As descobertas da transição e o distrito onde se morre mais cedo em São Paulo
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🔸 À medida que o trabalho dos grupos técnicos da equipe de transição avança, surgem indícios de problemas de gestão do atual governo – ou de abuso de poder econômico e político. É o caso do Ministério da Cidadania, segundo Aloizio Mercadante (PT), que coordena os grupos da transição. O Antagonista informa que ele se refere tanto ao Auxílio Brasil (que voltará a se chamar Bolsa Família), inflado às vésperas das eleições com 2 milhões de novos beneficiários, quanto ao crédito consignado da Caixa Econômica, que liberou R$ 4 bilhões também antes do pleito. “Vamos representar no TCU, na CGU, em todas as instâncias esses graves indícios”, disse Mercadante. A senadora Simone Tebet (MDB-MS), também da equipe de transição, afirmou que 96% do orçamento da Cidadania estaria destinado hoje ao pagamento do benefício, deixando os demais programas da pasta esvaziados.
🔸 Já o grupo técnico da comunicação aponta um desmonte do setor pelo atual governo. Um fonte da equipe de transição afirmou ao Congresso em Foco que o que existe atualmente é “um processo de comunicação e divulgação do [presidente Jair] Bolsonaro, e não do governo”. Para corrigir o problema, a proposta do grupo é recriar a Secretaria de Comunicação Social, com status de ministério, vinculada à Presidência da República. A estratégia prevista é privilegiar ao máximo as mídias sociais, com perfis para todas as pastas e conteúdos criativos. A experiência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no combate às fake news durante as eleições será usada para guiar o novo governo na regulação das redes.
🔸 O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu a favor dos aposentados ontem, no julgamento conhecido como “revisão da vida toda” do INSS. Por 6 votos a 5, determinaram que, diante de mudanças nas regras previdenciárias, o segurado da Previdência Social tem o direito de optar pela regra que lhe seja mais favorável. O Jota detalha o julgamento e explica o que significa a revisão.
🔸 Um mês de acampamento bolsonarista em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília: se antes eram oferecidos itens básicos como alimentação e banheiros, agora o local também tem atividades para “aliviar o estresse”, como massagem, tenda de “abrigo para conexão humanitária” e fantoche para crianças. O Metrópoles conta que o acampamento recebe visitantes, que vão apenas para passear com a família e pets, e tem moradores fixos, abrigados em barracas. Estes já dão sinais de cansaço. “Pelo amor de Deus, temos que acabar com isso até o fim de semana”, pediu um deles ao blogueiro bolsonarista Oswaldo Eustáquio, que passou por lá, como visitante.
🔸 Agora, ao grande evento do dia: a Seleção Brasileira enfrenta hoje, às 16h, o time de Camarões e, apesar das duas vitórias anteriores, contra Sérvia e Suíça, o treinador Tite foge do favoritismo, segundo o Portal Terra. Ele afirmou que nem sequer tem tempo de assistir aos jogos dos rivais do Brasil na Copa do Mundo, tamanho é o foco nos treinos.
📮 Outras histórias
“A evolução do trabalho é baseada em construção civil, metalúrgica e fundição. São coisas pesadas e, se a pessoa está nessa linha de trabalho, a tendência dela é chegar só nessa idade mesmo.” Assim José Domingos, morador do distrito do Iguatemi, na zona leste de São Paulo, explica uma das razões pela qual o lugar é onde os paulistanos morrem mais cedo. A Agência Mural traz os dados do Mapa da Desigualdade de 2022: a média de idade em que os moradores de Iguatemi morrem é de 59,3, a menor entre os 96 distritos do estudo. O número significa que, por lá, morre-se 20 anos mais cedo que no Jardim Paulista, área nobre da zona oeste, com a média de 80 anos – a mais alta da cidade.
Ter participado de todas as Copas do Mundo da Fifa com a seleção masculina explica por que o Brasil tem o título de “país do futebol”, mas nem todas as regiões têm representantes nessa história. A Agência Tatu mostra que, dos 355 jogadores e técnicos que já foram para a Copa vestindo a amarelinha, apenas 35 são nordestinos. As convocações se concentram em atletas nascidos de Rio de Janeiro e em São Paulo. No entanto, o futebolista que mais vestiu a camisa da seleção na competição, somando as participações como jogador e treinador, foi o alagoano Zagallo.
