A desinformação sobre a guerra e as denúncias contra a Bienal
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🔸 Termina hoje o prazo para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vetar ou sancionar a proposta do Marco Temporal aprovada pelo Congresso. Igor Gadelha, colunista do Metrópoles, apurou que ele deve vetar parcialmente o projeto de lei. “Não será um veto total, mas será um veto bastante grande”, afirmou um ministro. O artigo principal do projeto – dispositivo que só permite serem demarcados como novos territórios indígenas no Brasil espaços que estavam ocupados em 5 de outubro de 1988, quando a Constituição foi promugada – deve ser vetado, o que representaria um gesto de concordância com o Supremo Tribunal Federal (STF), que julgou inconstitucional a tese do Marco Temporal. Mas Lula também acenará ao Congresso: segundo ministros e assessores do Palácio do Planalto, o presidente deve sancionar artigos que não são considerados inconstitucionais nem tiveram métodos questionados.
🔸 A desinformação sobre o conflito entre Israel e Hamas inunda as redes sociais brasileiras. As publicações ignoram o contexto político na região do confronto, o fato de que a Palestina vive uma cisão política há décadas – de um lado, está a Autoridade Palestina, que atua como governo provisório e tenta negociar a paz com Israel; do outro, está o Hamas, grupo militarizado que controla a Faixa de Gaza. O Aos Fatos detalha esse contexto e também explica a relação do Brasil com a Palestina, alvo de muitos conteúdos falsos que circulam na internet.
🔸 A propósito: durante os dez dias de confronto, 17 políticos com mais de 700 mil seguidores no Telegram usaram seus canais para compartilhar informações sobre o tema. Uma análise da Lupa revela que 71% das 98 mensagens compartilhadas – desde o dia 7 de outubro, quando o Hamas fez o primeiro ataque contra Israel, até terça-feira (17) – fizeram uso político da guerra para promover outras pautas, como o armamento da população, a criminalização de movimentos sociais, ou ainda para convencer os eleitores de que a esquerda apoia o terrorismo.
🔸 “A cada linha que lemos sobre o conflito em Gaza, ou a cada cena que vemos sobre o assunto, mais se percebe o peso do atraso civilizatório do Brasil. Vivemos crimes de guerra no Brasil diariamente.” Em artigo na CartaCapital, a jornalista Carla Jimenez lembra “elementos de guerra” presentes no cotidiano do país, como o genocídio contra os povos originários, e cita um fato recente que aproxima o Brasil de Israel: “O líder de extrema direita Benjamin Netanyahu tem laços fortes com a extrema-direita brasileira”. Ela completa: “Antes do conflito estourar, Israel vivia um pesadelo com todos os elementos que tentam importar para o Brasil. Uma reforma da Corte Suprema para que os juízes não possam contestar decisões do governo. Conchavos com políticos ultraortodoxos que ignoram os avanços sociais e partem para soluções radicais, como o cerco a Gaza, em nome de um ideal supostamente divino”.
📮 Outras histórias
Quase 90 anos depois da primeira, a segunda mulher negra na história assumiu o cargo de deputada na Assembleia Legislativa de Santa Catarina. Vanessa da Rosa (PT), de 50 anos, será suplente de Padre Pedro Baldissera (PT). A Casa não tinha uma parlamentar negra desde 1934, quando a professora Antonieta de Barros tomou posse – à época, ela foi também a primeira mulher negra a ocupar um cargo político no país. A Alma Preta resgata sua história e conta quem é a nova deputada.
📌 Investigação
Jovens das periferias tentam desafiar a baixa presença no parlamento e buscam ocupar cargos nas Câmaras Municipais da Grande São Paulo nas eleições de 2024. No pleito de 2020, dez dos 39 municípios da região elegeram pessoas de até 24 anos como vereadores. “Não me identificava com a questão do jovem na política até que, em 2019, decidi me candidatar para poder contribuir nesse quadro de Mogi, que na época era composto por 23 vereadores e somente uma mulher. Não havia nenhum jovem”, conta Maria Luiza Fernandes (Solidariedade), 23, vereadora de Mogi das Cruzes. A Agência Mural destrincha a participação política da juventude em partidos, mas também para além dos cargos institucionais, como a atuação em movimentos sociais e trabalhos comunitários nos territórios.
