A defesa dos réus da trama golpista e uma barragem em risco na Amazônia
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
🔸 No segundo dia do julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), a defesa de Jair Bolsonaro (PL) alegou que não há provas que o liguem à trama golpista: “Bolsonaro não tem absolutamente nada a ver com ‘Punhal verde-amarelo’, com ‘Copa 22’, com o 8 de janeiro. Absolutamente nada a ver com o 8 de Janeiro”, disse o advogado do ex-presidente, Celso Vilardi. O Jota destaca que, segundo ele, uma “sucessão inacreditável de fatos” levou Bolsonaro a ser “dragado” pela investigação. Também advogado do réu, Paulo Amador Bueno reforçou que a denúncia da Procuradoria-Geral da República não descreve atos violentos ou de grave ameaça praticados por Bolsonaro. Para ele, são condutas meramente preparatórias que não configuram crime: “Nós estaríamos, em última análise, punindo a tentativa da tentativa”, completou.
🔸 Os advogados de defesa se concentraram em três pontos: a alegação de falta de provas diretas contra os réus, a contestação da delação de Mauro Cid, considerada contraditória e pouco confiável, e críticas à condução do processo pelo relator Alexandre de Moraes. O ministro do STF foi acusado de buscar protagonismo e de cerceamento de defesa. O Metrópoles resume os argumentos dos advogados que defenderam seus clientes ontem na Corte. A sessão terminou pouco antes das 13h e será retomada na próxima terça-feira, com o voto de Moraes.
🔸 “Mais importante do que o julgamento de Bolsonaro é o julgamento dos oficiais generais. Isso serve de alerta para que os militares percebam que alguma coisa mudou no Brasil.” A afirmação é do historiador Carlos Fico, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em entrevista ao Nexo, ele analisa qual é o lugar do julgamento de Bolsonaro na história brasileira e alerta que o processo não deve impedir futuros movimentos intervencionistas, sobretudo em caso de vitória da direita ou extrema direita em 2026. Ele explica: “Porque esses campos da política funcionam como uma espécie de caldo de cultura para o intervencionismo militar. Se um governo de direita ou extrema direita se eleger, é bem provável que haja o retorno desse intervencionismo militar, apesar do que está acontecendo agora”.
🔸 Enquanto a direita acelera a articulação pela anistia aos acusados de golpe, Davi Alcolumbre (União-AP), presidente do Senado, afirmou que pretende apresentar e votar na Casa Alta um projeto de “anistia alternativa” aos participantes dos atos golpistas do 8 de Janeiro. A CartaCapital conta que o senador prometeu não votar em propostas de “perdão irrestrito”, mas que ele próprio vai elaborar outro texto com a redução de penas para quem foi “massa de manobra” no dia 8 de Janeiro. Na prática, a proposta substituiria as condenações por tentativa de abolição violenta do Estado democrático de Direito e tentativa de golpe de Estado por um novo tipo penal – a ser elaborado por Alcolumbre, com punições menores.
🔸 “Este é um jogo de poder. Todo mundo nisso tem só dois objetivos: o primeiro, manter o poder que tem. O segundo, chegar ao início de 2027 com mais poder do que tem”, afirma o jornalista Pedro Doria. No “Ponto de Partida”, do Canal Meio, ele analisa o “jogo de poder” da direita rumo a 2026 e explica que, enquanto as redes sociais ajudam a eleger deputados radicais como Nikolas Ferreira, a disputa presidencial depende das pesquisas, que indicam rejeição a Bolsonaro e Lula. Se Tarcísio de Freitas (Republicanos) é hoje o nome mais forte da direita, ele ainda carece do apoio de Bolsonaro e de Valdemar Costa Neto, presidente do PL. E o Centrão? “O Centrão quer Tarcísio candidato e pode até fazer o movimento de votar pela anistia se isso aumentar as chances. Mas o Centrão não quer comprar uma briga com o Supremo”, completa Doria.
📮 Outras histórias
Todos os dias, cerca de 40 carrinhos de cachorro-quente ocupam o calçadão de Osasco (SP), num esquema de rodízio mensal entre 80 comerciantes licenciados. Não à toa a cidade ganhou fama de “capital do cachorro-quente”. Em média, mil lanches são vendidos por dia com preços entre R$ 8 e R$ 20 e receitas que variam do simples ao elaborado. A Agência Mural conversa com os vendedores para contar suas trajetórias. Cláudio Benício, por exemplo, vende hot dog desde 1989 e sustenta a família com o negócio. “A técnica é fazer um lanche para os clientes como se fosse para mim. Se quero comer um lanche bom e saboroso, meus clientes também merecem. Eles estão em primeiro lugar”, diz. Já Fábio de Jesus, ex-técnico de enfermagem, se reinventou na pandemia: “Por ser um homem gay, eu achava que não iria conseguir clientes e tive que bolar uma ideia para fazer algo diferente. Comprei os adesivos cor-de-rosa e personalizei o carrinho”, conta o dono do Hot Dog Pantera, carrinho que virou atração no calçadão de Osasco.
