O custo do tarifaço por habitante e o avanço do mar na costa do RJ
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🔸 O governo dos Estados Unidos revogou os vistos de dois integrantes do governo brasileiro, Mozart Julio Tabosa Sales e Alberto Kleiman. O motivo: “cumplicidade com o esquema de exportação de mão de obra do regime cubano no programa Mais Médicos”. Sales é o idealizador do programa e hoje secretário de Atenção Especializada à Saúde do Ministério da Saúde. Kleiman é ex-diretor de Relações Externas da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e atual coordenador-geral para a COP30. O Jota traz a íntegra da nota do Departamento de Estado. O texto afirma que os dois usaram a Opas como intermediária para viabilizar o acordo sem seguir o rito constitucional brasileiro, contornando sanções dos EUA contra Cuba e permitindo que parte significativa dos pagamentos aos médicos cubanos fosse retida pelo governo de Havana.
🔸 Em resposta ao tarifaço de Donald Trump, o governo anunciou um plano de R$ 30 bilhões para proteger empresas brasileiras. Trata-se de uma linha de crédito subsidiado que prevê juros reduzidos e prazos estendidos para o pagamento. A FastCompany Brasil explica que o plano, batizado de Brasil Soberano, vai priorizar empresas mais dependentes das vendas para os EUA, em especial as de pequeno porte. O pacote inclui ainda fundos garantidores com aporte adicional de mais de R$ 4,5 bilhões, adiamento de tributos e crédito tributário para desonerar exportações. Outra medida é a ampliação do programa Reintegra até dezembro de 2026. Nele, as micro e pequenas empresas terão devolução de 6% do valor exportado, e as demais, de 3%. Durante o anúncio, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou: “O Brasil é um país que está sendo sancionado por ser mais democrático do que o seu agressor. É uma situação inédita e muito incomum no mundo”. Agora, cabe ao Congresso votar a Medida Provisória sobre a linha de crédito.
🔸 A propósito: as tarifas dos EUA já representam um custo de R$ 140 por habitante, considerando a linha emergencial de crédito lançada ontem pelo governo. E essa conta, segundo o Congresso em Foco, tende a aumentar. Isso porque o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que o valor do pacote de ajuda, de R$ 30 bilhões, poderá ser reajustado ao longo das negociações com Trump. Além da linha de crédito, outros gastos podem vir, por exemplo, da busca por novos mercados consumidores que possam substituir os EUA, um movimento que envolve custos com viagens de autoridades, hospedagens e aparato de relações públicas para negociar com governos e empresários de outros países.
🔸 Às vésperas da COP30, o Acordo de Paris corre risco de fracassar: a temperatura global já ultrapassou 1,5°C acima dos níveis pré-industriais entre 2023 e abril de 2025, limite que deveria ser mantido até 2050. O Colabora lembra que apenas dez dos 197 países que assinaram o acordo apresentaram no prazo novas metas de redução de emissões. Já os grandes emissores, como China, Índia, Rússia e União Europeia, ainda não entregaram. Donald Trump já anunciou que os EUA devem deixar o acordo. “A última crise climática dessa proporção foi há 120 mil, 130 mil anos, mas era um fenômeno natural. Agora, é tudo culpa do homem”, afirma o climatologista Carlos Nobre, um dos mais prestigiados cientistas do mundo. Segundo ele, se o planeta chegar a uma temperatura 2,5°C mais quente, o solo congelado das regiões Norte de países como Alasca, Canadá e Sibéria praticamente vai derreter.
🔸 Por falar em COP30… a crise de hospedagens se soma a dúvidas sobre o transporte em Belém, sede da Conferência do Clima das Nações Unidas. A mobilidade urbana é uma questão na capital paraense – a cidade não tem metrô, e obras como as do sistema BRT, com faixas exclusivas para ônibus, se arrastam há 15 anos. Ônibus, patinete e mototáxi estão no plano de mobilidade para o evento, detalha o Reset. Para facilitar o deslocamento durante a COP, haverá férias escolares em Belém, Ananindeua e Marituba, além de trabalho remoto para servidores públicos. Os participantes da Zona Azul (área oficial da conferência) poderão usar ônibus gratuitos. Para os eventos paralelos, a melhor opção devem ser os mototáxis, mas até os patinetes entram no pacote: a empresa Jet, de origem russa, disponibilizou 600 exemplares para Belém em caráter experimental por 180 dias.
📮 Outras histórias
Em Niterói, na véspera da visita de representantes do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), equipes de assistentes sociais da prefeitura – algumas acompanhadas pela Guarda Municipal – intensificaram abordagens a pessoas em situação de rua. A Agência Nossa conta que a ação foi considerada incomum por voluntários da sociedade civil. Em alguns casos, pertences foram recolhidos e descartados. Há críticas de que a “limpeza” seria motivada pela chegada da comitiva internacional. “É que amanhã vem gente importante visitar Niterói, então estão fazendo a limpa”, disse o funcionário de um condomínio do Ingá, bairro na zona sul da cidade. A visita do BID teve como foco o Programa Vida Nova no Morro, que prevê R$ 700 milhões do banco e R$ 150 milhões de contrapartida municipal, para obras de urbanização e melhorias habitacionais.