🍂 Meio ambiente
“Nós mulheres da Terra Baú somos donas do nosso território, donas da nossa terra. A estrada de Ferrogrão é nosso maior medo hoje, porque vão invadir nossa terra”, afirma a cacica Panh-ô Kayapó, líder indígena da Terra Indígena Baú. O projeto da Ferrogrão pretende construir quase mil quilômetros de ferrovia paralela à BR-163, de Sinop (MT) até Itaituba (PA). Em entrevista à InfoAmazonia, Panh-ô Kayapó relata os principais riscos que o empreendimento pode levar ao território, como a entrada de garimpeiros e outros invasores que afetam diretamente o modo de vida da população indígena.
📙 Cultura
Trabalhadores de bienais de artes no país denunciam más condições de trabalho. Até o início de outubro, alguns funcionários e artistas da Bienal das Amazônias, com sede em Belém (PA), ainda não haviam recebido nenhuma parcela do pagamento do evento, que começou em agosto, como informa o Nonada. Na Bienal de São Paulo, trabalhadores relataram em carta aberta condições de trabalho "que vão desde o vale-refeição abaixo do mercado e insuficiente para uma alimentação adequada até a carga de trabalho extenuante, o ambiente com calor excessivo, causando desmaios, a espera de até três horas para um revezamento que permita ir ao banheiro”. Segundo eles, a Bienal também não tem cumprido "regras de acessibilidade e de adoção do nome social de pessoas LGBTQIA +". Em nota, a organização da mostra afirmou que atende às condições estabelecidas pelas leis trabalhistas.
As jovens Maria Orange e Jordana Steinbruck levam o cinema para as crianças na Rocinha, favela da zona sul do Rio de Janeiro. Às terças, elas amarram uma lona branca entre duas pilastras de madeira em um sobrado antigo, organizam cadeiras e levam o projetor e uma caixa de som. Segundo o Fala Roça, é nesse cenário que recebem o público formado, em grande maioria, por crianças entre 4 e 11 anos de idade para sessões de filmes. Elas desejam continuar ocupando mais espaços para realizar o cinema itinerante e futuramente ter um local para promover sessões para adultos. “A ideia agora é fazer na Quadra da Cachopa, fiz no fim de semana lá no Vidigal e no próximo vou fazer lá no Parque da Cidade, mas meu objetivo é que pudesse ter em todas as localidades, uma vez por semana, um cinema para as crianças”, afirma Maria.
🎧 Podcast
Indígena do povo Wapichana de Roraima, Ariene Susui tinha o sonho de ingressar na Universidade Federal de Roraima (UFRR) para cursar Jornalismo. Ao longo de uma década, ela não apenas se formou e passou a atuar na profissão como também se tornou a primeira indígena mestre em Comunicação no país. O “Vida de Jornalista”, produção da Rádio Guarda-Chuva, narra a trajetória de Ariene desde seu ativismo em organizações indígenas na juventude até sua participação no grupo de trabalho de Comunicação do governo de transição do atual mandato de Lula.
💆🏽♀️ Para ler no fim de semana
Do digital às cartas e ao tabuleiro, a atividade de jogar pode ser uma ferramenta de aprendizado e de transformação social por meio do protagonismo e interação que traz ao usuário. A Emerge Mag apresenta duas iniciativas que buscam causar um impacto positivo a partir do desenvolvimento de jogos. Uma delas é a Maloca Games, uma marca baseada na cultura afro-brasileira, com a criação de produtos que celebram aspectos da cultura negra, como o jogo de cartas “Favela Venceu”. Nele, os jogadores competem para construir e desenvolver uma favela que forneça qualidade de vida e estrutura aos moradores.