📌 Investigação
Dos dez maiores pecuaristas do Brasil, apenas um não apresentou problemas ambientais ou trabalhistas. Os outros nove somam R$639 milhões em multas ambientais, 1.400 km² de áreas embargadas por desmatamento ilegal e 163 trabalhadores resgatados de trabalho escravo. O especial “Nome aos Bois”, levantamento inédito da Repórter Brasil, mostra quem são eles e como fizeram fortuna desmatando a floresta.
🍂 Meio ambiente
Em agosto de 2021, um grupo de indígenas isolados foi localizado nas proximidades do rio Purus, no sul do Amazonas. Desde então, a Fundação Nacional do Índio (Funai) não fez nenhuma ação para protegê-los, como noticiou O Joio e O Trigo, em janeiro deste ano. A reportagem agora mostra que a inércia segue, e a proteção dos “isolados do Mamoriá Grande”, como foram nomeados, preocupa indigenistas. À época, os servidores do Amazonas solicitaram a instalação de bases de proteção e a restrição de uso do território. Nada aconteceu, e acumulam-se os indícios do encontro dos indígenas com extrativistas. “Ficou claro que o território está invadido e a cultura material está sendo acessada. A Funai tem se omitido e permitido o aumento dos conflitos entre eles,”, afirma Izac da Silva Albuquerque, coordenador da Frente de Proteção Etnoambiental (FPE) Madeira Purus.
Um fórum de fundos soberanos com cidades mineradoras e ricas em royalties. Criado nesta semana, o grupo é um caminho para a troca de experiências e para potencializar o desempenho financeiro das aplicações das cidades. Conceição do Mato Dentro (MG) é uma das que integram o fórum. A cidade mineira recebe royalties da mineração desde 2014, com as operações da mineradora Anglo American. A Agência Nossa explica que os fundos soberanos funcionam como uma poupança pública para garantir a implementação de políticas que visam estimular o desenvolvimento local. Um dos bons exemplos do país vem de Niterói, onde 10% dos recursos do petróleo são reservados ao fundo soberano, aplicado em programas sociais e obras de infra-estrutura,
📙 Cultura
O ano de 2022 marca os 30 anos da demarcação da Terra Indígena Yanomami pelo governo brasileiro. Trata-se do maior grupo indígena de recente contato com todo o planeta. A revista Quatro Cinco Um reflete sobre o fato de a sociedade contemporânea apenas se preocupar com o que está sendo destruído. Com os Yanomami, não é assim: o risco de desaparecimento aumentou, seu apoio político também; quanto mais ameaçados, mais suas imagens aparecem em livros, filmes, exposições.
Diretor de Cidade de Deus (2002), Fernando Meirelles tem dois novos projetos na manga. O primeiro deles é um spin-off do longa indicado a quatro Oscars, contando a história da favela de outra perspectiva. “No filme, só falávamos das carências das comunidades. Dessa vez, vai ser sobre a potência dessas comunidades”, disse. O Tangerina revela ainda que Meirelles tem pretensão de entrar no mundo dos super-heróis – com personagens brasileiros –, adaptando para a televisão a HQ “O Cidadão Incomum”, de Pedro Ivo.
🎧 Podcast
Em novembro passado, surgiu um novo momento do desaparecimento do escoteiro Marco Aurélio, que sumiu em 8 de junho de 1985, no Pico dos Marins, em São Paulo. Novas escavações foram feitas e, de novo, resultaram em frustração – o corpo não foi encontrado. O episódio “Marco Aurélio vivo?”, do podcast “Pico dos Marins: O caso do escoteiro Marco Aurélio”, produção da Trovão Mídia, conversou com novas fontes e revela informações que a imprensa não tinha dado.
💆🏽♀️ Para ler no fim de semana
As Cozinhas Solidárias são a conexão entre os milhões que vivem na insegurança alimentar e pequenos agricultores, grupos afetados pelo desmanche de programas como o Bolsa Família e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). O Le Monde Diplomatique Brasil narra a experiência das filas em frente aos pontos de preparo e distribuição das quentinhas e destaca a necessidade de recriar políticas públicas de segurança e soberania alimentar, construindo, antes de tudo, um espaço para a prática da cidadania e convivência entre as pessoas.