A rede de desinformação da ‘Abin paralela’ e a medicina das plantas
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🔸 Após o atentado sofrido pelo ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump no último sábado, durante um comício na Pensilvânia, as redes sociais foram inundadas por narrativas falsas – inclusive em português – que se assemelham à onda de desinformação vista logo após o ataque à faca contra o então candidato à Presidência do Brasil, Jair Bolsonaro (na época no PSL, hoje no PL) durante a campanha eleitoral de 2018. A Agência Lupa apurou algumas das informações falsas que têm circulado, como a biografia e foto do atirador, acusando indivíduos aparentemente desconectados com o caso, o perfil político do criminoso, associando-o ao comunismo, e a organização e financiamento dos ataques, com suposto envolvimento da “esquerda internacional”. O FBI informou que o atirador foi identificado como Thomas Matthew Crooks e, ao que indica a investigação, agiu sozinho.
🔸 A desinformação foi também um dos principais pilares da ‘Abin paralela’, em que agentes do órgão usaram ilegalmente sua estrutura para criar materiais desinformativos e se infiltraram em grupos de extrema-direita para ampliar a difusão de mentiras que beneficiavam o governo Bolsonaro. O Aos Fatos explica que foram estabelecidos intermediários para a disseminação de notícias falsas, como o empresário e influenciador Richards Dyer Pozzer, que também foi preso preventivamente na última quinta. Segundo a Polícia Federal (PF), por meio de Pozzer, os agentes teriam conseguido estabelecer um fluxo de comunicação com o canal Terça Livre, do blogueiro foragido Allan dos Santos, e com servidores ligados à Presidência da República. Uma das estratégias desinformativas era criar falsas relações para impulsionar teorias da conspiração.
🔸 Ao mesmo tempo que Bolsonaro é alvo nas investigações da PF, os militares que lhe abriram espaço para irregularidades estão longe do foco. Em 2016, uma das primeiras ações do ex-presidente Michel Temer foi transformar a Casa Militar no Gabinete de Segurança Institucional (GSI), e o elevar ao status de ministério, com a nomeação do general Sérgio Etchegoyen, então chefe do Estado-Maior do Exército. Foi o decreto da Política Nacional de Segurança da Informação, assinado por Etchegoyen, que permitiu que a Abin contratasse sem licitação ou transparência os softwares de espionagem usados massivamente no governo Bolsonaro. Na newsletter do Intercept Brasil, o repórter Paulo Motoryn relembra as estruturas que ajudaram na construção da ‘Abin paralela’ e que tanto Etchegoyen quanto o general Augusto Heleno, chefe do GSI na gestão de Bolsonaro, não constam no relatório da PF.
🔸 Deputados “pró-vida” que assinaram o Projeto de Lei 1904/2024, conhecido como “PL do Estupro”, também foram favoráveis ao chamado “PL do Veneno”, que deu origem à nova Lei de Agrotóxicos. Ao todo, são 51 parlamentares em comum, como revela levantamento da Repórter Brasil. Enquanto o primeiro equipara o aborto legal após 22 semanas ao crime de homicídio, inclusive em casos de estupro, o segundo pode facilitar a liberação de agrotóxicos com potencial para provocar abortos espontâneos e malformações fetais. “Chama a atenção que o mesmo grupo político e ideológico que é conservador, e tem discurso de defesa da vida, é o que apoia as situações que colocam a vida em risco”, afirma a médica e sanitarista Lia Giraldo, uma das autoras do relatório “Saúde Reprodutiva e a Nocividade dos Agrotóxicos”, da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).
📮 Outras histórias
Cinco meses após o Carnaval, maestros, músicos de frevo, integrantes de afoxés, DJs e técnicos de som contratados pela Prefeitura de Olinda (PE) ainda não foram totalmente remunerados até a última semana. A Marco Zero detalha que a empresa terceirizada responsável pelas contratações dos artistas havia efetuado 70% dos pagamentos. “Prometeram pagar e já pagaram uma parte. Ficaram pendentes a apresentação de um palco e a da procissão de São Jorge, na quaresma”, afirma o maestro Lulinha, à frente da Orquestra Henrique Dias, uma das mais antigas e tradicionais da cidade.
