As denúncias contra Silvio Almeida e o diário de um brigadista
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🔸 O ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, é alvo de denúncias de assédio sexual. Os relatos chegaram à organização Mee Too Brasil, que acolhe vítimas de violência sexual, como apurou Guilheme Amado, colunista do Metrópoles. O jornalista procurou a organização depois de receber denúncias de suposta prática de assédio sexual por Silvio Almeida contra a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, além de outras mulheres. Quando indagada pela coluna, ela não quis comentar o assunto. Ao todo, 14 pessoas, entre assessores, ministros e amigos de Anielle, falaram ao jornalista sobre como teriam ocorrido os episódios. Ainda na noite de ontem, informa a CartaCapital, o governo convocou Silvio Almeida para explicar o caso ao controlador-geral da União, Vinícius Carvalho, e ao advogado-geral da União, Jorge Messias. O ministro dos Direitos Humanos, por sua vez, repudiou as denúncias, que classificou como “ilações absurdas”.
🔸 A Amazônia atravessa uma das piores secas da história. Olhando para o intervalo entre janeiro e agosto, o período em 2024 foi aquele com o maior número de focos de incêndios acumulados no bioma desde 2005. No Dia da Amazônia, comemorado ontem, o Colabora listou dez pontos importantes para compreender o cenário das queimadas, a seca extrema e a fumaça que encobre a região e se espalha por diversas cidades do país.
🔸 “Andamos pela linha de trem e rapidamente apagamos o primeiro foco. Quando já estávamos lançando o primeiro sorriso de satisfação, ouvimos um estalo, olhamos para baixo, e vimos uma enorme labareda cortando uma extensa área de capim muito alto, logo abaixo de nós”, escreve, em diário para o Projeto Preserva, Humberto Macedo, voluntário que combate o fogo em matas de Minas Gerais. Só na semana de 19 de agosto, segundo ele, a equipe de voluntários recebeu alertas da Serra da Moeda, de Ouro Preto, de parques municipais, entre outras áreas, com vários focos em diversos lugares ao mesmo tempo. Macedo discorre sobre sua “vida dupla” – como professor de Direito e brigadista –, explica que é acionado por colegas, também voluntários, via Whatsapp e detalha as estratégias de combate às chamas.
🔸 Numa megaoperação em 15 estados, quase 600 pessoas foram resgatadas de condições análogas à escravidão. Entre elas, estão 16 crianças e adolescentes e uma trabalhadora doméstica de 94 anos. Segundo a Repórter Brasil, ela é a pessoa mais idosa a ser retirada da escravidão contemporânea no país. Trabalhou por 64 anos sem salário e sem acesso à educação. A Operação Resgate, realizada anualmente, é considerada uma das maiores no combate a esse crime pelo tamanho da mobilização que é feita, com fiscais agindo simultaneamente em diversas regiões do país. A ação deste ano superou a de 2023, com um aumento de 11,5% no total de vítimas resgatadas.
📮 Outras histórias
No Acre, o céu ficou tão encoberto que a segunda-feira ganhou o título de “dia da fumaça”. A poluição que tornou difícil a respiração no início da semana não é resultado apenas das queimadas em território acreano, mas também consequência do transporte de “nuvens tóxicas” por correntes de ar. O Varadouro conta que a fumaça se concentrou sobretudo na região da capital Rio Branco. Segundo o Laboratório de Geoprocessamento Aplicado ao Meio Ambiente (Labgama), da Universidade Federal do Acre, até o fim de agosto, o estado registrou 68.940 hectares de cicatrizes de queimadas – uma espécie de mancha de fogo que fica na Terra e é captada por satélites.
📌 Investigação
Entre julho e agosto, 1.389 propriedades na Amazônia financiadas por crédito rural registraram queimadas. Tipo de financiamento bancário destinado à produção agropecuária, o crédito rural é proibido para áreas desmatadas, segundo as regras atuais do Banco Central – mas é permitido para áreas onde ocorrem queimadas, o que cria uma brecha legal. A InfoAmazonia revela que, ao todo, essas propriedades receberam R$ 2,6 bilhões em crédito, incluindo áreas sobrepostas a unidades de conservação, como o Parque Estadual de Guajará-Mirim, a Floresta Nacional do Jamanxim e a Área de Proteção Ambiental Triunfo do Xingu. E mais: bancos públicos, como o Banco do Brasil, continuam financiando essas fazendas, apesar das infrações. “Não importa se a propriedade está embargada por desmatamento, por uso do fogo ou outro tipo de irregularidade, ou se ela foi multada. Ela não deveria acessar os recursos do crédito rural”, afirma Thaís Bannwart, porta-voz de Florestas do Greenpeace Brasil.
🍂 Meio ambiente
A estiagem impacta o setor de energia. A possibilidade de que a seca se estenda até novembro representa sérios riscos ao setor elétrico, cujos ativos e operações podem sofrer danos significativos devido às queimadas. Diante do cenário, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) começou a antecipar o acionamento de usinas termelétricas – inclusive a carvão, modalidade que mais emite carbono e afeta o clima. A Agência Eixos explica que o recurso é evocado quando há menor disponibilidade de água nos reservatórios para o atendimento à demanda de energia elétrica nos horários de pico de consumo. Além do grave efeito estufa, o acionamento de usinas termelétricas terá reflexo na conta de luz dos consumidores.
📙 Cultura
Elas são geridas pelas favelas, têm acervo próprio e funcionam por meio da ação de voluntários. As bibliotecas comunitárias do Rio de Janeiro cumprem a função de proporcionar acesso gratuito aos livros e aproximar os moradores da educação. É o caso, por exemplo, da Biblioteca Dodô da Portela, no Morro da Providência. O espaço é uma parceria com a Escola de Samba da Portela e disponibiliza livros para os moradores da comunidade em Madureira. O Voz das Comunidades apresenta seis bibliotecas comunitárias para se conhecer nas favelas do Rio.
🎧 Podcast
O conflito entre o Supremo Tribunal Federal (STF) e a plataforma X é mais um ponto na costura da crise entre a Corte e a ala conservadora da política brasileira. Outros assuntos compõem essa trama: o Marco Temporal, a determinação do ministro Flávio Dino para que o Executivo adote medidas de combate aos incêndios no país e a questão da descriminalização do aborto. O “Sem Precedentes”, produção do Jota, parte da decisão de Alexandre de Moraes de bloquear o X para debater os confrontos entre Congresso e STF, além do papel que a Corte deve ter nos discursos de bolsonaristas nas próximas eleições.
🧑🏽⚕️ Saúde
“Como ter uma vida plena, ser feliz e ter as mesmas condições psicológicas para encarar o dia a dia com toda essa bagagem de dor?” A pergunta do escritor Jordhan Lessa, de 57 anos, remete ao que viveu no passado: aos 16, quando ainda se identificava como mulher cisgênero e lésbica, sofreu um estupro corretivo que levou a uma gravidez indesejada. A Agência Diadorim explica que o termo “estupro corretivo” é usado para designar a violência sexual cujo objetivo é forçar uma mudança na orientação sexual ou identidade de gênero da vítima. Em pesquisa do Lesbocenso, em 2021, 17% das mulheres lésbicas e bissexuais entrevistadas relataram ter sido vítimas de estupro corretivo. A reportagem conta que, embora o aborto seja permitido em caso de gravidez resultante de violência sexual, ainda são muitos os obstáculos para acessar esse direito.