A denúncia contra Eduardo Bolsonaro e os agrotóxicos usados nas flores
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🔸 A Procuradoria-Geral da República denunciou ontem o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o blogueiro Paulo Figueiredo por coação no processo que condenou Jair Bolsonaro (PL) por tentativa de golpe de Estado. A denúncia do procurador Paulo Gonet aponta que os dois têm articulado sanções nos Estados Unidos contra autoridades brasileiras, explica o Jota. Segundo o texto, Eduardo Bolsonaro teve “papel central na orquestração”, e as ameaças buscaram também influenciar o Congresso a aprovar uma anistia ao ex-presidente. Como exemplo, a PGR cita que Eduardo chegou a apelidar medidas de retaliação de “Tarifa Moraes”, em referência ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Ainda de acordo com a denúncia, o deputado e o blogueiro bolsonarista divulgaram “tragédias financeiras” decorrentes das sanções, caso o STF não liberasse os acusados na ação sobre o golpe. “Com isso, pretendiam fazer a população crer que essas sanções, que descreveram dramaticamente, a recair sobre o Brasil, tinham por causa a atuação dos Ministros do Supremo Tribunal Federal no julgamento da ação penal contra Jair Bolsonaro”, escreveu Gonet.
🔸 Falando em sanções… os EUA enquadraram a esposa de Moraes, a advogada Viviane Barci de Moraes, e o Lex Instituto de Estudos Jurídicos, ligado à família, na Lei Magnitsky, que prevê sanções econômicas, como o congelamento de bens e de contas nos EUA ou em instituições financeiras ligadas ao país. Moraes já havia sido atingido pela lei em julho. O Metrópoles mostra a reação do magistrado, que classificou as medidas como “ilegais e lamentáveis”. Em nota, ele afirmou que as medidas “violentam o Direito Internacional, a soberania do Brasil e a independência do Judiciário”.
🔸 Se repetir o tema principal dos discursos de mandatários brasileiros na ONU, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) falará sobre meio ambiente na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, hoje, às 10h, em Nova York. Levantamento do Aos Fatos revela que a pauta ambiental marcou os discursos nos últimos dez anos. Nesse período, Michel Temer (MDB), Jair Bolsonaro (PL) e o próprio Lula deram 55 declarações sobre o assunto – e a maioria das afirmações foi falsa ou imprecisa (83%). Bolsonaro foi quem mais desinformou, entre 2019 e 2022, ao distorcer dados para negar aumento no desmatamento e queimadas. Michel Temer, em 2017, também citou números imprecisos sobre a Amazônia. Já Lula apresentou mais dados verdadeiros, mas minimizou a crise climática em seu discurso de 2003.
🔸 Depois das fortes chuvas em São Paulo ontem, mais de 579 mil clientes da Enel SP ficaram sem energia. O temporal registrou ventos de até 98,2 km/h no Campo de Marte e 87 km/h em Congonhas. A Eixos mostra que as áreas Oeste e Norte da concessão na capital foram as mais impactadas pelas chuvas. Já os bairros mais atingidos foram Jaraguá, Pinheiros, Mooca, Lapa e Vila Sônia. Pela manhã, outro apagão: um desligamento numa subestação deixou cerca de 900 mil clientes sem energia. Segundo a Enel, o serviço foi normalizado em seguida.
🔸 Desde o fim de semana, o Paraná tem centenas de casas destruídas e famílias desabrigadas em decorrência de temporais. Sete municípios registraram ocorrências na Defesa Civil do estado. Ponta Grossa, na região paranaense dos Campos Gerais, está entre os municípios mais atingidos. O Boca no Trombone ouviu moradores da cidade. No bairro Jardim Manacás, Adriana relatou o desespero de proteger a filha de 3 anos enquanto a casa desabava: “Quando começou a destruir a área aqui, eu corri para o banheiro com ela, mas o banheiro também começou a cair. Enfiei ela no cantinho do sofá e esperei tudo acalmar”, conta. Outro depoimento é de Aline Marcondes, mãe solo, que perdeu tudo durante o temporal: “Perdi tudo: roupa, comida, móveis. Não tenho nem onde dormir com meus filhos”. Ambas pedem ajuda via Pix para reconstruir suas vidas.
📮 Outras histórias
O Amazonas é o pior estado para dirigir com segurança no Brasil, segundo o Observatório Nacional de Segurança Viária. O estudo da organização deu nota 1,86 para o estado e apontou deficiências graves em infraestrutura, fiscalização e educação no trânsito. O Amazonas Atual conta que o estado teve nota 0,6 em vias seguras, zero em educação para o trânsito e também em fiscalização. No atendimento às vítimas, a situação também é ruim: o Amazonas marcou 1,1, nota muito abaixo daquela apresentada por estados como Rio de Janeiro e Goiás (8,5). Estados vizinhos aparecem logo acima no ranking, mas também com índices baixos: o Pará tem 2,14 pontos, enquanto Amapá, Maranhão e Roraima têm 2,29 pontos. Em tempo: o Distrito Federal aparece como o mais seguro para dirigir, com 4 pontos.
