Os desafios do 2º turno e a onda conservadora no Senado
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🔸 Pela sexta vez seguida na História do Brasil, as eleições presidenciais vão ser decididas no segundo turno. Com 48,4% dos votos válidos, Lula saiu na frente, mas não derrotou Bolsonaro, que teve 43,2%, no primeiro turno. O resultado que leva à rodada final, marcada para 30 de outubro, mostra a consolidação da polarização entre Lula e Bolsonaro, segundo o Metrópoles. No QG bolsonarista, já se falava numa “CPI das pesquisas”, em referência à diferença entre o resultado das urnas e os números dos institutos de pesquisa.
🔸 As próximas quatro semanas serão marcadas pela tensão, movida pelo acirramento da disputa e pelo temor de radicalização promovida por Bolsonaro e parte de seus apoiadores. O Nexo avalia os desafios das duas campanhas, reúne análises de cientistas políticos sobre os riscos de radicalização e episódios de violência até o dia 30 e lembra: o PT nunca venceu uma eleição no primeiro turno.
🔸 E Ciro Gomes? O candidato do PDT terminou as eleições com pouco mais de 3% dos votos válidos. Numa brevíssima coletiva de imprensa após o resultado, como mostra a CartaCapital, ele não se posicionou sobre quem apoiará no segundo turno: “Me deem mais algumas horas para conversar com amigos e o meu partido”, disse. Já Simone Tebet (MDB) disse que já está decidida, mas também aguarda o posicionamento de seu partido: “Não esperem de mim omissão. Tomem logo a decisão, porque a minha já está tomada”.
🔸 Vai ter segundo turno também em São Paulo. Tarcísio Freitas (Republicanos) obteve 42% dos votos válidos, e Fernando Haddad (PT), 35%. As pesquisas já indicavam uma segunda rodada, mas apontavam o petista na frente. O resultado das urnas, porém, mostrou o oposto, como lembra o Portal Terra. Já no Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL) venceu a disputa com 58% dos votos, enquanto seu adversário, Marcelo Freixo (PSB) teve 27%.
🔸 Onda conservadora no Senado: ex-ministros de Bolsonaro foram eleitos senadores em mais de dez estados do país. O Jota detalha quem são alguns dos aliados bolsonaristas que venceram, como Damares Alves (PL), Marcos Pontes (PL) e Tereza Cristina (PP).
🔸 Em vídeo: no MyNews, Mara Luquet comenta o que chamou de “tsunami bolsonarista” no Congresso.
📮 Outras histórias
Uma imagem que ilustra a violência nas eleições: a candidata a deputada federal Duda Salabert (PDT), transexual, foi votar com colete à prova de balas, em Belo Horizonte. A assessoria da parlamentar explicou ao BHAZ que a medida foi uma exigência das forças de segurança, “tendo em vista a escalada das ameaças nos últimos dias e os monitoramentos das equipes de inteligência”. Vereadora mais votada na história de Belo Horizonte em 2020, ela vem recebendo ameaças neonazistas e transfóbicas há dois anos. Em tempo: Duda foi eleita com mais de 204 mil votos. Ela e Erika Hilton (PSOL), de São Paulo, são as primeiras mulheres trans da Câmara dos Deputados.
Na Maré, “caveirão” em dia de eleição. Um blindado da Polícia Militar circulou ontem no complexo de favelas na Zona Norte do Rio de Janeiro. O Notícia Preta conta que moradores subiram no veículo e lançaram panfletos de cima dele. Segundo a PM, 40 mil agentes fizeram plantão em localidades que a polícia classifica como “sensíveis”. O Batalhão de Operações Especiais (Bope) concentrou-se na Maré e em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio. Não havia blindados nas áreas nobres da cidade.
📌 Investigação
“Falo para vocês que a nossa agora é para cima deles, vamos fiscalizar, vamos nos colégios, vamos nos preparar.” Este é um trecho de áudio transmitido em grupos bolsonaristas que recrutaram eleitores do presidente para atuar como “fiscais” e intimidar mesários. A Agência Pública monitorou as redes bolsonaristas entre sábado e domingo das eleições.
