O desastre climático no RS e o estado das emissoras educativas
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🔸 Com fortes chuvas desde segunda-feira e ao menos dez mortos, o Rio Grande do Sul vive “o maior desastre climático que o estado já enfrentou”, nas palavras do governador Eduardo Leite (PSDB). Segundo ele, a situação deve ser pior do que a enfrentada em setembro do ano passado, quando 50 pessoas morreram nas enchentes. Se naquele momento a enxurrada foi seguida de dias de tempo firme, o que facilitou as ações de resgate, agora, serão dias consecutivos de chuva intensa. O Sul21 informa que a situação é mais grave na região central do estado, mas os efeitos se espalham por diversas bacias hidrográficas. “Não teremos capacidade de fazer todos os resgates, porque os municípios estão mais dispersos. E com a dificuldade de que as chuvas não cessam”, afirmou Leite. As aulas na rede pública de ensino foram suspensas, e o governo federal enviou à região oito aeronaves e 335 militares para ações de apoio.
🔸 No município gaúcho de Candelária, mais de cem pessoas estão ilhadas nos telhados das casas à espera de resgate. Em apenas dois dias, a cidade registrou 400 mm de chuva, e o Rio Pardo subiu 50 cm. Segundo o Agora RS, dois helicópteros da Força Aérea Brasileira foram disponibilizados para o resgate. O mau tempo, porém, impediu que a operação fosse realizada. A prefeitura classifica a situação como “catastrófica” e informa que esta é a pior enchente de Candelária desde 2010. Até a noite de ontem, 114 municípios do estado já haviam registrado danos.
🔸 No Dia do Trabalhador, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou a nova tabela para o imposto de renda. A partir de agora, serão isentas do tributo as pessoas que ganham até dois salários mínimos por mês, o equivalente a R$ 2.800. “Até o final do meu mandato, até R$ 5.000 [de renda], as pessoas não pagarão imposto de renda. A palavra continua de pé”, afirmou Lula no evento organizado pelas centrais sindicais no estádio do Corinthians, em São Paulo. O Congresso em Foco destaca os principais trechos do discurso do presidente, que pediu aos paulistanos que votem em Guilherme Boulos (Psol) para prefeito de São Paulo.
🔸 O Supremo Tribunal Federal tem anulado decisões trabalhistas que reconhecem vínculos empregatícios de profissionais contratados como pessoas jurídicas, cancelando direitos como 13º salário e férias remuneradas, entre outros previstos na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Fontes ouvidas pela Repórter Brasil avaliam que os juízes confundem os conceitos de “pejotização” e terceirização e, assim, abrem caminho para fraudes trabalhistas. “Na pejotização, empresas exigem que os trabalhadores sejam pessoas jurídicas, obrigam a abrir CNPJ, mas no fundo eles trabalham como funcionários. Ou seja, eles vestem a roupagem do profissional autônomo, mas na verdade são empregados. Isso é um contrato fraudulento”, diz Rafael Neiva, auditor fiscal do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
🔸 Se o Brasil vive uma epidemia inédita de dengue, por que o governo federal não declarou emergência da doença? Só neste ano, o país registrou recordes no número de casos (mais de 4,1 milhões) e de mortes (mais de 2 mil até abril). Dez estados e 65 municípios decretaram emergência de saúde pública, medida que o Ministério da Saúde não tomou nacionalmente. O Nexo explica que a decisão diz respeito à falta de um padrão comum da dengue em todo o Brasil. Outro argumento é a tendência de queda na maioria dos estados. O decreto de emergência nacional poderia acelerar a compra de vacinas – algo inócuo neste momento, já que o imunizante está em falta no fabricante. O efeito do decreto seria outro: “Em qualquer doença transmissível, a comunicação é uma resposta importante para prevenção, detecção de casos e medidas sobre o que fazer com casos suspeitos”, avalia o médico sanitarista Claudio Maierovitch.
