A crise de segurança pública e a identidade queer no Brasil
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🔸 O grupo de brasileiros que aguardava para deixar a Faixa de Gaza está na lista para cruzar a fronteira com o Egito hoje. Segundo a CartaCapital, as 24 pessoas serão acompanhadas pela Embaixada do Brasil até o aeroporto em Cairo, onde um avião da Força Aérea já as espera para a volta ao país. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pode receber os brasileiros no aeroporto, uma demonstração da relevância diplomática do resgate. Sua presença no local, porém, ainda não foi confirmada.
🔸 O diplomata Mauro Vieira foi atuante nas negociações com o chanceler de Israel. Vieira era embaixador nas Nações Unidas quando Jair Bolsonaro (PL) assumiu a Presidência. Ele, então, foi transferido para um posto menos relevante, na Croácia. A revista piauí narra o percurso do diplomata até o posto de ministro das Relações Exteriores do governo Lula, no qual assumiu uma postura conciliatória. Se evita revanchismos, também recebe críticas internas pela falta de punições a apoiadores do governo anterior. Alguns deles foram até mesmo nomeados para postos estratégicos, como Carlos Alberto França, no Canadá, e Nestor Forster, em Vancouver.
🔸 “A crise da segurança se tornou também uma crise de imagem para Lula, e governos de esquerda que carregam a pecha – não sem razão – de não saber lidar com o tema. Somado a tudo isso, o decreto da Garantia da Lei e da Ordem (GLO) é visto como uma ação que mais uma vez empodera militares”, escreve Cecília Olliveira, no Intercept Brasil. Para ela, a segurança pública precisa de soluções urgentes e de médio e longo prazo. A jornalista e fundadora do Instituto Fogo Cruzado conversou com cinco especialistas e pediu a cada um para apontar três medidas prioritárias para mudar a segurança pública no país. O controle das polícias e o fim da guerra às drogas estão entre as ações indicadas.
🔸 A propósito e em vídeo: com números sobre os tiroteios cada vez mais frequentes na zona oeste e em outros pontos da capital fluminense, Cecília Olliveira detalha, no Instagram do Fogo Cruzado, a crise de segurança no Rio de Janeiro. Ela destaca que, somente neste ano, 24 crianças foram baleadas no Grande Rio.
🔸 Registrar um recém-nascido é um desafio para famílias indígenas no Brasil. Os cartórios, por exemplo, recusam-se a aceitar nomes escolhidos pelos pais ou exigem o Registro Administrativo de Nascimento de Indígena (Rani) para comprovar a origem indígena. Em artigo no Le Monde Diplomatique Brasil, advogados do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) contam que, embora exista uma regulamentação para o registro de indígenas, os obstáculos persistem. A recusa de nomes escolhidos viola o direito dos pais à livre escolha e evidencia a discriminação contra os povos indígenas. Já a exigência do Rani só é válida em casos de dúvida fundamentada. A demora burocrática resulta em meses sem registro oficial para os recém-nascidos indígenas.
📮 Outras histórias
Para um trabalhador nordestino, comer fora de casa implica em comprometer quase R$ 1 mil todo mês, ou o equivalente a 72% do salário mínimo. O cálculo foi feito pela Agência Tatu a partir de dados da pesquisa Preço Médio da Refeição Fora do Lar, encomendada pela Associação Brasileira das Empresas de Benefícios ao Trabalhador (ABBT). A refeição fora de casa no Nordeste custa em média R$ 43,55 – a segunda mais cara depois do Sudeste. Já o preço entre os estados nordestino varia muito: em Natal (RN), come-se a refeição mais cara da região (média de R$ 51,86), enquanto em Teresina (PI) a média sai por R$ 33,22, a segunda mais barata do país.
📌 Investigação
Em Manicoré, no sul do Amazonas, o garimpo ilegal carrega impactos devastadores para a saúde das comunidades ribeirinhas. A atividade contamina os peixes do rio Madeira, principal fonte de alimento da população, com mercúrio, que somada à estiagem tem agravado doenças. “A seca também contribui para essas doenças agudas como a diarreia, porque a água vai ficando mais escassa, o rio vai ficando mais ‘concentrado’ com todo esse tipo de problema”, diz a médica Suzyane Sefarty do Rosário. O Eco revela ainda que o período de aumento do garimpo ilegal em Manicoré, nos últimos três anos, coincide com o crescimento de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), especialmente os casos de sífilis adquirida.
🍂 Meio ambiente
Organização francesa que cobra responsabilidade de agentes financeiros sobre o meio ambiente e os direitos humanos, a Sherpa protocolou uma denúncia no Ministério Público da França contra os bancos BNP Paribas, Crédit Agricole, BPCE e AXA por financiarem a JBS e a Marfrig, no Brasil, e acusa as instituições financeiras de lavagem de dinheiro. O pedido de investigação aponta para a relação desses frigoríficos com o desmatamento ilegal e o trabalho escravo. Segundo a Repórter Brasil, entre 2013 e 2021, os quatro bancos realizaram investimentos no valor de quase 70 milhões de dólares nas duas empresas de pecuária.
A propósito: o desmatamento e o modelo de criação de gado são os principais responsáveis pelas emissões de gases de efeito estufa no país. Um estudo do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG) mostrou que o setor de alimentos respondeu por mais de 70% dessas emissões no Brasil em 2021. No mundo, o setor não passa de 30%. O “Economia do Futuro”, produção da Rádio Guarda-Chuva, conversa com David Tsai, coordenador do projeto SEEG do Observatório do Clima, para entender como a agropecuária no modelo atual está conectada com as mudanças climáticas.
📙 Cultura
O Circuito Penedo de Cinema, na próxima semana, reabre o Cine Penedo após 40 anos de inatividade do aparelho cultural. Localizado em Penedo (AL), no Baixo São Francisco, o local foi pioneiro e funcionou entre as décadas de 1950 e 1980. À revista Alagoana José Luiz Passos, o seu Luiz, ex-operador cinematográfico do Cine Penedo, compartilha memórias da época em que o cinema era o epicentro cultural da região. “Pouca gente aqui [em Penedo] sabe o que é um filme, porque o cinema fechou em 93. De lá pra cá, quantos milhares nasceram? E não conhecem, não sabem, não viveram”, lamenta.
🎧 Podcast
Um único esquecimento foi capaz de fazer o que 34 processos judiciais não conseguiram: que o jornalista Lúcio Flávio Pinto parasse de fazer jornalismo. Depois de mais de 50 anos cobrindo a Amazônia e milhares de textos publicados, o repórter acordou no meio de uma noite lembrando de um detalhe que tinha passado despercebido. O “Rádio Novela Apresenta”, podcast da Rádio Novelo, narra qual foi o ponto de virada da história de Lúcio no jornalismo, depois de anos lidando com figuras poderosas, como fazendeiros e políticos.
💆🏽♀️ Para ler no fim de semana
“Há várias perspectivas dentro dos estudos queer questionando se pode ser considerada uma identidade ou não. A verdade é que não há uma resposta certa para essa questão, mas diferentes pontos de vista”, escreve a jornalista Louise da Campo, em artigo ao Portal Catarinas. Mestre em Gênero e Mídia, ela reflete sobre a teoria queer e as contradições enumeradas por especialistas. “Pesquisadores que defendem que queer não pode ser considerada uma identidade argumentam que a razão é a natureza disruptiva e subversiva. Queer é, portanto, uma posição ou lentes para questionar normas e categorias relacionadas não apenas a gênero e sexualidade.” O texto também traz as diferenças de percepção sobre o tema no Norte e Sul globais.