As críticas de Lula ao Ibama e o impacto do calor extremo na educação

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🔸 “O que não dá é para a gente ficar nesse lenga-lenga. O Ibama é um órgão do governo, parecendo que é um órgão contra o governo.” O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou a atuação do órgão ambiental pela demora em apresentar um novo parecer sobre a exploração de petróleo na Foz do Amazonas. O Conexão Planeta lembra que Lula vem sendo pressionado por parlamentares que defendem a perfuração de poços na Margem Equatorial do Amapá. A pressão se intensificou na semana passada, quando o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil), que é do Amapá, cobrou do petista a aprovação rápida do Ibama. O órgão, por sua vez, informou que não tem prazo para responder. Em maio de 2023, os técnicos reprovaram o projeto da Petrobras e, no ano passado, quando a estatal apresentou nova licitação, os especialistas pediram complementações. Na primeira negativa, o Ibama alertou que a exploração de petróleo na região teria impacto ambiental de risco máximo.

🔸 “A indústria de combustíveis fósseis, em particular o petróleo, é a principal responsável pela emergência climática, provocando guerras, e concentração de riqueza nas mãos das grandes corporações e de seus acionistas e controladores, e de poucos Estados nacionais”, escreve o professor Heitor Scalambrini Costa, em artigo na Envolverde. Ele explica que, na prática, o Brasil já vai na contramão da redução dos combustíveis fósseis: os últimos Planos Decenais de Energia (PDE) produzidos pelo Ministério de Minas e Energia preveem o aumento na produção diária de petróleo até 2031, passando dos atuais 3,4 milhões de barris por dia para 5,2 milhões. Não bastasse isso, o país ainda batalha para conter o desmatamento, medida crucial para reduzir a emissão de gases de efeito estufa. “No Brasil, de forma direta e indireta, a agropecuária, com sua a expansão desenfreada e predatória é responsável por 75% de todas as emissões”, afirma Costa.

🔸 Falando em agro… O setor que desmata é também o que mais perde dinheiro com eventos climáticos na Amazônia Legal. Entre 1991 e 2024, os prejuízos foram R$ 36,2 bilhões na agricultura e R$ 4,3 bilhões na pecuária, revela a InfoAmazonia. Os eventos climáticos mais comuns foram inundações, incêndios e secas. O ano de 2024 foi o mais crítico da série histórica, com 1.416 desastres. A reportagem destaca que, além dos prejuízos financeiros, os eventos climáticos na Amazônia afetaram a vida de 3,5 milhões de pessoas nos últimos 33 anos. “Quando os vendavais chegam, eles arrancam toda a estrutura do telhado, das madeiras, tudo, deixando apenas a casa, sem nada”, diz Paulo Paixão, coordenador da Defesa Civil de Oriximiná, no Pará.

🔸 A propósito: o Brasil foi um dos poucos países a entregar sua nova meta climática à Organização das Nações Unidas (ONU). Somente dez das 197 nações signatárias do Acordo de Paris apresentaram o documento, informa o Colabora. Além do Brasil, o prazo foi cumprido por: Uruguai, Emirados Árabes, Suíça, Reino Unido, Nova Zelândia, Andorra, Equador, Santa Lúcia e Estados Unidos – este, pouco antes de Donald Trump anunciar a saída do acordo. Em tese, os países deveriam enviar suas metas nove meses antes da COP30, em Belém, mas a ONU vai estabelecer um novo prazo limite. Ainda assim, “as metas apresentadas até agora são, em seu conjunto, tímidas e estão longe de serem compatíveis com a estabilização do aquecimento global em 1,5ºC”, avalia Claudio Angelo, coordenador de política internacional do Observatório do Clima.

📮 Outras histórias

• Em Olinda (PE), moradores de Cidade Tabajara esperam pela construção de uma praça há 14 anos, quando veio o anúncio de um investimento federal de R$ 2,6 milhões para a construção de áreas de lazer na região. Teriam, enfim, uma praça numa das poucas áreas verdes do bairro. Mas nada foi feito. A Marco Zero conta que os moradores viram estacionar no local um caminhão da Igreja Evangélica Assembleia de Deus de Abreu e Lima. O terreno onde seria a praça foi cercado por tapumes: daria lugar à igreja – não sem protestos. Os tapumes foram arrancados. “Isso é um absurdo. Somos um bairro bastante carente, a gente já sofre por falta de saúde e educação. A gente não tem um lugar digno para as nossas crianças brincarem, esse é o único espaço verde em que já existe um projeto e a gente não vai perder para a prefeitura de jeito nenhum”, diz o morador Pedro Rogério. A prefeitura confirmou que recebeu um pedido de doação do terreno, e o processo está em análise.