📮 Outras histórias
Em Alto de Coutos, no subúrbio de Salvador (BA), um curso pré-vestibular gratuito vem preparando mais de 40 alunos de periferias para entrar na universidade. O Projeto Educacional Raízes (ProjEdur) tem 15 professores, todos voluntários, e foi idealizado pela professora de português Maiane Soares, de 34 anos. O Entre Becos conta que ela própria é cria de Alto de Coutos e chegou ao Ensino Superior por meio de um cursinho gratuito. Depois de formada em Letras na Universidade Federal da Bahia, convidou colegas para debater o que viria a ser o ProjEdur, concretizado em 2016. Com aulas online, o projeto atende estudantes não só da Bahia, mas também de outros estados, como Amazonas, Espírito Santo e Goiás.
📌 Investigação
A abertura de novas emissoras educativas foi prejudicada durante o governo Bolsonaro. Foram liberados 44 canais, mas quase todos (43) os encaminhamentos foram feitos entre novembro e dezembro de 2022, após o ex-presidente ter sido derrotado nas eleições. A Agência Lupa identificou 63 novas emissoras educativas impactadas por Bolsonaro, sendo 22 ligadas a institutos e universidades federais e outras quatro vinculadas a instituições de ensino superior. Essas plataformas desempenham um papel importante na disseminação do conhecimento acadêmico, inclusive no combate à desinformação. A reportagem também traz uma análise da concessão de TVs e rádios feitas por Bolsonaro e pelo governo atual.
🍂 Meio ambiente
Em meio ao desmatamento que avança no Cerrado, no sul do Maranhão, um refúgio resiste. Na Chapada das Mesas, onde abundam riquezas naturais e pré-históricas, existem proprietários de terras na contramão da expansão agropecuária. A Eco Nordeste destaca que eles apostam no turismo sustentável para preservar a biodiversidade e as nascentes locais e gerar renda. Na região também acontece o turismo de base comunitária, em que moradores oferecem os serviços da rota turística. A ação faz parte do Pacto Produzir, Conservar e Incluir, assinado por 12 municípios do sul maranhense, com objetivo de fortalecer esse tipo de atividade e garantir a preservação ambiental.
📙 Cultura
“Ainda há o preconceito do racismo no funk, principalmente, porque a maioria das pessoas que acabam dando a canetada no funk são pessoas pretas da favela. Então, ainda soa realmente como proibidão”, afirma Deize Maria Gonçalves da Silva, a Deize Tigrona, uma das pioneiras do funk carioca. “Quando o funk desce para o asfalto, o gringo vem e dá aquela calibrada, leva para Europa e tudo mais, e volta com outro estigma”, completa. À revista O Grito! a artista fala sobre seu projeto mais recente, o álbum “Não Tem Rolê Tranquilo”, suas principais referências e o tabu sobre sexo e desejo feminino, sobretudo quando se trata de mulheres negras.
🎧 Podcast
Em 2023, o Brasil importou cerca de 54 milhões de dólares em soro de leite, mais conhecido pelo nome de whey protein, suplemento que ganha cada vez mais adeptos diante da febre da busca por proteínas. O “Prato Cheio”, produção d’O Joio e O Trigo, mergulha na origem do whey e como foram construídos os discursos que levaram aos hábitos de suplementação, principalmente relacionados à obsessão pelo corpo musculoso e à necessidade de mais “eficiência”. O episódio mostra que a maioria dos adultos consegue a quantidade de proteínas necessárias apenas por meio da alimentação.
👩🏽💻 Tecnologia
Drones podem ser uma alternativa para mapear a pesca artesanal e os conflitos territoriais. É o que mostram pesquisadores da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) em artigo publicado na revista “Ciência Rural”. A Agência Bori explica que os cientistas usaram a tecnologia para identificar os locais de pesca utilizados por comunidades tradicionais do município de Itaguaí, no sul do estado do Rio de Janeiro, e as áreas de zoneamento urbano ao redor. O uso de drones tem potencial para ajudar a entender o tamanho do impacto das empresas na atividade pesqueira, além de rastrear o pescado capturado e permitir a vigilância das embarcações não regulamentadas que usam a região para a pesca industrial, prejudicando o meio ambiente e a subsistência dos pescadores artesanais.