A crise diplomática com Israel e os empresários contra os Pataxós
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
🔸 O governo brasileiro chamou de volta o embaixador do país em Tel Aviv, Frederico Meyer. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também convocou reunião com ele e com o embaixador de Israel em Brasília, Daniel Zohar. A convocação ocorre em resposta à ação do governo de Israel – o país chamou Meyer para uma reunião no Museu do Holocausto, em Jerusalém, depois de Lula comparar as violações de direitos humanos cometidas pelo exército israelense na Faixa de Gaza aos crimes de Hitler contra os judeus no Holocausto. O Congresso em Foco conversa com especialistas em Relações Internacionais sobre a crise e a diplomacia brasileira. Conselheiro de Lula, o ex-chanceler Celso Amorim afirma que o presidente não vai pedir desculpas e diz que, por causa do massacre em Gaza, Israel está se isolando cada vez mais.
🔸 A Polícia Federal (PF) intimou Jair Bolsonaro (PL) a depor nesta quinta-feira. Quer ouvir o ex-presidente sobre as suspeitas de uma tentativa de golpe de Estado. A defesa do ex-presidente, porém, já informou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que ele não vai comparecer, informa o Portal Terra. O motivo? Bolsonaro quer ter acesso ao conteúdo dos celulares apreendidos durante a Operação Tempus Veritati, deflagrada contra ele e seus aliados.
🔸 Depois de sofrer uma tentativa de homicídio e denunciar, um homem negro terminou detido pela Brigada Militar, em Porto Alegre (RS), no último sábado. O entregador Everton Goandete da Silva foi atacado por um homem com uma faca quando estava com colegas de trabalho numa esquina. O Sul21 conta que, no domingo, um ato antirracista reuniu reuniu centenas de pessoas na capital gaúcha. Também entregador por aplicativo, Jean Clezar, diretor do Sindicato dos Motociclistas Profissionais do RS, afirmou: “É muito difícil a gente ir a Brasília, protestar contra os aplicativos, quando o nosso agressor também está aqui do lado de casa. Nosso agressor talvez seja o Estado – não só as plataformas digitais, mas também o Estado, que precariza nosso trabalho. Que faz um negro ser morto”. Ontem, os dois policiais que detiveram Everton foram afastados temporariamente da Brigada Militar.
🔸 Falando em entregadores e aplicativos: a primeira turma do STF formou maioria para afastar o vínculo entre um trabalhador e a plataforma Rappi. O ministro Cristiano Zanin, relator do caso, cassou uma decisão do Tribunal Superior do Trabalho (TST) que reconhecia a relação trabalhista. O Jota explica que o argumento de Zanin é que o STF já entendeu ser possível a terceirização de qualquer atividade econômica. Por enquanto, Alexandre de Moraes e Cármen Lúcia acompanharam o voto do relator. A decisão pode se tornar mais um precedente na Corte e indica que o Supremo deve afastar o vínculo trabalhista entre entregadores e plataformas.
🔸 Já são mais de 653 mil os casos de dengue no país. Segundo o Ministério da Saúde, foram registradas 94 mortes em decorrência da doença e ainda há 438 óbitos em investigação. Em meio à alta de casos, aumenta também a desinformação, com a disseminação, por exemplo, de falsos tratamentos que prometem cura, teorias conspiratórias e medidas de prevenção sem fundamento científico. A Lupa reúne o que já foi verificado sobre a doença, de receitas de chás milagrosos a mentiras sobre a vacina.
📮 Outras histórias
Desde que sofreu um ataque racista, a professora Gláucia Vaz passou a andar com seguranças. Docente de Biblioteconomia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ela foi alvo de um aluno, em julho do ano passado: “Ele falou que, ainda que fosse uma mulher – ele usou isso: ‘uma mulher loirinha dos olhos azuis’ –, eu continuaria sendo perseguida e odiada pelas pessoas”, lembra. O caso caminhou a passos lentos. A investigação começou em outubro, depois de um ato dos estudantes em defesa da professora. E só agora, sete meses depois do ataque, o conselho da universidade decidiu pela expulsão do estudante. Ao Matinal ela afirma que, se o foco está no caso do aluno que a agrediu, “ninguém conhece outras violências perpetuadas dentro da instituição”.
📌 Investigação
Com atuação semelhante a de milícias armadas, empresários do cacau vêm realizando o que chamam de ações de “reintegração de posse” em áreas ocupadas por indígenas na Bahia. Conhecido como Invasão Zero, o grupo é liderado pelo produtor de cacau e pecuarista Luiz Henrique Uaquim da Silva que, desde 2009, tenta impedir a demarcação da Terra Indígena Tupinambá de Olivença. De 2012 para cá, mais de 30 indígenas Pataxó Hã Hã Hãe foram mortos na região – o crime mais recente aconteceu em janeiro, quando a liderança Nega Pataxó foi atingida com um tiro no abdômen disparado por um fazendeiro do Invasão Zero. A Repórter Brasil revela como surgiu e como atua o grupo formado por cacaueiros e representantes da pecuária, da construção civil e do turismo.
🍂 Meio ambiente
A reedição do decreto que previu a criação do Plano de Desenvolvimento Agropecuário do Matopiba – Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – em novembro de 2023 revela a intenção do governo federal de incentivar a expansão da fronteira agrícola no Cerrado, principal causa de desmatamento do bioma. A Eco Nordeste compara os decretos de 2015 e 2023 e explica o que eles significam na prática. “Assim como em 2015, a edição desse decreto ‘formaliza’ o apoio governamental aos investimentos privados no Matopiba, portanto, ‘muda a postura política’ em relação à região, considerando que, no governo anterior, os apoios públicos por meio do Ministério da Agricultura e Pecuária foram direcionados para outras regiões”, afirma Sérgio Sauer, coordenador do Observatório do Matopiba e pesquisador da Universidade de Brasília (UnB).
📙 Cultura
Do lado esquerdo do rio Tamitatoala, fora do Território Indígena do Xingu, no Mato Grosso, está a Gruta de Kamukuaká, sagrada para os Wauja. Embora seja reconhecida como sítio arqueológico e tenha sido tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a caverna segue ameaçada, principalmente por obras de infraestrutura. O Nonada conta que os indígenas têm dificuldades para acessar o espaço, cercado por fazendas. “A gruta é um lugar que tem uma história viva. A gente vai lá para ver nossa história, de onde a gente veio. O lugar é sagrado para nós, e a gente dá muita importância e tenta proteger para o futuro”, diz Yakuipu Waurá, presidente da Associação Indígena Sapukuyawa Arakuni.
🎧 Podcast
Diferente do imaginário popular construído pelo machismo estrutural, mulheres também estão embarcadas em plataformas de petróleo, trabalham em alto mar e possuem vasta experiência técnica para operar maquinários. O “Lendárias & Portuárias”, produção do Juicy Santos, conversa com a primeira mulher operadora da praça de máquinas, Daniela Andrade, e uma experiente supervisora na área de manutenção, Lidiane Cruz. Ambas são mulheres negras desafiando os estereótipos raciais e de gênero no setor.
🧑🏽🏫 Educação
Com o objetivo de preparar estudantes periféricos para os vestibulares, cursinhos populares da Região Metropolitana de São Paulo, como o Projeto Raiz e o Cursinho Comunitário Milton Santos, estão com inscrições abertas. Eles atuam como ferramenta para derrubar barreiras sociais e promover mais inclusão no ambiente acadêmico, fomentando o acesso, sobretudo, à educação pública. A Periferia em Movimento lista 12 dessas iniciativas com detalhes sobre a história e o funcionamento delas, além de informações sobre como se inscrever.