A demissão de Nísia Trindade e os 125 anos de 'Dom Casmurro'
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🔸 O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) demitiu ontem Nísia Trindade, primeira mulher a ocupar o Ministério da Saúde. Ela será substituída por Alexandre Padilha (PT), atual ministro das Relações Institucionais. O Metrópoles lembra que o cargo de Nísia estava em xeque há pelo menos duas semanas, sob pressão do Centrão, que almejava comandar o orçamento da pasta, um dos mais robustos da Esplanada dos Ministérios. Funcionária concursada da Fundação Oswaldo Cruz, Nísia ocupava o cargo desde janeiro de 2023. Já Padilha vive uma volta ao posto: ele foi ministro da Saúde entre janeiro de 2011 e fevereiro de 2014, durante o governo Dilma Rousseff. Em tempo: a saída de Nísia reduz o número de mulheres na Esplanada – agora, elas chefiam nove de um total de 38 ministérios.
🔸 Presos por suspeita de envolvimento na tentativa de golpe de Estado, os generais Walter Braga Netto e Mário Fernandes querem que os ministros Alexandre de Moraes e Flávio Dino fiquem fora do julgamento do caso no Supremo Tribunal Federal. Segundo a CartaCapital, a defesa dos acusados alega que Moraes estaria envolvido na denúncia por ter sido monitorado por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Quanto a Dino, os advogados afirmam que lhe falta a imparcialidade necessária para julgar o tema, já que foi ministro da Justiça durante os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. Os magistrados, porém, não indicaram que pretendem se afastar do caso.
🔸 A Lei Maria da Penha agora pode ser aplicada a casais homoafetivos masculinos e a mulheres transexuais e travestis. A decisão é do STF. Relator do caso, Alexandre de Moraes argumentou que a ausência de legislação sobre o tema gerava uma lacuna na proteção desses grupos e configurava uma omissão do Congresso. O Jota conta que os magistrados atenderam a um pedido da Associação Brasileira de Famílias HomoTransAfetivas. A entidade questionou na Corte a demora do Legislativo em aprovar uma lei específica contra a violência doméstica ou familiar para proteger homens gays e mulheres transexuais e travestis. Segundo o Conselho Nacional de Justiça, 14,2% da violência contra a população LGBTQIA+ se enquadrava em violência doméstica em 2022.
🔸 No Rio de Janeiro, um estudante foi baleado por um militar da reserva e terminou sob custódia policial no hospital. Jornalista, Igor Melo de Carvalho, 32 anos, solicitou uma viagem de moto por aplicativo. Ele e o motociclista foram perseguidos e alvejados pelo motorista de um carro. Segundo a Notícia Preta, o condutor era policial militar e disparou acreditando que a dupla na moto estaria envolvida no roubo do celular de sua companheira horas antes. A família de Igor afirma que ele estava trabalhando no horário do roubo.
🔸 Aliás… homens adultos são 84% das vítimas da violência armada no Grande Rio em 2025. A maior parte dos casos ocorreu na zona norte. Igor foi baleado naquela região, na Penha, quando saía do trabalho. O Fogo Cruzado informa que, das 288 pessoas baleadas no Grande Rio neste ano, 33% foram atingidas na zona norte da capital. De janeiro até agora, foram contabilizados oito tiroteios por dia e cinco pessoas baleadas por dia. Nos casos em que se têm registro da raça das vítimas, 69% são negras, assim como Igor.
📮 Outras histórias
A Prefeitura de Canoas (RS) é acusada de vetar enredos sobre religiões de matriz africana, negros e comunidade LGBTQIA+ no Carnaval deste ano. A denúncia partiu da Associação das Escolas de Samba de Canoas (AESC) e é dirigida ao secretário de Cultura e Turismo da cidade, Wolmar Pinheiro Neto. O veto seria uma condição para que as escolas usassem o Parque Esportivo Eduardo Gomes para os desfiles. O Sul21 conta ainda que, antes, o prefeito Airton Souza (PL) já havia anunciado que não investiria recursos no Carnaval deste ano. A Federação Nacional das Escolas de Samba reagiu: em nota, afirmou que a atitude, além de “inaceitável preconceito e intolerância religiosa”, é crime perante a lei. A prefeitura, por sua vez, respondeu que não pode investir no Carnaval por causa de necessidades urgentes na área da saúde.