📌 Investigação
O blogueiro bolsonarista Allan do Santos atuou para que Eduardo Tagliaferro, ex-chefe da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), desse depoimento ao Senado na terça-feira. A audiência pública na Comissão de Segurança Pública – presidida por Flávio Bolsonaro – aconteceu ao mesmo tempo que o primeiro dia de julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros sete políticos e militares por envolvimento na tentativa de golpe de Estado no Supremo Tribunal Federal (STF). A Agência Pública apurou que, no Senado, Tagliaferro alegou através de conversas vazadas de seu celular que o ministro teria forjado relatórios para justificar operações e prisões de aliados do ex-presidente. Atualmente nos Estados Unidos, Allan do Santos também tem prestado apoio para que o ex-assessor se junte a ele e outros bolsonaristas, a fim de seguir a empreitada de sancionar ministros e autoridades brasileiras.
🍂 Meio ambiente
Indígenas Munduruku estão sob tensão devido a falhas estruturais de uma barragem da Usina Hidrelétrica de Colíder, no rio Teles Pires, no norte de Mato Grosso. O Ministério Público Federal (MPF) abriu uma investigação para apurar as alterações bruscas no nível do rio, como a subida de mais de dois metros seguida de grande redução em poucos dias, e os impactos para as comunidades indígenas e tradicionais da região. Segundo O Eco, a movimentação do MPF veio após uma denúncia de lideranças indígenas sobre a “repentina cheia do rio”. Em nota, a Associação DACE, que representa os Munduruku do baixo Teles Pires, denuncia riscos iminentes às aldeias e cobra uma comunicação transparente sobre a situação. Em caso de rompimento, haveria um efeito em cadeia em quatro grandes hidrelétricas. Além disso, eles relatam mortandade de peixes, ameaça a tartarugas, água turva e insegurança alimentar devido à dificuldade de pescar.
📙 Cultura
Um espaço definitivo para as obras de Jorge Selarón: é o que buscam o Consulado do Chile e a Liga de Guias de Turismo do Rio. O artista chileno, morto em 2013, deixou 370 obras, fotografias, rascunhos, azulejos e objetos pessoais. Mas sua maior obra está a céu aberto – ele é autor da Escadaria Selarón, um dos cartões-postais da cidade do Rio de Janeiro, na Lapa, que recebe cerca de 12 mil turistas por dia. O Diário do Rio resgata a história da escadaria: recém-chegado ao bairro nos 1990, Selarón decidiu recuperar por conta própria os degraus da escada que fazia parte de seu cotidiano. Entre tintas e azulejos, o artista vendia quadros para financiar a revitalização do lugar.
🎧 Podcast
As artes são exclusivas da subjetividade humana, mas a inteligência artificial tem se inserido nesse campo, mesmo diante da dificuldade de criar obras autênticas e inovadoras. A “Rádio Escafandro”, produção da Rádio Guarda-Chuva, mergulha na arte produzida por robôs e o futuro da criatividade humana. A artista visual brasileira Vanessa Rosa, por exemplo, tem borrado essas fronteiras ao usar recursos de IA, que representam a contemporaneidade e a tecnologia, na aplicação a um dos símbolos mais ancestrais da humanidade – a escultura de cerâmica –, como forma de interligar futuro e passado.
🙋🏾♀️ Raça e gênero
“Na discussão da parditude, a relação entre as categorias ‘pardo’ e ‘índígena’, que envolve questões históricas e sociais complexas, acaba sendo esquecida”, afirma a designer e pesquisadora Kath Xapi Puri. “A menção ao termo ‘pardo’ neste território aparece pela primeira vez na carta de Pero Vaz de Caminha, descrevendo a cor dos povos encontrados na costa brasileira. Essa palavra também aparece no primeiro Censo brasileiro, realizado em 1872. Até 1991, o Censo não possuía a categoria ‘indígena’, e essas populações eram enquadradas como ‘caboclos’ ou ‘pardos’ a depender do ano.” Em coluna na revista AzMina, Puri resgata o apagamento indígena no debate sobre a identidade “parda”, sobretudo nas estatísticas: “O Estatuto da Igualdade Racial define a população negra como a soma das pessoas que se autodeclaram pretas e pardas. O Estatuto desconsidera a possibilidade de pardos serem descendentes de indígenas e brancos, mas os dados do Censo indicam um equívoco. A região com maior número de pardos do país é a Norte, onde historicamente ocorreu uma maior miscigenação entre indígenas e brancos, embora também haja presença negra”.