A desinformação contra o Banco do Brasil e os canais neonazistas no Telegram
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🔸 Jovens negros são as principais vítimas de mortes por causas não naturais. De acordo com o “1º Informe Epidemiológico sobre a Situação da Saúde da Juventude Brasileira: Violências e Acidentes”, produzido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), essa população representa 73% dos óbitos por motivos “externos”, como violência, acidentes e confrontos armados, com uma taxa de mortalidade que chega a 185,5 para cada 100 mil habitantes – 22% maior do que a taxa do conjunto da população jovem e mais do que 90% maior do que a taxa de mortalidade de jovens não negros. O Notícia Preta reúne os dados do estudo: entre os jovens de 15 a 19 anos, as taxas de mortalidade por causas não naturais para negros (161,8 óbitos para cada 100 mil habitantes) e indígenas (160,7) são quase o dobro das taxas para brancos (78,3) e amarelos (80,8).
🔸 Treze crianças foram baleadas no Grande Rio em 2025. No último dia 15, Enzo Gabriel, de 5 anos, foi atingido em frente a casa onde mora em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, durante uma tentativa de homicídio contra um homem de 27 anos. O caso foi o segundo em menos de 48 horas: no dia anterior, um menino de 7 anos foi vítima de bala perdida dentro da escola na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. O Fogo Cruzado lembra que ao menos 732 crianças e adolescentes foram baleadas na região nos últimos nove anos. Em 2024, foram 26 vítimas, número que superou 2018, ano da intervenção federal no Rio de Janeiro, quando 25 crianças foram atingidas.
🔸 Depois de o governo ser surpreendido pela oposição na presidência da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS, com o senador Carlos Viana (Podemos-MG) ocupando o cargo, a investigação do escândalo ganhou um capítulo inesperado também no Supremo Tribunal Federal (STF). O relator do caso será o ministro André Mendonça. Segundo a revista piauí, em junho, Dias Toffoli tomou o caso para si por afirmar ter “conexão” com outros inquéritos dos quais é relator. Atendendo a uma manifestação da Procuradoria-Geral da República (PGR), o presidente da Corte, Luís Roberto Barroso, determinou que as investigações do INSS fossem submetidas à regra básica de distribuição por sorteio.
🔸 O Banco do Brasil enviou um ofício à Advocacia-Geral da União (AGU) pedindo medidas contra a campanha de desinformação de bolsonaristas, gerando pânico entre correntistas. As declarações de figuras da extrema direita contra a instituição começaram com o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que publicou um vídeo afirmando que se o Banco do Brasil mantiver o ministro do STF Alexandre de Moraes como correntista será “cortado desse relacionamento internacional” e “isso leva o banco à falência”. O Nexo explica as implicações dos ataques. “Criar informações falsas contra uma instituição coloca em risco todo o sistema, porque há uma interconexão no sistema bancário e financeiro”, afirma o professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), Pedro Mouallem. Após o ofício da instituição financeira, a AGU deve enviar à Polícia Federal um pedido de investigação sobre a desinformação.
📮 Outras histórias
Em vídeo: com caixa d’água e placa solar, os indígenas Krahô, no Tocantins, implantaram irrigação movida a energia solar para cultivar mudas nativas, hortaliças e alimentos tradicionais nos períodos de seca. O Amazônia Vox mostra como as comunidades indígenas garantem sua alimentação tradicional e sua segurança alimentar a partir da adaptação e resiliência climática diante das mudanças no regime de chuvas e aumento das temperaturas. “Hoje conseguimos plantar duas vezes ao ano, no inverno e no verão, com a irrigação”, afirma o agricultor Miguelito Krahô.
