Os deputados que mais gastam e o alerta de uma barragem em Brumadinho
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
🔸 O Brasil foi retirado oficialmente do Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). A conquista, anunciada ontem na 2ª Cúpula de Sistemas Alimentares da ONU, foi atribuída à retomada de políticas públicas, como o Bolsa Família, Cozinha Solidária e incentivos à agricultura familiar, articuladas no Plano Brasil Sem Fome. A Alma Preta conta que, segundo o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, a taxa de subalimentação ficou abaixo de 2,5% da população entre 2022 e 2024, patamar mínimo estabelecido pela FAO. A meta, que o governo previa atingir até 2026, foi alcançada em apenas dois anos. Também houve redução da pobreza extrema (4,4%) e do desemprego (6,6%).
🔸 Em 2024, primeiro ano sob o Marco Temporal, 211 indígenas foram assassinados. É o que mostra o relatório “Violência contra os Povos Indígenas no Brasil - 2024”, lançado em julho pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi). A Agência Pública detalha o documento, segundo o qual a Lei 14.701/2023, que instituiu o Marco Temporal em 2024, “fragiliz[ou] os direitos territoriais dos povos originários, ger[ou] insegurança e foment[ou] conflitos e ataques contra comunidades indígenas em todas as regiões do país”. A entidade indigenista atribui à nova legislação o aumento da insegurança e da impunidade: no ano passado, houve 37 ataques violentos, 208 suicídios, 84 mortes por falta de assistência à saúde e 922 mortes de crianças indígenas – quase 500 por causas evitáveis. Para o secretário geral do Cimi, Luis Ventura, a manutenção da tese “representa o maior retrocesso em matéria de direitos indígenas desde a Constituição Federal de 1988”.
🔸 Às vésperas do tarifaço de Donald Trump, perfis no TikTok usam IA para espalhar desinformação política sobre o presidente dos Estados Unidos e Jair Bolsonaro (PL). O Aos Fatos identificou 30 perfis na plataforma que produzem conteúdos com inteligência artificial baseados em assuntos quentes no debate público. Só os vídeos com desinformação sobre o tarifaço nesses perfis somam mais de 15 milhões de visualizações. Vídeos falsos mostravam figuras públicas como Trump, Lula, Xi Jinping e Alexandre de Moraes em contextos manipulados, com dublagens e narrações geradas por IA. Apesar das diretrizes do TikTok proibirem esse tipo de manipulação, foi somente após a denúncia que 50 dos 62 vídeos analisados foram removidos e 26 dos 30 perfis, derrubados.
🔸 A lista dos dez parlamentares que mais gastaram com cota parlamentar no primeiro semestre deste ano é encabeçada pelo deputado Nicoletti (União Brasil-RR), com gasto de R$ 334.832,26. Levantamento do Congresso em Foco revela quem são os mais gastadores e mostra que há um padrão de uso concentrado em comunicação, transporte e estrutura. A cota parlamentar é um benefício dado aos deputados para custear despesas típicas do exercício do cargo, como aluguel de escritório de apoio ao mandato no estado, passagens aéreas, alimentação, aluguel de carro, entre outras. A maior despesa da maioria dos parlamentares foi a rubrica de divulgação da atividade parlamentar – Wilson Santiago (Republicanos-PB) gastou R$ 219 mil nessa área. Já Gabriel Mota (Republicanos-RR), por exemplo, priorizou a manutenção de escritório (R$ 170 mil).
📮 Outras histórias
Um sapo da Amazônia foi batizado como Ozzy Osbourne por pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém (PA). O motivo: o Dendropsophus ozzyi, popularmente conhecido como “sapo-morcego”, emite sons de alta frequência semelhantes aos de morcegos, por meio de seu grande saco vocal. Ozzy, o cantor morto no último dia 22, mordeu um morcego durante um show em 1982, acreditando que fosse um brinquedo de borracha. O Amazonas Atual conta que Ozzy, o sapo amazônico, tem apenas 2 cm e foi descoberto em 2008 na Floresta Nacional de Pau-Rosa, no leste do estado do Amazonas e no oeste do Pará. “Assim que ouvi seu chamado (o som de morcego), soube que era uma nova espécie. Nunca tinha ouvido nada parecido”, disse o pesquisador Pedro Peloso à revista “National Geographic”.