Faltavam menos de 24 horas para as eleições, e os tuítes mais virais publicados por perfis de direita e extrema-direita eram de ataques ao Judiciário. O Aos Fatos e o Núcleo Jornalismo analisaram os 50 tuítes com mais interações desses perfis e mostram que os conteúdos de apoio explícito à reeleição de Bolsonaro ficaram em segundo plano.
📋 Checagem
Lula venceu as eleições na Nova Zelândia e na Austrália. No entanto, logo nas primeiras horas de ontem, começaram a circular peças de desinformação anunciando vitória de Bolsonaro. A Agência Lupa explica que as imagens divulgadas eram manipuladas ou conteúdos antigos, de 2018.
🍂 Meio ambiente
Se governadores ruralistas e defensores da mineração foram reeleitos no primeiro turno na Amazônia Legal, candidaturas emblemáticas e inéditas em prol do meio ambiente e dos direitos humanos também saíram vencedoras. As lideranças indígenas Sônia Guajajara (PSOL-SP) e Célia Xakriabá (Rede-MG) ocuparão duas cadeiras na Câmara dos Deputados, em Brasília, pelos próximos quatro anos. A Amazônia Real mostra como foram os resultados nos estados do bioma e a vitória de mulheres indígenas para o Congresso.
Em quase metade dos casos, as áreas desmatadas não se tornam produtivas, como mostra um estudo da revista Science. O Amazônia Latitude analisa a publicação e mostra que a relação entre desmatamento e produtividade é um argumento comumente utilizado pelo agronegócio para justificar a destruição das florestas e se reflete inclusive no Projeto de Lei (PL) 337/2022 que propõe a retirada do estado do Mato Grosso da região considerada como Amazônia Legal.
📙 Cultura
A mudança do comportamento político e o desgaste da democracia brasileira nos últimos anos são o tema do livro “Limites da democracia: de junho de 2013 ao governo Bolsonaro”, de Marcos Nobre, que passa por desfazer soluções simples sobre a crise política. A revista Quatro Cinco Um resenhou a obra que aborda o conceito de peemedebismo e a ideia institucionalista de democracia.
Com uma história que começa nas manifestações de junho de 2013 e se conclui na posse presidencial do dia 1º de janeiro de 2023, a fotojornalista Gabriela Biló reúne em livro imagens, notícias e memes, organizados pelo artista visual Pedro Inoue, para registrar uma década da conturbada crise política brasileira, que passa pelo impeachment de Dilma Rousseff e pela eleição de Bolsonaro em 2018. O Jornal Plural detalha a experiência única da obra “A Verdade Vos Libertará”.
🎧 Podcast
O assédio institucional se tornou um método do governo Bolsonaro para destruir políticas públicas e acelerar processos de “desdemocratização” do Estado. Para explicar esse conceito e seus impactos, o Guilhotina, podcast do Le Monde Diplomatique Brasil, recebe o economista José Celso Cardoso Jr. e a antropóloga Monique Florencio de Aguiar, dois dos organizadores do livro “Assédio institucional no Brasil: avanço do autoritarismo e desconstrução do Estado”.
✊🏽 Direitos humanos
No mesmo dia em que foi disputada uma eleição acirrada – 2 de outubro –, completou-se 30 anos do Massacre do Carandiru, maior chacina do sistema prisional brasileiro. O Alma Preta entrevista um sobrevivente do episódio para discutir abolicionismo penal, uma vez que o país tem a terceira maior população carcerária do mundo – sendo que a cada três pessoas presas, duas são negras, segundo dados de 2019 do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. A Ponte reconstrói fatos do massacre também a partir da visão de sobreviventes e traz informações sobre a indenização dos familiares das vítimas, além da atuação dos policiais durante e depois do episódio.