📌 Investigação

• Em desastres climáticos, meninas se tornam mais vulneráveis. A ONG Proame Cedeca, que atuou durante a enchente de 2024 no Rio Grande do Sul, atendeu uma adolescente que foi vítima de violência sexual enquanto estava abrigada na casa de um familiar. O Catarinas destrincha o impacto dos eventos climáticos extremos na segurança de meninas e adolescentes, num momento em que o trabalho dos conselheiros tutelares foi dificultado. “Na enchente, o que aconteceu com frequência foram notícias de abusos nos abrigos. A gente entra nos abrigos e, realmente, o privado some. As famílias ficavam lado a lado – homens, mulheres, crianças e grávidas. Muitas mulheres com seus filhos começaram a migrar de abrigo em abrigo por causa do assédio e do abuso, mas não há um registro oficial da quantidade de casos”, diz a conselheira tutelar Terezinha Vergo.

🍂 Meio ambiente

• Mais de 115 municípios do Rio Grande do Sul já estão sob impacto da estiagem provocada pelo fenômeno La Niña, sobretudo na região oeste. Segundo os meteorologistas, o baixo volume de chuvas no estado deve permanecer até o fim de abril, informa o Sul21. Para o professor de Ecologia da Universidade Federal do Rio Grande, a estiagem é o fenômeno climático mais recorrente na região e não há uma preparação para enfrentá-lo. “Uma área cada vez maior do estado está sendo atingida e uma área cada vez maior está sendo comprometida com perdas e prejuízos no campo. A gente já sabe que o padrão climático mudou, que está tudo muito mais intenso. Então, a gente tem que começar a olhar um pouco mais para o que a gente pode fazer em razão disso, medidas de adaptação, medidas de cuidado.”

📙 Cultura

• “A essência do grafite é impactar a vida da pessoa que passa cotidianamente por aquele trabalho, levando um pouco de cor para aquelas pessoas e também conseguir fomentar a cultura, [no sentido de] poder adquirir novos adeptos, crianças e jovens”, afirma Luiz One, grafiteiro e produtor do Festival Gigantes das Ruaz. O Desenrola e Não Me Enrola conta que o projeto começou em 2024, no bairro e distrito de Perus, zona noroeste de São Paulo, a partir de um edital de fomento da prefeitura. Desde então, as pinturas têm fortalecido a identidade no território. “Uma mãe veio falar comigo, ‘obrigada por vocês fazerem isso aqui, porque eu nunca vi meu filho dar um sorriso tão grande do jeito que ele deu quando viu aquilo ali [o grafite de um menino preto] e falou que era ele’”, diz uma das idealizadoras do festival, Mariana Calle.

🎧 Podcast

• Nova secretária de Cultura de Fortaleza, Helena Barbosa tem planos para o Carnaval deste ano: descentralizar cada vez mais os festejos para além da área central da cidade. Além das grandes festas, ela pretende construir políticas de democratização da cultura. As Cunhãs recebe Barbosa, uma mulher negra jovem que fez toda sua trajetória profissional no setor cultural, atuando, por exemplo, na gestão de pontos de cultura. Ela conta que conversou com ex-secretários da pasta para ouvir as boas experiências e os desafios que enfrentaram.

👩🏽‍🏫 Educação

• O calor extremo compromete o desempenho escolar dos estudantes, além de impactar a saúde de alunos e professores. De acordo com um artigo publicado em 2024 pelo Centro sobre a Criança em Desenvolvimento da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, as perdas de aprendizagem aumentaram em até 50% quando as temperaturas em dias letivos ficavam acima de 38°C, em comparação com dias acima de 32°C. A Repórter Brasil destaca que diante da crise climática medidas de enfrentamento ao desconforto térmico na educação são ainda mais urgentes para garantir o desenvolvimento do corpo e do cérebro de crianças e adolescentes.