaem sobre populações vivendo em áreas de moradias precárias nos centros urbanos. O Eco Nordeste detalha as informações da pesquisa. Os números indicam um baixo orçamento direcionado para a redução de riscos e desastres, “com o grande agravante de, nos últimos seis anos, o governo federal ter negado a política de mudanças climáticas, com total silêncio das ações de adaptação”, segundo os pesquisadores.
Cerca de 38% do que resta da Amazônia sofre com algum tipo de degradação causada pela atividade humana. O dado surpreendeu os 35 pesquisadores que publicaram o estudo na revista “Science”. Foram consideradas quatro práticas como degradação: fogo na floresta, efeito de borda (as mudanças que acontecem em áreas de floresta ao lado das áreas desmatadas), extração seletiva (como desmatamento ilegal) e secas extremas. A Agência Bori traz os principais pontos levantados pela pesquisa.
📙 Cultura
A identidade negra na fotografia: exposição permanente do Museu da Abolição no Recife, em Pernambuco, exibe o trabalho de 20 artistas, que constroem a narrativa de ancestralidade como forma de expressão e reivindicação da voz do povo negro. Intitulada de “Afrografia: Cultura, Beleza, Memória e Resistência do Povo Negro de Pernambuco”, a mostra teve a curadoria do artista audiovisual Rennan Peixe. Segundo o Notícia Preta, é possível visitar a exposição de terça a domingo, das 9h às 17h, com entrada gratuita.
🎧 Podcast
Ícone da literatura mundial no século 20, o “Livro do Desassossego”, de Fernando Pessoa, só foi publicado após a morte do autor. São pequenos fragmentos escritos ao longo de sua vida e, de tão fragmentada, a produção é assinada por Bernardo Soares, um semi-heterônimo. O novo episódio do 451 MHz, produção da da Quatro Cinco Um e da Rádio Novelo, explica que a obra de Pessoa influencia uma grande parte da cultura contemporânea em língua portuguesa, como as letras de canções da Tropicália, movimento da música popular brasileira.
🧑🏽⚕️ Saúde
O suicídio entre crianças e adolescentes tem crescido no Brasil e no mundo. Em 2021, foram 200 casos no país, o maior número registrado pelo Ministério da Saúde por ano desde 1996, sendo cinco deles entre menores de nove anos. O Portal Lunetas destaca a necessidade de romper o tabu sobre o tema na sociedade. As conversas devem levar em conta os adolescentes, que têm mais acessos a meios de atentar contra a própria vida e mais intencionalidade em suas ações. “Quando a gente olha para a adolescência, há questões de bullying e violência entre namorados que, muitas vezes, são gatilhos para desencadear o comportamento”, afirma Joviana Avanci, da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) da Fiocruz.