📌 Investigação
Com patrocínio “diamante” da Novo Nordisk e Eli Lilly, além de outras seis farmacêuticas que dividiram fatias menores de apoio, médicos e profissionais da saúde no Congresso Internacional de Obesidade (ICO na sigla em inglês) tentaram se reaproximar de políticas públicas de prevenção à obesidade, ao mesmo tempo que as atenções se voltaram para uma nova geração de medicamentos. O Joio e O Trigo revela que a semaglutida e tirzepatida, princípios ativos do Ozempic e Wegovy, da Novo Nordisk, e do Monjauro, da Eli Lilly, foram celebradas com entusiasmo. Esses fármacos atuam no bloqueio dos sinais de fome no cérebro e retardam o esvaziamento do estômago. Além de contra indicações e efeitos colaterais que podem levar, inclusive, à desnutrição, não se sabe sobre a interação desses medicamentos com transtornos mentais. A maioria dos estudos disponíveis sobre essas substâncias foram produzidos direta ou indiretamente pelas próprias farmacêuticas.
🍂 Meio ambiente
Na Assembleia Legislativa de Rondônia, metade dos 24 deputados estaduais é dona de terras, mas as atas das sessões mostram que quase não são discutidas propostas para aumentar a produção agropecuária junto a alternativas para evitar o desmatamento e pensar a restauração ambiental. Os discursos, na verdade, frequentemente são favoráveis à extinção de Unidades de Conservação. O Varadouro destaca que não chegam a cem os criadores de bovinos que procuraram apoio técnico da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), responsável pela criação do sistema de integração lavoura-pecuária-floresta (ILFP), com objetivo de obter maior sequestro de carbono, aumentar a matéria orgânica do solo, reduzir a erosão, melhorar as condições microclimáticas e garantir o bem-estar animal.
📙 Cultura
“Eu sempre procuro trazer as coisas boas nas minhas imagens. Se me perguntarem se você tem registros de garimpos, desmatamento, queimadas, tenho. Fotografo também, mas existem duas formas da gente trazer aliados para a conservação: ou através da beleza ou da desgraça”, afirma o fotógrafo, pesquisador, escritor, geólogo e documentarista Adriano Gambarini. Em entrevista a’O Eco, ele narra sua experiência em mais de duas décadas em diversos biomas brasileiros e os povos que neles vivem. “Noventa e nove por cento dos povos com quem eu trabalho são da Amazônia, onde sou fotógrafo há mais de 25 anos e digo que se tem alguma unidade de conservação capaz de manter a Amazônia são as terras indígenas”, conta.
🎧 Podcast
“O cinema acompanha o impulso criador de Caetano por boa parte de sua trajetória, uma espécie de vertente paralela à música e se toca com a música em diversos momentos”, afirma Rodrigo Sombra, fotógrafo e professor do curso de audiovisual da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. O “451 MHz”, produção Quatro Cinco Um, recebe Sombra e o jornalista e mestre em teoria, história e crítica de cinema Cláudio Leal. Juntos, eles organizaram o recém-lançado “Cine Subaé: Escritos sobre Cinema (1960-2023)”, obra que reúne críticas e depoimentos do cantor Caetano Veloso sobre o cinema. Os organizadores falam sobre as intersecções das produções cinematográficas nas músicas de Caetano e consequentemente no movimento da Tropicália.
👩🏾⚕️ Saúde
“As plantas curam muitas coisas. No meu ponto de vista, elas são bem subestimadas, porque sempre que estamos doentes, a gente procura logo o posto de saúde, algo de fora. Sendo que no nosso território existem plantas e elas podem curar também”, afirma Rodrigo Macena, jovem de 25 anos, do Território Indígena Morro dos Cavalos, em Palhoça (SC). Ao Catarinas Macena conta por que decidiu falar sobre a medicina tradicional do seu povo por meio do projeto “Olhar, ouvir e documentar: oficinas de audiovisual no território Mbyá-Guarani do Morro dos Cavalos”, promovido pelo veículo, e a importância dos saberes passado por gerações: “Quem fica com os conhecimentos são as mulheres mais velhas. São elas quem sempre têm o conhecimento de qual planta procurar para determinada doença, se é uma dor, elas já sabem quais plantas usar. Guardamos isso para a gente, para poder passar para outra geração”.