O déficit habitacional em SP e uma terra indígena encurralada no Pará
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🔸 A menos de dez dias do primeiro turno, candidatos continuam a violar regras nas redes sociais, com a conivência de grandes empresas de tecnologia como Google e Meta. As irregularidades, mostra a Agência Lupa, incluem propaganda negativa, conteúdos misóginos e antivacina, além de anúncios ilegais de venda de bonés associados a candidatos – tudo proibido segundo as regras implementadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ainda assim, mesmo depois de denúncias, muitas dessas publicações continuam ativas nas plataformas, um reflexo da falta de comprometimento das empresas com as normas do TSE.
🔸 Num dos 20 municípios mais desmatados do país, o candidato do PL à prefeitura acumula quase R$ 12 milhões em multas aplicadas pelo Ibama desde 2022. Dalton Gomes Scherr Junior busca a vaga em Pacajá, no Pará, cidade no bioma amazônico que ocupa a 14ª posição entre as mais desmatadas do Brasil entre 2021 e julho de 2024. A Repórter Brasil apurou que ele foi multado principalmente por desmatamento irregular e criação de gado em áreas interditadas e também enfrenta duas ações judiciais por danos ambientais, movidas pelo Ministério Público Federal (MPF). Scherr, que nega ser culpado, tem o apoio de Jair Bolsonaro e declarou patrimônio de R$ 13,8 milhões. Está entre os dez candidatos a prefeito mais ricos do Pará.
🔸 “Luto para ser vista e ouvida.” A afirmação é de Eslane Paixão, única mulher negra a concorrer à Prefeitura de Salvador, que enfrenta a falta de visibilidade e o racismo. Ela está fora dos debates organizados por emissoras tradicionais, que costumam convidar apenas candidatos com representação partidária no Congresso Nacional. No início de setembro, foi alvo de racismo durante campanha no Rio Vermelho, bairro boêmio da capital baiana. A Alma Preta narra a história da ativista de 31 anos que concorre pelo partido Unidade Popular (UP) e é militante do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB). Ela própria é moradora de favela e, desde jovem, tem uma trajetória de luta por direitos sociais, sobretudo na defesa do direito à moradia. Sua experiência inclui a participação em movimentos como a ocupação Luiza Mahin, em Salvador, que a ajudou a conquistar sua primeira moradia pelo programa federal “Minha Casa, Minha Vida”.
🔸 Falando em luta por moradia… Em São Paulo, o déficit habitacional da capital é de 369 mil moradias. O número abrange desde pessoas que estão cadastradas em busca de uma casa própria até aquelas que atualmente residem em uma das 371 ocupações existente. Nelas, vivem cerca de 63 mil famílias. A Agência Mural detalha o direito à moradia na capital a partir da perspectiva de jovens que enfrentam dificuldades para ter sua própria casa. A reportagem destaca que o direito não se restringe à construção de um imóvel ou a mudança para um apartamento novo. “A gente precisa pensar no imóvel junto com o entorno dele, com as pessoas que vivem naquela região, por essas pessoas também vão construir a ocupação”, explica a coordenadora do programa de cidades e desenvolvimento urbano da Fundação Tide Setubal, Fabiana Tock.
📮 Outras histórias
Sidney Freitas tem 74 anos, dos quais 47 foram vividos no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro. Como outros idosos na favela, ele viu as transformações da comunidade – e trabalhou para que ocorressem. Eletricista, seu Sidney foi responsável por instalar a fiação elétrica no Alemão quando a concessionária de luz passou a fornecer energia direta para os morros. O Voz das Comunidades conta também a história de Francisca da Silva, de 74 anos, que vive no Morro do Vidigal há 28 anos. Nascida em Alagoa Grande, na Paraíba, Dona Chiquinha, como é conhecida, enfrentou a falta de água quando se mudou para a favela na zona sul do Rio de Janeiro. Hoje, tem água na torneira e é estudante de teatro no grupo Nós do Morro.