📌 Investigação
A exploração de crianças e adolescentes é o principal modelo de negócio da Dreams, uma agência de marketing de influência que criou um ecossistema de influenciadores e youtubers com mais de 30 milhões de inscritos e milhões de reais em faturamento anual. O principal produto da empresa é uma espécie de reality show encenado por crianças. O Intercept Brasil identificou ao menos sete canais gerenciados por adultos ligados à agência que trazem conteúdos com menores de idades. Os materiais têm insinuações de teor sexual, violência e intrigas, além de ilegalidades explícitas, como propagandas de casas de apostas e exibição de produtos da indústria do tabaco. Em um dos vídeos, por exemplo, a imagem no thumbnail mostra uma criança segurando algo que parece um cigarro.
🍂 Meio ambiente
O medo do colapso de uma barragem de mineração voltou a assombrar Minas Gerais nos últimos dias, quando a Agência Nacional de Mineração elevou para nível 2 o alerta de uma barragem da empresa Emicon, na Mina do Quéias, em Brumadinho, e diversas famílias precisaram deixar suas casas. O Projeto Preserva lembra que essas estruturas não vão mais precisar do processo completo de licenciamento ambiental com o Projeto de Lei 2159/2021, conhecido como “PL da Devastação”, alterando até mesmo a Lei Mar de Lama Nunca Mais, legislação estadual de Minas Gerais mais rigorosa em relação às barragens de rejeitos. “Grande parte da mineração do estado é de médio porte e médio potencial poluidor, com minas que produzem até 300 mil toneladas por ano, também conhecidas como as miniminas. Se o empreendimento tiver barragem, a lei Mar de Lama não vai se aplicar e ele fica desobrigado de passar pelo processo de licenciamento”, explica o advogado Bernardo Machado.
📙 Cultura
“A fotografia como narrativa e interpretação é um instrumento de poder. A representação da modernidade seria uma expressão da própria racionalidade moderna. O que quero dizer é que o cenário fotografado é tanto uma representação emblemática da modernidade quanto a forma de olhar para esse cenário”, afirma o pesquisador Pedro Martins, que analisa as fotografias de Serra Pelada feitas pelo fotógrafo Sebastião Salgado. Em artigo na Amazônia Latitude, Martins revisita a obra de Salgado da perspectiva da invisibilidade da individualidade dos garimpeiros retratados, majoritariamente homens negros. “Desde que foram lançadas, as fotos foram alvo de críticas, com o argumento de que era uma estetização da pobreza. Mas apresento outro tipo de crítica. Sebastião superou os naturalistas, provocando com imagens das feridas sociais, expondo as brutalidades, mas não rompe com elas. É dizer que a foto de Jorge – nome fictício para um dos garimpeiros retratados – o revela, circula o mundo em exposições, mas ele continua um ninguém.”
🎧 Podcast
“Sempre quis ser escritora. Quando comecei a minha transição, onze anos atrás, encontrei o que eu gostaria de escrever. Queria colocar esse mundo que estava descobrindo em palavras e convidar pessoas que não são trans e travestis a se verem nessas palavras. E também convidar pessoas trans, travestis, a imaginarem que a literatura é nossa também”, conta a escritora Amara Moira, autora de “Neca: Romance em Bajubá”. Este foi o primeiro romance brasileiro escrito inteiramente em bajubá (ou pajubá), língua da resistência LGBTQIA+ no país. No “451 MHz”, produção da Quatro Cinco Um, a escritora fala sobre sua trajetória e sobre a origem do bajubá. “Essa língua vai sendo construída por essas figuras que são escancaradamente LGBTs e, por conta disso, elas são muito segregadas. E quanto mais elas vivem nesse isolamento e são atacadas, mais elas precisam inventar formas de resistência.”
📲 Tecnologia
Na contramão da política dos Estados Unidos, a China prioriza a colaboração em seu plano de ação para a inteligência artificial, lançado no último fim de semana, durante a Conferência Mundial de Inteligência Artificial. A proposta inclui a criação de uma organização internacional de cooperação e enfatiza o desenvolvimento de código aberto. O Curto News destaca que a diferença de tom em relação aos EUA pode atrair países em desenvolvimento e posicionar a China como um “líder” alternativo nessa tecnologia. O plano de ação chinês defende pesquisa e desenvolvimento conjuntos, compartilhamento aberto de dados, infraestrutura transfronteiriça e treinamento em letramento digital de IA.