📌 Investigação
Há décadas, o mar destrói casas, ruas e a infraestrutura em Atafona (RJ), um dos distritos de São João da Barra, na costa norte do estado. Composta ao todo por seis distritos, a cidade tem mais de 36,5 mil habitantes que se concentram principalmente na sede do município e em Atafona, ambos localizados na faixa litorânea. O Eco esmiúça o processo de avanço do mar que se intensifica com a combinação de erosão costeira, o uso dos recursos do rio Paraíba do Sul e as mudanças climáticas. A erosão começou na década de 1950, com registros mais intensos desde os anos 1970. Hoje, o mar consome parte do território histórico da Ilha da Convivência. O fenômeno já engoliu casas, ruas e igrejas, e obrigou famílias a deixarem suas moradias. “Tive que sair porque o mar estava invadindo [a casa], a areia ficava em cima da janela. Aí já não tinha mais como fazer nada para comer, porque, quando vinha esse vento de cá, a areia invadia em cima das telhas, caía tudo em cima das coisas”, conta Benilda Nunes, que há sete anos teve que sair de casa por conta da ação do mar.
🍂 Meio ambiente
Na Amazônia Legal, o tarifaço de Trump pode impactar mais da metade dos empreendimentos da bioeconomia. Levantamento do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) aponta que cerca de 5,4 mil dos 11 mil CNPJs ativos da região estão nas cadeias produtivas afetadas. O Vocativo informa que, dessas empresas, 216 exportam produtos para os EUA, incluindo açaí, cacau, mel e óleos vegetais, que geraram aproximadamente US$ 165 milhões em exportações. Gabriela Savian, diretora de Políticas Públicas do IPAM, alerta: “Apesar da isenção de alguns produtos, como a castanha-do-brasil, o tarifaço tende a aumentar a pressão econômica sobre pequenos produtores e bioindústrias, justamente em um setor que ainda enfrenta dificuldades para agregar valor e competir em condições mais justas nos mercados internacionais”.
📙 Cultura
Uma das construções mais antigas de Santos (SP), o Convento do Carmo, erguido em 1640, passará por uma restauração completa. Segundo o Juicy Santos, devido ao risco estrutural, a igreja – tombada como patrimônio histórico – foi fechada em 29 de junho deste ano, depois de intimações da Defesa Civil e da Prefeitura sobre questões de segurança. A iniciativa incluirá obras de conservação, iluminação e intervenções paisagísticas, com tecnologias como escaneamento a laser, radar arqueológico e pesquisa das camadas pictóricas originais. A arquiteta Maria Valéria Affonso explica que “essa etapa é fundamental para garantir detalhes no diagnóstico, sem intervenções invasivas”. Depois dos estudos, começam as obras nos altares, retábulos e demais estruturas.
🎧 Podcast
Para entender a Amazônia, é preciso pensar além das fronteiras da COP30. Repensar o espaço urbano amazônico exige mudanças na legislação, infraestrutura e prioridades, com foco na construção de uma agenda climática que produza legados reais à população local. O “Las Niñas”, produção da Trovão Mídia, conversou com o arquiteto e urbanista Lucas Nassar, do Laboratório da Cidade, uma iniciativa de Belém que repensa o espaço urbano levando em consideração a justiça territorial e a adaptação climática. “A gente vai precisar pensar de dentro da Amazônia. Não vai poder copiar o que vem de fora. Entendendo que existe um potencial muito grande de soluções dentro da Amazônia, pelas suas especificidades, criatividade, história, e principalmente pela sua ancestralidade”, afirma o arquiteto.
✊🏾 Direitos Humanos
Maior massacre das ruas de São Paulo, a chacina de Osasco e Barueri completou dez anos. Em 13 de agosto de 2015, oito ataques coordenados deixaram 17 mortos e sete feridos em bares e ruas das duas cidades. Uma década depois, as famílias das vítimas seguem sem todas as respostas sobre os responsáveis. A Ponte relembra a noite do episódio e detalha as investigações, segundo as quais o massacre foi motivado por vingança de policiais militares e guardas civis após a morte de colegas, numa ação típica de milícia – com o uso de munição desviada da Polícia Militar, do Exército e da Polícia Federal. Ao longo dos inquéritos, testemunhas foram intimidadas e precisaram aderir a um programa de proteção. Apenas dois ex-policiais militares foram condenados: Fabrício Emannuel Eleutério e Thiago Barbosa Henklain, sentenciados a 261 anos e 253 anos de prisão, respectivamente.