📌 Investigação
A produção de flores ornamentais não tem monitoramento da aplicação de agrotóxicos, tampouco uma análise de resíduos químicos no produto final. Sem pesticidas específicos para plantas ornamentais, produtores usam os de outras culturas, incluindo aqueles potencialmente cancerígenos, como o mancozebe e a abamectina. A Repórter Brasil mostra que órgãos como Anvisa e Ministério da Agricultura não estabelecem limites de segurança de agrotóxicos para o cultivo desse tipo de planta por se tratar de um item “não alimentar”, o que expõe agricultores e clientes aos riscos das substâncias. “O produtor rural em campo está mais exposto à contaminação dérmica, pela pele. E o consumidor final também pode ter contato com os agrotóxicos residuais nas flores. Mas ninguém sabe a quantidade”, afirma a cientista ambiental Patrícia Pereira, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
🍂 Meio ambiente
Produtores rurais de Carmo do Cajuru (MG) já veem os benefícios da proteção das águas do rio Pará a partir do Programa de Conservação Ambiental e Produção de Água, promovido pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Pará. O Portal Gerais explica que o projeto busca preservar a quantidade e a qualidade das águas do rio, que corta mais de dez cidades de Minas Gerais. As medidas implementadas colocaram as nascentes como prioridade: em uma propriedade, o programa instalou cercamento para proteger a Área de Preservação Permanente (APP), impedindo que o gado acesse e destrua a vegetação da margem. A iniciativa também promove o reaproveitamento da água da residência para reabastecer o lençol freático. Segundo os produtores, o solo se tornou mais fértil e a água está visivelmente mais limpa.
📙 Cultura
“Compreender o contexto cultural da Libras é compreender que a língua é viva, construída coletivamente e indissociável da comunidade surda e de suas experiências sociais”, afirma Keli Krause, professora de Libras da Universidade Federal do Pampa (Unipampa), que participou da construção do “Sinalário Gaúcho” para incluir termos relacionados à cultura do Rio Grande do Sul. Já no Pará, o “Glossário Pai d’égua de Libras” foi pensado para documentar sinais de frutas típicas da região, como açaí, buriti, castanha do pará e tucumã. Na Bahia, o “Sinalário de Libras da Chapada Diamantina (BA)” produziu mais de 160 vídeos sobre sinais do cotidiano, com termos sobre elementos característicos da Chapada Diamantina. O Colabora conta como diversos projetos pelo país buscam registrar o regionalismo e a diversidade cultural brasileira em Libras.
🎧 Podcast
Após encontrar gravações esquecidas feitas pelo cineasta Eduardo Escorel durante a ditadura, a pesquisadora Patrícia Machado mergulhou na procura de imagens de arquivo e “contra-arquivo” – registros não oficiais e raros que circularam clandestinamente ou foram negligenciados – do período. No “Diálogos com a Inteligência”, produção do Canal Meio, ela conta sobre o processo de pesquisa que resultou no livro “Cinema de Arquivo: Imagens e Memória da Ditadura Militar”, finalista do Prêmio Jabuti Acadêmico deste ano. “Uma inquietação que tive e tenho até hoje é pensar não só no que a imagem registra, mas também na relação colocada no contexto de produção, ou seja, a relação de quem filma e quem é filmado.”
✊🏾 Direitos humanos
O trabalho infantil ainda persiste no Brasil em diferentes setores, do campo ao ambiente doméstico, e é subnotificado, segundo o juiz do Trabalho Zéu Palmeira, que também é professor e pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Ele ressalta que a história da exploração infantil é uma realidade da classe trabalhadora e destaca as mudanças proporcionadas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Em entrevista ao Nossa Ciência, Palmeira fala sobre seu livro recém-lançado “Trabalho Infantil: A Inclusão Excludente”, que faz uma reflexão crítica do fenômeno do trabalho infantil. “Segundo os dados oficiais do IBGE, nós temos pouco mais de um milhão e setecentos mil trabalhadores infantis. Porém, há estudos, como o realizado pelo professor de Educação da Universidade de Stanford, Guilherme Lichand, que dizem que o número de trabalhadores infantis no Brasil é irreal em face da subnotificação. E ele acrescenta que existem no Brasil mais de dez milhões de trabalhadores infantis.”