📌 Investigação
Mais de 35 mil brasileiros participaram de canais neonazistas abertos no Telegram, revela levantamento inédito do pesquisador Ergon Cugler, do Laboratório de Estudos sobre Desordem Informacional e Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV). Segundo o Intercept Brasil, todos os grupos eram acessíveis sem convite. O pesquisador destaca que “é muito fácil encontrar comunidades nazistas no Telegram. Basta digitar alguns termos genéricos na busca e aparecem canais e grupos abertos com símbolos, frases e conteúdos declaradamente inspirados no nazismo. Não é preciso convite, nem indicação”. De acordo com a pesquisa, a plataforma mantém esses espaços visíveis e estruturados, funcionando como arquivos permanentes de conteúdo neonazista. O problema se agrava pelo uso de algoritmos de recomendação que direcionam usuários a conteúdos semelhantes. Com a recente decisão do STF de que as plataformas têm o dever ativo de remover conteúdos criminosos, o Telegram agora pode ser responsabilizado por omissão.
🍂 Meio ambiente
“A Amazônia não é uma zona de sacrifício; é um território de vida, cultura e resistência. A partir das nossas lutas históricas e propostas concretas, chamamos seus governos a tomar uma decisão firme pela vida e pela justiça: a Declaração de uma Amazônia Livre de Combustíveis Fósseis”, afirmam 50 organizações indígenas e da sociedade civil, que pedem, em carta pública, que a Amazônia seja declarada a primeira zona mundial de exclusão de combustíveis fósseis. O documento foi publicado durante a 5ª Cúpula de Presidentes da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) em Bogotá, que aconteceu na semana passada, em Bogotá. A InfoAmazonia detalha que as organizações exigem uma moratória imediata à abertura de novos blocos de petróleo e gás e o fim de subsídios públicos à exploração fóssil. Elas alertam que atividades como a exploração em blocos brasileiros, equatorianos e peruanos representam “um ataque cada vez mais amplo de interesses extrativistas”, agravado por passivos ambientais e pela exclusão das vozes indígenas nos processos de decisão.
📙 Cultura
Um documentário tocantinense venceu prêmio no Festival de Cinema de Gramado. Dirigido por Leandro de Alcântara e produzido com recursos da Lei Paulo Gustavo via Secretaria da Cultura do Tocantins, o filme “Da Aldeia à Universidade” acompanha a trajetória dos estudantes indígenas Xerente Romário Sorowasde e Sandra Krtadi em busca de formação universitária. A Gazeta do Cerrado conta que a obra, lançada no Cine Cultura em Palmas, evidencia os desafios enfrentados por jovens indígenas no ambiente acadêmico e ressalta a necessidade de políticas públicas de permanência – não apenas acesso – no ensino superior. “Esse prêmio é dedicado ao Romário Sorowasde Xerente e à Sandra Krtadi Xerente, que contribuíram com suas histórias e experiências acadêmicas para a produção do documentário”, diz o codiretor e roteirista Túlio de Melo.
🎧 Podcast
A primeira diplomata negra do Brasil iniciou a carreira aos 22 anos e se tornou inspiração para outras mulheres que também desejam ocupar espaços historicamente reservados a homens brancos de elite. O “Conversa de Portão”, produção do Nós, Mulheres da Periferia, relembra a trajetória de Mônica de Menezes, que, em 1980, ingressou no Itamaraty como a primeira mulher negra. A diplomata enfrentou diversos desafios em um ambiente elitista e predominantemente branco. “Mônica se tornou referência para outras mulheres negras que seguem ou querem seguir a carreira diplomática”, destaca a repórter Beatriz Oliveira. O episódio aborda ainda a importância da representatividade e da ação afirmativa para mulheres negras no serviço público.
👩🏽🏫 Educação
“Ser mais uma pessoa da família que chega à universidade é uma grande conquista”, afirma Laís Barbosa Santos, do Jardim Ângela, zona sul de São Paulo. A jovem participou de um curso da ONG Escrevendo na Quebrada, fundada em 2020 por jovens de bairros periféricos da capital paulista. A iniciativa já formou mais de 2 mil vestibulandos de baixa renda por meio de aulas de redação, oficinas interativas, mentorias de carreira e acompanhamento psicopedagógico. A Emerge Mag narra como o projeto contribui para que alunos da periferia cheguem à universidade. Ao oferecer suporte essencial, como acesso à internet, tablets, isenção de taxas e transporte, a organização atua também para reduzir as desigualdades sociais que colocam jovens periféricos em desvantagem educacional.