📌 Investigação
Há mais de 145 mil famílias sem-terra acampadas à espera de um lote para cultivar. O Pará é o estado com maior demanda e também o maior acampamento do Brasil, o Terra e Liberdade, em Parauapebas, onde há pelo menos 3.500 famílias ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST). A Repórter Brasil obteve com exclusividade o levantamento do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), que revela que a demanda por reforma agrária é maior que a estimada pelo governo e pelo próprio MST. A maioria das famílias é de ex-moradores de cidades brasileiras pobres, que decidiram migrar em busca de melhores oportunidades nos municípios grandes. Parauapebas, por exemplo, é um centro de atração de migrantes. Sua população cresceu 73% entre 2010 e 2022.
🍂 Meio ambiente
“A experiência que a Petrobras tem é em um tipo de corrente típica do Sudeste do Brasil. Aqui seria a primeira experiência com as intempéries de correntes múltiplas numa zona fronteiriça entre o oceano e os rios. Não há nada como a Amazônia”, afirma o pesquisador Nelson Bastos, parte do Coletivo Campesino Amazônico, que reúne especialistas para analisar os impactos de grandes projetos para populações tradicionais. Em entrevista à Amazônia Latitude, ele fala sobre os riscos da exploração de petróleo na Bacia da Foz do Amazonas. “Mesmo que durante a perfuração não ocorra nenhum tipo de rompimento da tubulação e vazamentos. A exploração deve durar de 30 a 40 anos, não há como assegurar que nesse período não teremos riscos. Eles alegam, por exemplo, que se algo der errado é possível cimentar, concretar a área. Talvez funcione, talvez não. Vamos correr este risco bem ao lado de um enorme recife?”, questiona.
📙 Cultura
Um dos livros mais discutidos e polêmicos da literatura brasileira, “Dom Casmurro”, de Machado de Assis, chegou às livrarias há 125 anos, em 1900. Narrado em primeira pessoa por Bentinho, o romance demorou cerca de 60 anos para que a perspectiva do protagonista fosse contestada, como explica o pesquisador Hélio de Seixas Guimarães na apresentação da nova edição de “Dom Casmurro”. A Quatro Cinco Um teve acesso ao livro que será lançado em março. “A modificação na leitura desta história, de um romance sobre o adultério feminino para um romance sobre o ciúme masculino, teve início na década de 1960, com a publicação do estudo ‘The Brazilian Othello of Machado de Assis’, traduzido como ‘O Otelo Brasileiro de Machado de Assis’, da crítica norte-americana Helen Caldwell”, escreve. “Caldwell produziu uma reviravolta no entendimento do romance, encetando uma série de leituras baseadas na não confiabilidade desse e de outros narradores machadianos.”
🎧 Podcast
Financiamento para países vulneráveis à crise climática, critérios de adaptação aos eventos extremos e metas para reduzir emissões de gases de efeito estufa são os temas que devem dar o tom da COP30, a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, que acontecerá em Belém, em novembro. O “Economia do Futuro”, produção da Rádio Guarda-Chuva, conversa com Sérgio Teixeira Júnior, editor do Reset, sobre as expectativas e os preparativos para o evento, além da mudança ideológica do Norte Global, com o clima saindo de pauta após o crescimento do poder da extrema direita em diversos países.
👩🏽💻 Tecnologia
Os brasileiros temem que médicos e juízes sejam substituídos pela inteligência artificial. Um estudo publicado na revista “American Psychologist” pelo Instituto Max Planck para o Desenvolvimento Humano ouviu 10 mil pessoas de 20 países – entre eles, o Brasil – sobre suas preocupações em relação à troca de humanos por IA. Segundo a Fast Company, a lista de profissionais inclui médicos, juízes, gerentes, cuidadores, líderes religiosos e jornalistas – esta última, aliás, é a que menos preocupa os cidadãos. Os resultados sugerem que as pessoas instintivamente comparam os traços humanos necessários para a atividade com a capacidade da tecnologia de imitá-los.