📌 Investigação
Com muros, comunidades tradicionais do Vale do Acará, no Pará, tentam se proteger do conflito imposto pela monocultura do dendê, controlada pelo Grupo Brasil BioFuels (BBF). Os seguranças da empresa são acusados de violência contra indígenas, quilombolas e ribeirinhos da região. Um muro começou a ser erguido na Terra Indígena Tembé em agosto do ano passado, após quatro jovens Tembé terem sido baleados. “Semana passada [dezembro de 2023], um drone estava aqui no portão, voando em cima de casa. É uma perseguição constante”, afirma Miriam Tembé, presidenta da Associação Indígena Tembé do Vale do Acará (AITVA). A Sumaúma visitou comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas do Vale do Acará e mergulhou no histórico de conflitos com as empresas de dendê. “É assim que eu me sinto: prisioneira dentro da minha própria aldeia”, diz Miriam.
🍂 Meio ambiente
Por mais de 30 dias, uma força-tarefa de bombeiros, brigadistas do Instituto Estadual de Florestas e voluntários combateu os incêndios florestais na Serra do Brigadeiro, em Minas Gerais, onde cerca de dois mil hectares de mata foram queimados. Na região, vivem os Muriquis do Norte, espécie dos maiores primatas das Américas e criticamente ameaçada de extinção. O Projeto Preserva conta que, depois dos últimos focos de fogo serem controlados, ainda não se sabe se os macacos estão bem, embora não se tenha notícias de indivíduos atingidos. Os pesquisadores agora começam o trabalho de revistar as câmeras, fazer expedições de campo e continuar o monitoramento dos grupos.
📙 Cultura
Diante da falta de acessibilidade para pessoas com deficiência em todas as esferas do setor cultural, o Mapeamento Acessa Mais, parceria entre a Universidade Federal da Bahia e o Ministério da Cultura, está mapeando artistas e agentes culturais com deficiência do Brasil, além de profissionais sem deficiência que trabalham com acessibilidade cultural. O Nonada destaca que o objetivo do estudo é apoiar a formulação de políticas públicas sobre o tema. Segundo Estela Lapponi, uma das pesquisadoras do trabalho, um dos principais desafios é fazer “as instituições entenderem que somos produtores de conhecimento e arte e que, portanto, não precisamos só trabalhar em setembro e dezembro, que são as datas comemorativas relativas à pessoa com deficiência”.
🎧 Podcast
Com as atividades da infância gravadas no inconsciente, crescer conhecendo a fauna, flora e complexidade da Caatinga no Semiárido brasileiro é uma ferramenta para enfrentar o preconceito e gerar autoestima nas crianças da região. A série “Sertão do Futuro”, produção da Cajueira, mostra como a literatura é uma ferramenta aliada da educação contextualizada para a convivência com o Semiárido e conversa com o escritor Victor Flores, que transforma animais da Caatinga em personagens, revelando a diversidade da fauna do bioma. O especial é resultado das Bolsas de Reportagem “A Primeira Infância como Pauta Prioritária”, promovidas pela Associação de Jornalismo Digital (Ajor) e pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal.
🧑🏽⚕️ Saúde
O sistema de saúde não está preparado para qualquer tipo de desastre e necessita de capacitações específicas e contínuas, por exemplo, para a contaminação por petróleo. Esta é uma das conclusões de um estudo da Fiocruz do Rio de Janeiro e de Pernambuco e das universidades federais do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Norte. Segundo a Agência Bori, foram avaliadas as medidas de secretarias de saúde de Pernambuco diante do derramamento de petróleo que atingiu o litoral do Nordeste em 2019. A pesquisa observou a inexistência de equipes direcionadas a evitar danos como a intoxicação da população em contato com o petróleo, além da falta de proteção social aos pescadores artesanais que perderam sua fonte de alimentação e renda.